Evolução do mercado de segurança e o futuro

CEO da ISS compartilhou sua experiência no setor de mais de 25 anos e o que a empresa está preparando para os próximos anos

Por Fernanda Ferreira

Monitoramento inteligente, aprendizagem profunda, automação, IA, drones e até prever o futuro. Esses são alguns dos temas discutidos pelo mercado de segurança em todo mundo atualmente. Para entender como saímos de soluções analógicas para sistemas futuristas em tão pouco tempo, conversamos com Aluisio Figueiredo, CEO da ISS – Intelligent Security Systems, empresa que já previa essa revolução duas décadas atrás.

Revista Segurança Eletrônica: A ISS tem atuado no Brasil e no mundo com soluções que apresentam algoritmos avançados que proporcionam um alto nível de IA e análise profunda. Esse tipo de tecnologia é considerada relativamente nova no Brasil e vemos algumas empresas ainda engatinhando nessa questão. Como a ISS avançou tanto nessa área tão cedo? Vocês enxergaram esse movimento do mercado antes?

Aluisio Figueiredo: Essa questão na verdade é a gênesis do motivo que a ISS tem crescido tanto nos últimos anos. Em 2023, iremos completar 26 anos de atuação, e nessas quase três décadas sempre estivemos à frente do nosso tempo. Logo no começo da nossa jornada nós criamos uma plataforma robusta chamada SecurOS® , um sistema operacional para segurança, e essa plataforma já tinha analíticos de vídeo no seu DNA desde a criação da primeira versão. Para se ter uma ideia, em 2003, enquanto o mercado falava de DVR’s e câmeras analógicas, nós já fazíamos reconhecimento de placa com câmera preto e branco.

A ISS é uma empresa privada, sem investimentos externos e conta com dois sócios, eu e o CIO, Roman Jarkoi, que tem bastante bagagem de analíticos em sua carreira. Por isso, quando criamos a ISS, já tínhamos essa visão de que o vídeo analítico seria o futuro, porém infelizmente durante esse processo, muitas empresas entraram no mercado prometendo – naquela época – coisas impossíveis, o que deixou o segmento com um gosto amargo na boca.

Ao longo desses 26 anos fomos escutando os clientes, entregando projetos, coletando materiais e guardando na nossa base de dados. Hoje, temos milhares e milhares de petabytes de informação que utilizamos para treinar o sistema. Realmente já naquela época nós enxergávamos o potencial dos analíticos de vídeo e continuamos desenvolvendo e investindo na solução.

Outro pilar importante é escutar os clientes, estar perto, para entender qual o problema e como resolvê-lo, dessa forma conseguimos tomar decisões estratégicas, como investir em funcionalidades, entre outras ações. Atualmente estamos em 19 países do mundo, esses escritórios não estão lá apenas para vender, mas para escutar o que os clientes falam, prestar o devido suporte e desenvolver funcionalidades necessárias, e conseguimos mostrar nossos frutos através de centenas de projetos exitosos.

Também investimos constantemente em patentes. Vejo muitas empresas entrando no mercado e falando que tem a melhor funcionalidade de algo, mas não tem patente, não tem projeto, e colocar uma solução para funcionar em um projeto real é muito diferente dos testes de laboratório. Somos uma empresa focada em fazer acontecer no campo de batalha, estamos sempre desenvolvendo, testando e na hora que está pronto colocamos no mercado.

Durante a ISC West, que aconteceu recentemente em Las Vegas, um dos comentários feitos pela Associação de Segurança é que hoje a ISS é considerada a maior empresa de analítico fora da China, isso é o prêmio de tantos anos trabalhando e desenvolvendo nossa tecnologia baseada em Inteligência Artificial (IA).

Revista Segurança Eletrônica: Em apenas poucos anos, o mercado de segurança passou de soluções analógicas para monitoramento inteligente, análise de comportamento e drones. Como você vê essa evolução de tecnologias, tanto no Brasil como em outros países?

Aluisio Figueiredo: O analógico atingiu o seu pico no começo dos anos 2000 e até hoje está no mercado, é uma tecnologia que não está morta, tem as suas vantagens e desvantagens. Depois passou para o IP, os NVR’s e câmeras IP’s, onde se falou muito em megapixel, mais resolução, virou uma briga das empresas de hardware sobre quem tinha mais resolução. Hoje enxergo esse mercado como uma commodity, com empresas de hardware querendo entrar no segmento de software, mas na verdade o caminho está nas empresas de softwares desenvolvendo hardwares para colocar seus algoritmos nos equipamentos.

Um exemplo de evolução é o Under Vehicle Surveillance Systems (UVSS), que é aquela câmera que vê embaixo de um veículo quando ele passa nos postos de checagem. Nós fornecemos essa solução para a Copa do Mundo no Catar. Essa era uma tecnologia que usava câmera analógica, era um equipamento de uma tonelada, que tinha um monte de câmera, espelho, era algo impossível de comprar, porque era muito caro e não funcionava direito. Entretanto, nós vimos uma oportunidade, já tínhamos o software, as patentes, só faltava o hardware, então decidimos inserir toda essa tecnologia em uma câmera e criamos uma solução excelente. O que mais temos visto são empresas de hardware tentando prover software e empresas de software que estão fechando porque não conseguem achar um hardware para colocar sua tecnologia. Por isso, nós criamos a nossa própria fábrica de hardware na Flórida, nos Estados Unidos, para criar equipamentos que não existem no mercado; essa evolução está sendo muito rápida.

Eu vejo esse progresso de tecnologias de diferentes modos em diferentes regiões. Na América Latina a revolução é muito acelerada, trata-se de uma região que adota novas soluções rapidamente, o mesmo movimento acontece no Oriente Médio, já nos Estados Unidos, somente agora essa revolução de analíticos está começando. No Brasil temos instalado analíticos de vídeo desde 2006, temos 65 mil câmeras na Cidade do México, além de Cancún, Bogotá, Medellín, etc. A nossa vantagem contra outras empresas é que nós trabalhamos nesses mercados que aceitam inovação há muito mais tempo, temos clientes que estão acostumados a absorver tecnologias novas e eles entendem que tem um tempo de maturação e estamos sempre trabalhando com eles.

Também desenvolvemos um VMS muito robusto, com analíticos dentro da solução, por isso não precisamos de terceiros e de integração.

Cada detalhe é importante, e se você não está falando a mesma língua do seu cliente, o resultado é catastrófico.

Revista Segurança Eletrônica: Um termo que está sendo utilizado para descrever essa era que estamos vivendo é a chamada “Terceira Onda”, que envolve robótica, dados, microprocessadores, inteligência artificial e assim por diante. Como a ISS vê esse movimento e como vocês estão colaborando para o futuro da indústria de vídeo?

Aluisio Figueiredo: Essa Terceira Onda é algo que temos falado bastante, porque percebemos que atualmente, com toda essa evolução tecnológica, parece que finalmente o mercado chegou onde nós estávamos, e estão buscando o que nós já oferecemos há alguns anos. Daqui para frente iremos utilizar toda a nossa bagagem e experiência para continuar a trazer inovação e para transpor as barreiras que existem no mercado de segurança, que ainda é extremamente conservador.

Temos visto, por exemplo, uma importante mudança sobre as estratégias em projetos de segurança. Antes, o que o gestor acreditava ser fundamental era armar os vigilantes. Hoje a informação é muito mais importante que o revólver na mão. Tentar prever onde um crime vai acontecer é muito mais importante do que sair correndo atrás do bandido dando tiro. Esse é o ponto principal, usar a tecnologia e a inteligência para prever possíveis situações em que um crime possa acontecer.

No segmento de transporte, por exemplo, estamos trabalhando com uma empresa de São Paulo, para prever em quais pontos da rodovia há mais probabilidade de acontecer um acidente. Para isso, temos detectado, com a ajuda de sensores e câmeras, formas de evitar acidentes nos trechos mais perigosos.

Para resolver outras dores dos clientes, utilizamos também tecnologias acopladas a outros sensores, que não necessariamente são de segurança, mas que podem nos dar informações que nos permitem fazer correções e estudar variáveis. Trata-se de uma evolução da análise de dados estruturados e não estruturados, segmento que a ISS tem investido bastante. Talvez para o segmento bancário, o mais importante é buscar a face para detectar possíveis ações criminosas, mas para um shopping a mesma tecnologia pode ser aplicada para identificar clientes mais frequentes ou VIP’s e assim oferecer descontos ou um atendimento diferenciado. A mesma tecnologia pode ser usada tanto para prever crimes quanto para aumentar a receita da empresa.

Revista Segurança Eletrônica: Atualmente, a ISS está focada em quais verticais de atuação?

Aluisio Figueiredo: Atuamos em Cidades Seguras desenvolvendo soluções inovadoras; também no segmento de Transporte, abrangendo congestionamentos, acidentes, monitoramento rodoviário; Infraestrutura Crítica, como usinas de energia, parques solares, hidrelétricas e nucleares, refinarias, óleo e gás, porto, penitenciárias, locais que precisam estar sempre funcionando, 24 horas por dia e no setor Bancário também temos muitos clientes, esses são as principais verticais que estamos presentes.

Revista Segurança Eletrônica: Recentemente a ISS participou de um projeto inédito de mobilidade urbana em Fortaleza, com a solução SecurOS Soffit. O que é e como funciona essa solução?

Aluisio Figueiredo: Nós temos uma mente muito fértil na empresa e acho que uma das características que vejo é que como temos muita gente em muitos lugares do mundo, quando junta esse caldeirão de ideias, nós começamos a entender quais são os reais problemas que os nossos clientes têm pelo mundo.

Existe uma iniciativa global chamada Vision Zero, que visa implementar uma série de medidas de segurança viária visando reduzir a zero o número de fatalidades no trânsito. Mas como fazer isso acontecer? Com sinalização, semáforo, educação de pedestre e ciclistas, etc. Da nossa parte, começamos a ver como esses acidentes acontecem e identificamos que a maioria deles ocorrem em cruzamentos não regulamentados, onde não tem um semáforo e há baixa luminosidade, tornando o pedestre praticamente invisível. Também é provado cientificamente que dirigir por muitas horas reduz a atenção do motorista, o que aumenta a chance desses acidentes acontecerem.

A nossa ideia foi usar inteligência artificial e criar um produto que detecta o pedestre sem apertar um botão e sem ter luminosidade, e uma vez que o sistema detecta o pedestre, ele acende a luz em cima dele, ou seja, a pessoa que está dirigindo, mesmo que não esteja prestando atenção, vai ver uma luz em cima da pessoa, bem adiante, antes de qualquer outro evento, aí ela tem o tempo necessário para reduzir a velocidade ou até parar o veículo antes de acontecer o acidente.

Novamente o algoritmo já estava criado, as patentes já estavam nas nossas mãos e criamos um hardware que faz o que estava na nossa ideia, detectar o pedestre e usar esses feixes de luzes para identificar as pessoas que estão se movimentando na faixa. Isso foi um sucesso tremendo em Fortaleza, um projeto inovador e agora estamos instalando pelo mundo.

O SecurOS Soffit te dá uma ideia do que é a ISS, é um excelente exemplo de inovação, software e hardware trabalhando juntos para o bem específico, nesse caso o pedestre.

Revista Segurança Eletrônica: Quais são os planos futuros da empresa em relação ao Brasil?

Aluisio Figueiredo: Apesar de sermos uma empresa estrangeira, eu sou o sócio majoritário da ISS e sou brasileiro. Tenho no meu coração um ponto fraco pelo Brasil, e quero devolver tudo o que o país me proporcionou. De todos os mercados em que atuamos, esse é o que eu mais me envolvo pessoalmente e é por razões particulares: sou formado na USP, o governo financiou toda a minha formação científica, sou muito grato a isso e acho que tenho que devolver esse investimento que foi colocado em mim.

Acabamos de aumentar nosso escritório, estamos sempre contratando no país e vamos continuar investindo, crescendo o nosso time aqui, prestando suporte especializado, ficando perto do cliente, essa é a nossa prioridade. Não é só a tecnologia, as pessoas fazem a diferença dentro desse processo.

Revista Segurança Eletrônica: Gostaria de deixar um recado final para os nossos leitores?

Aluisio Figueiredo: Gostaria de reiterar o comprometimento da ISS com o Brasil. Somos uma empresa estrangeira brasileira e vamos continuar aumentando o time de desenvolvimento, suporte e vendas. Temos portas abertas com todos os clientes e parceiros, isso é uma marca registrada nossa e vamos continuar envolvidos no mercado do Brasil.

O segundo ponto é agradecer a todo o nosso time local e aos nossos clientes e parceiros integradores, com certeza a empresa não é nada sem eles.

O futuro é inovação, esse DNA da ISS é o que nos coloca à frente das outras empresas que estão nesse mercado e essa energia vai continuar. Vocês nos verão nas feiras que estão por vir, principalmente a ISC Brasil, e vamos continuar essa jornada juntos. A forma que fazemos negócio é sempre através de parceiros, não fazemos contratos direto com clientes finais, mantemos a nossa estrutura e não temos nenhuma estratégia em mudá-la, vamos continuar do mesmo jeito, respeitando a cadeia de vendas e inovando sempre.

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