AutoDefesa Brasil utiliza IA para maximizar a proteção e oferecer soluções que realmente importam para seus clientes
Com uma visão diferente sobre como os gestores de segurança devem atuar, Nelson Santini compartilha como a empresa foca na segurança e geração de valor real para a resolução de problemas
Por Fernanda Ferreira
Desde sua fundação em 2017, a AutoDefesa Brasil tem se consolidado como uma referência no mercado de segurança eletrônica, principalmente pelo seu modelo de atuação ousado, em que compartilha os riscos com o cliente, caso o seu projeto de segurança seja violado. Sob a liderança de Nelson Santini, a empresa focou nos últimos anos em aprimorar sua engenharia de projetos e na entrega precisa das soluções oferecidas, estabelecendo um novo padrão de excelência no setor.
Nesta entrevista, Santini compartilha como a AutoDefesa Brasil expandiu sua atuação, especialmente em projetos desafiadores como a proteção de malhas ferroviárias, e discute o papel crucial da inteligência artificial na criação de valor para os clientes. Santini também faz uma análise crítica do mercado e revela os planos ambiciosos da empresa para o futuro.
Revista Segurança Eletrônica: Nossa última entrevista aconteceu em 2021, em um momento em que compartilhou conosco o case de sucesso realizado pela AutoDefesa Brasil em todas as agências do Banco Santander. De lá para cá, o que mudou na empresa?
Nelson Santini: De 2021 para cá, nós aprimoramos a nossa capacidade de entregar projetos. Reduzimos um pouco o foco na área comercial para realmente nos concentrar na qualidade da engenharia de projetos. Nós chegamos a conclusão que o mais importante nesse setor, é acertar o escopo técnico que vai virar um projeto executivo. Nós também organizamos a equipe de pré-vendas que envolve todo um time de engenharia, para sermos assertivos na questão de mensuração, precisão quantitativa, infraestrutura e agora estamos em um patamar de excelência nesse quesito.
Além disso, organizamos o fluxo financeiro e operacional da empresa, para termos melhor capacidade de entrega logística. Dentro de um projeto aprovado a quatro mãos, a nossa e do cliente, nós temos obrigação de entregar, com pouquíssima variação, o que foi vendido para o cliente. Assim, a nossa energia inteira nos últimos três anos foi em cima disso.
Revista Segurança Eletrônica: Para os leitores que ainda não conhecem a AutoDefesa Brasil, poderia explicar quais são as principais soluções que a empresa oferece?
Nelson Santini: Acredito que poucas empresas do mercado de segurança conseguem entregar com qualidade o que ofertaram para os seus clientes, até porque é um setor muito desregulamentado, automaticamente tem muito CNPJ e todo mundo acha que consegue fazer esse trabalho, porque na lógica é algo simples: eu compro uma câmera e instalo. Tem muitos eletricistas, muitas pessoas que não são da área, à frente de empresas de segurança, e que não entendem o propósito da proteção, da prevenção, e estão concorrendo no mercado.
Isso posto, nós da AutoDefesa Brasil, somos uma empresa comum que está tentando fazer o certo, que é vender para o meu cliente proteção. Nós não somos vendedores de câmeras, não somos distribuidores de alarme, somos uma empresa que vende a proteção para o cliente.
E para isso temos que resolver as dores de segurança do perímetro pra dentro, e conseguimos isso ao conhecer muito de infraestrutura. Assim nós nos especializamos em todo tipo de cercas elétricas, câmeras com analíticos que fazem barreira virtual, sensores sísmico, radares; tivemos que nos aprofundar na questão da porta do cliente, envolvendo desde cancela, catraca, torniquete até o controle de acesso efetivo com qualquer tipo de biometria, integrando, às vezes, o modelo do veículo e a leitura de placa. Então nós protegemos o perímetro, na sequência protegemos a porta, e depois criamos procedimentos de controle de imagens e censuramento de setores sensíveis dentro da empresa, do condomínio, do banco.
Para proteger o cliente, eu tive que especializar a empresa, o que envolve controle de acesso, câmera, alarme, perímetro e todos os analíticos que dão uma gestão mais eficiente, mas eu acredito que o mercado não faz essa proteção, porque está muito focado em vender produtos.
Além disso, nos preocupamos em como otimizar os recursos gastos com a segurança eletrônica para realmente agregar valor para o cliente.
Revista Segurança Eletrônica: E quais estratégias vocês utilizam para fazer isso?
Nelson Santini: Para agregar valor, na minha visão, são quatro aspectos:
1º Fazer um projeto assertivo. O cliente vai conseguir economizar e eu vou entregar, de fato, um produto funcional.
2º Mostrar o quanto o cliente vai conseguir salvar baseado nos processos que nós criamos. Por exemplo, o “save” pode ser a redução de uma ronda, de um porteiro ou a diminuição do trabalho da segurança patrimonial.
3º Fazer o cliente perder menos. Um condomínio, por exemplo, perde quando é assaltado, mas quanto uma fábrica, indústria, varejo, logística perde em coisas que são extraviadas e erros de processos? É por isso que nós compartilhamos os riscos com o cliente caso o projeto que implementamos seja violado. Nossa proposta é sempre zerar a conta de perdas, e conseguimos isso criando mecanismos analíticos, processos que garantam que ele não perca mais dentro do aspecto que a segurança eletrônica consegue fazer.
4º Utilizar os analíticos, a inteligência artificial, para gerar outros valores além da segurança para o cliente. Esse é o aspecto mais importante, o mercado fala muito disso, mas na prática, na minha opinião, ninguém conseguiu ainda colocar de pé um grande case.
A ideia é, por exemplo, chegar em uma rede de mercados e conseguir dar informação para o dono do mercado, para o gerente, sobre quais são os corredores que mais são acessados, quais são as prateleiras e produtos que as pessoas mais param para olhar, quais são os locais onde ele deveria focar a publicidade, o marketing de uma promoção, e assim por diante. Isso gera valor para ele, para o marketing dele e para a decisão dele.
Um outro exemplo de inteligência artificial versus analítico é um controle efetivo dos processos. Eu crio um processo em que só as pessoas determinadas possam entrar no frigorífico do mercado. Assim, a partir do momento que eu integrar o banco de dados com reconhecimento facial, automaticamente quando uma pessoa que não está autorizada entrar naquele local, sobe um alerta na tela. Além da segurança, nós podemos utilizar isso para um controle efetivo de estoque, por exemplo. Conseguir um mapa de estoque, usar inteligência artificial e saber que eu preciso repor garrafa de água na prateleira.
O finalmente, de qualquer projeto de segurança eletrônica, é a implantação de inteligência artificial de maneira que eu abasteça as demais áreas de uma empresa que envolve marketing, jurídico, operações, logística, suprimentos, não somente no quesito de roubar ou não roubar, mas otimizar o processo da empresa. Esse é o propósito nosso na empresa.
Revista Segurança Eletrônica: Poderia compartilhar outros projetos significativos que realizaram nos últimos três anos?
Nelson Santini: Tem um caso que é bem interessante, diferente. Nós estamos fazendo a proteção de uma malha ferroviária. Muita gente, mesmo da área da segurança, não sabe a problemática monstruosa que existe em furtos, vandalismos e na questão de logística baseado nos trens.
O trem normalmente é abastecido dentro de um porto; o porto abastece com grãos, combustível, açúcar, e então ele sobe o Brasil inteiro. E quando volta, vem com carga também, milhos, commodities no geral, para abastecer o navio em Santos, por exemplo. Existem diversas quadrilhas que atuam sabotando os trens, para furtar especificamente o vagão, ou simplesmente pela sabotagem da empresa em si. Isso impacta gravemente toda a cadeia, porque um descarrilamento, vandalismo, em uma locomotiva em Campinas, São Paulo, pode afetar a retirada de produtos no Nordeste. É um problema de logística nacional, de encarecimento dos custos dos produtos do Brasil. Baseado nisso, nós entramos com um projeto grande de implantação de câmeras inteligentes ao longo de uma malha ferroviária gigante, integradas com áudio bidirecional, corneta e sirena. Assim, se entrar uma pessoa diferente dentro do perímetro onde está rodando o trem, vai gerar um alerta automático para toda a equipe de segurança, e você ainda pode falar com o invasor, avisando que não está autorizado a estar naquela região. Também vamos colocar pórticos que fazem a leitura dos vagões do trem para mostrar se tem uma escotilha aberta ou não, porque é por aí que os criminosos podem furtar os produtos. O trem vai passando embaixo do pórtico e mostrando se o trem está inteiro, violado ou se houve alguma tentativa de abertura.
O primeiro trecho que nós vamos fazer é um projeto de 150 quilômetros em que nós colocamos um poste a cada 50 a 100 metros. É um projeto muito grande, mas a ideia é se tornar um plano nacional e abranger 3 a 4 mil quilômetros de extensão.
O projet terá também integração de todas as câmeras com um sistema de drone. Assim que nós detectarmos qualquer tipo de invasão no perímetro ou um invasor chegando perto da malha ferroviária, o drone pode voar para falar com a pessoa e verificar se é um invasor ou um sitiante, por exemplo.
É um projeto desafiador, porque vamos enfrentar diversos tipos de terreno, pedra, mangue e rio. O mais difícil é a infraestrutura do que colocar de pé realmente a tecnologia.
Revista Segurança Eletrônica: Além de projetos grandes como esse, vocês fazem ou tem interesse em fazer projetos de médio porte?
Nelson Santini: Sim! O que nós não fazemos aqui são projetos pequenos. Já têm empresas especializadas fazendo essa área e também muda a capacidade de produto, de engenharia. O nosso curso aqui não está direcionado para isso, mas eu tenho um planejamento pessoal meu de comprar empresas do segmento que façam projetos pequenos, residenciais e comércios. Hoje nós estamos focados realmente nas grandes e médias instituições que possam escalonar, porque nossa filosofia é sempre ter uma única central, e nessa central ela vai ser a controladora geral da operação. Não é uma central de monitoramento, é realmente uma central de controle operacional que reúne o CFTV, alarmes, abertura e o fechamento de porta, todos os sinistros, botão de pânico, tudo integrado em um único e mesmo local.
Se eu fosse um gestor de segurança de uma rede de lojas, por exemplo, eu estaria focado em uma coisa: criar uma única central, integrar todo o meu ecossistema dentro dela com o mesmo procedimento, com as mesmas pessoas, com o mesmo tipo de pronta resposta, com o mesmo tipo de acionamento de protocolo.
Revista Segurança Eletrônica: Como você avalia a atuação dos gestores de segurança?
Nelson Santini: Eu vejo que a maioria dos gestores que estão à frente da segurança das grandes companhias do Brasil ainda estão preocupados em adquirir novas tecnologias, em comprar novos modelos de câmeras, em saber se tem inteligência artificial ou não, ou seja, estão preocupados com uma série de fatores, menos colocar de pé um modelo de gestão com procedimentos que vão proteger a companhia dele. Nós esbarramos nisso o tempo todo. O mercado, na minha opinião, ainda está viciado. Por que o gestor e o seu time estão concentrados em saber se a fabricante X lançou uma câmera nova? Essa é uma preocupação que tem que ser do integrador.
Eu, se fosse gestor de segurança, focaria em não ser mais roubado, em bloquear o acesso de pessoas a determinadas áreas, ter as imagens gravadas por dois anos, ter um controle analítico; é assim que eu iria contratar uma empresa, mas o mercado não fala sobre isso.
As empresas que mudaram a chave são empresas que eu não quero ter ao meu lado. Os gestores que querem fazer um projeto de proteção, de redução de perdas, esse é o cliente que eu quero dentro da empresa. Agora, cliente que quer comprar câmera, esse não é comigo, ele precisa ligar na fábrica e comprar, não vai servir para nada, só vai jogar dinheiro fora.
Essa mensagem não é nem para o gestor de segurança, é para o chefe dele, para o CFO da empresa, o diretor de operações, ele tem que ter a visão, mas o mercado vai demorar ainda mais uns 10 anos para mudar a chave.
Revista Segurança Eletrônica: Quais são os planos futuros da empresa em relação a inovação, expansão e parcerias?
Nelson Santini: Nós estamos preparando um modelo de negócio em que eu consiga comprar empresas. O nosso mercado é muito lento no fluxo: venda de projeto – execução – faturamento; o modelo mais saudável financeiramente é a aquisição de empresas. Esse é o preparo que eu venho fazendo para estar pronto para comprar companhias, porque não é só ter dinheiro, tem que estar pronto para absorver o RH, o financeiro, o estoque, a metodologia, a cultura da outra empresa, assim até o final do ano estaremos prontos para comprar uma primeira empresa estruturada.
O outro plano é a implementação de políticas de inteligência artificial e analíticos que gerem valor para o cliente, como já mencionei. Esse ano nós fizemos todos os gestores da nossa empresa, cerca de 40 pessoas, para conhecerem e se aprofundarem em uma imersão de inteligência artificial, para treinar e estar mais habilitado para isso. Para nós, isso aqui não vai resolver o problema de hoje, mas pode ser que comecem a surgir soluções que realmente tragam valor e economia para o cliente. Esse é o movimento que nós estamos fazendo.
Revista Segurança Eletrônica: Falando em inteligência artificial, vocês já aplicaram algum case nessa área?
Nelson Santini: Nós já fomos aprovados em uma grande prova de conceito (POC). Colocamos bodycams (câmeras corporais) nos funcionários dessa empresa e câmeras dentro dos veículos, tanto para gravação interna quanto externa dos automóveis. O objetivo é tentar reduzir o acidente de trabalho. É uma companhia grande que sofre muito com perdas humanas devido aos acidentes de trabalho, e a detecção da empresa é que 90% das vezes foi um erro de procedimento; sabendo disso, o que ela pode fazer para tentar não errar o procedimento? A nossa POC foi a implementação de bodycams com analíticos, de maneira que assim que o colaborador desce do carro, a câmara do veículo o acompanha para ver se o caminho que ele fez era para ser feito, para ver se os botões que ele acionou era para ser acionado e se ele estava com o EPI. Se ele estava com EPI, fez o caminho correto e acionou os protocolos, a possibilidade de ter um acidente de trabalho reduz a praticamente 100%.
É um grande case que demonstra essa filosofia que expliquei: como uso a segurança eletrônica para salvar vidas, para melhorar protocolos, para tirar risco da empresa, e assim os CFOs das multinacionais enxergarem o valor do projeto de segurança, não é uma despesa, é algo que vai ajudar a companhia.
Revista Segurança Eletrônica: Falando um pouco de movimento de mercado, você também era proprietário de uma outra empresa de segurança, chamada Campseg, que foi vendida em 2023. O que te levou a tomar essa decisão?
Nelson Santini: A Campseg foi uma empresa que construí do zero e, por muitos anos, foi uma parte importante da minha trajetória empresarial. A decisão de vendê-la não foi fácil, mas foi fruto de uma análise profunda do mercado de segurança patrimonial. Esse setor, que exige altos investimentos operacionais, apresenta margens de lucro relativamente estreitas. Além disso, percebi que o mercado vinha se tornando cada vez mais competitivo em termos de preço, com muitos clientes priorizando o custo sobre a qualidade dos serviços prestados. Isso levou a uma pressão crescente por reduções de custos, o que, na minha visão, não permitia entregar o nível de qualidade e segurança que considero essencial. Com isso, decidi focar na área de segurança eletrônica, onde vejo maiores oportunidades para inovação e para a entrega de soluções de alta performance, tanto do ponto de vista financeiro quanto em termos de valor agregado ao cliente. A venda da Campseg para o grupo GPS foi um passo estratégico que me permitiu concentrar minha energia em desenvolver soluções tecnológicas que realmente fazem a diferença na segurança dos nossos clientes.
Revista Segurança Eletrônica: Para finalizarmos, gostaria de deixar um recado final para os nossos leitores?
Nelson Santini: Primeiro, queria deixar uma mensagem para os gestores de segurança. Eu tenho 20 anos de experiência no mercado, fui empresário em uma grande empresa, agora tenho outra companhia de segurança eletrônica, então acredito que tenha um pouco de habilitação para poder falar. Gestores, a hora que vocês mudarem o mindset de comprar câmera para criar projetos que vão proteger a empresa, vocês vão entregar muito mais valor para as instituições e automaticamente serão muito mais reconhecidos.
E a segunda mensagem é sobre a utilização de uma economia circular. Existe um problema mundial hoje que é o lixo eletrônico, que envolve tudo, desde celular até câmeras, computadores, mouse, e também existe o problema do lixo eletrônico que vem da segurança. Câmeras e mais câmeras, DVRs e alarmes são jogados no lixo. Ciente dessa questão, desenvolvemos na nossa empresa uma metodologia que nos permite recuperar e remanufaturar cerca de 60% desses produtos, recolocando-os no mercado com garantia de funcionamento. Oferecemos aos clientes a oportunidade de adquirir esses produtos remanufaturados, com a mesma garantia que se espera de um produto novo de fábrica. Essa prática não só contribui para a preservação do meio ambiente, reduzindo o descarte de eletrônicos, mas também viabiliza projetos que, de outra forma, poderiam ser inviáveis devido aos altos custos. Acredito que o mercado deve valorizar mais essa abordagem de economia circular, pois ela oferece uma solução sustentável e econômica, beneficiando tanto as empresas quanto o meio ambiente.
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