Radares: evolução e aplicação na segurança patrimonial
Por Engº Kleber Reis
Eles são destaque nas feiras de segurança no Brasil e no mundo, e não é por acaso! Neste artigo especial vamos mergulhar no entendimento destes dispositivos que, segundo relatos históricos, mudaram o rumo da segunda guerra mundial e atualmente estão presentes nos maiores projetos de segurança do Brasil, com objetivo de elevar o nível de entrega e performance na segurança patrimonial.
Assim como qualquer outra tecnologia a ser aplicada no mercado de segurança, é preciso conhecimento e entendimento da solução a fim de identificar os melhores cenários de aplicação para que se possa maximizar a entrega de VALOR em cada projeto específico.
O uso inadequado, a falta de conhecimento dos seus princípios básicos de funcionamento, erros no dimensionamento e a falta de alinhamento de expectativas poderão frustrar os gestores, atrasar a disseminação da tecnologia e inclusive comprometer a segurança de instalações críticas.
Não à toa, já vimos diversos relatos desse tipo em projetos de CFTV com uso da inteligência artificial, cercas, cabos sensitivos ou mesmo controle de acesso, quando mal dimensionados ou erroneamente empregados.
E posso afirmar isso com conhecimento de causa, uma vez que muito antes de me tornar sócio da Ôguen e trazer para o Brasil o primeiro radar israelense de aplicação civil da Magos há mais de cinco anos, fui instalador, revendedor, integrador e, por mais de 26 anos, senti na pele estes desafios aqui no Brasil.
Então, o israelense Hen Harel, que havia sido chefe de segurança da embaixada de Israel no Brasil, diplomata israelense em Moscou e CEO de uma renomada consultoria de segurança israelense no Brasil, com todo seu know-how na segurança ci-vil e militar, me convidou para conhecer a solução de radares. Uma tecnologia utilizada pelo exército israelense, agora dispo-nível para aplicação civil, integrada a câmeras speed dome de qualquer fabricante, integrada aos VMSs de mercado, capaz de proteger dia ou noite, sob chuva ou sol, na terra e na água, protegendo áreas superiores a meio milhão de metros quadrados. Tudo isso com um único sensor, antecipando a detecção de até 100 alvos simultaneamente antes mesmo da sua chegada ao primeiro anel de segurança. A princípio, relutei em acreditar que isso seria possível.
No entanto, logo tive a oportunidade de ver pessoalmente a solução em funcionamento aqui no Brasil, e o resultado foi surpreendente. O radar conseguiu entregar ainda mais do que havia sido prometido! A partir desse momento, iniciamos a nossa jornada na Ôguen de disseminação de conhecimento, superação dos desafios burocráticos para a homologação junto a Anatel do primeiro radar de segurança para aplicação civil no país, e muito, muito aprendizado de campo com nossos parceiros integradores, até nos tornarmos referência e benchmarking deste mercado, com projetos implantados em todas as verticais de negócios no Brasil, nos setores público e privado, com elevadíssimo nível de satisfação dos clientes finais usuários da solução.
A origem e a história dos radares
Em 1886 Heinrich Hertz descobriu que as ondas de rádio poderiam se refletir em objetos sólidos e em 1904 o físico alemão, inventor e empresário Christian Hülsmeyer foi a primeira pessoa a desenvolver um sistema que poderia usar ondas de rádio para detectar objetos sólidos, invento chamado de “Telemobiloscópio”, para evitar a colisão de navios.
Em 1934, após a Primeira Guerra Mundial, havia rumores de que os alemães estavam criando um raio da morte. Foi então que o Engº Robert Alexander Watson Watt foi convidado a investigar a viabilidade de tal ideia. Com seus estudos e experiência ele calculou que seria impossível criar um raio que pudesse destruir qualquer coisa, mas isso o levou a pensar em outros usos para as ondas de rádio.
Assim, em 1935 ele criou o primeiro sistema acessível de detecção de aeronaves usando esta tecnologia, que foi prontamente utilizada ao longo da costa britânica e permitiu que os aliados tivessem um aviso prévio de qualquer bombardeiro inimigo, o que de fato pode ter mudado o resultado da Segunda Guerra Mundial para o lado aliado.
As contribuições do inventor dos radares Sir Robert Alexander Watson Watt para o esforço de guerra foram tão significativas que em 1942 ele foi reconhecido com a maior honraria da época e nomeado cavaleiro da ordem do império britânico.
Apesar das guerras sempre estarem associadas a morte, sofrimento, miséria e perdas de todas as partes envolvidas, é inegável que elas impulsionam a indústria tecnológica com a criação de máquinas e serviços que acabam sendo incorporados algum tempo depois no dia a dia da população civil.
Dos computadores à internet, do GPS às câmeras digitais, a produção em massa de antibióticos e os serviços de ambulâncias, a rádio comunicação e os próprios radares acima citados são exemplos típicos e com histórias bem curiosas, como a do engenheiro americano Percy Lebaron Spencer que, durante os experimentos com as ondas de rádio dos radares percebeu o derretimento de uma barra de chocolates no seu bolso e, buscando explicação para o fato, inventou o forno de micro-ondas.
Mas afinal, o que são e como funcionam os radares?
Radar é um acrônimo para Radio Detection And Ranging (Detecção e Alcance de Rádio). Um sistema de radar pode ser usado para detectar a localização e a velocidade de um objeto, utilizando para isso um transmissor, uma antena transmissora, uma antena receptora e um processador.
Pulsos de radiação eletromagnética são gerados e enviados pela antena transmissora do radar e ao atingir objetos sólidos eles refletirão sobre ele, sendo que parte destes sinais refletidos são detectados pela antena receptora, que serão processados e comparados com os sinais anteriores, fornecendo informações ao usuário sobre a localização e a velocidade do objeto, além de gerar informações para integração com outros dispositivos.
No nosso caso, direcionando e movimentando automaticamente as câmeras speed domes integradas e gerando alarmes com diferentes níveis de severidade para a tomada de providências, seja pelo Centro de Comando Operacional (CCO) local ou remotamente por uma central de monitoramento.
E qual o conceito de detecção de um radar?
Assisti recentemente a uma live de lançamento de um radar realizada por um distribuidor autorizado de um fabricante do nosso mercado e, quando questionado sobre Efeito Doppler, ele disse que o radar deles não sofria interferência com este efeito.
Na verdade, o Efeito Doppler é o princípio de funcionamento dos radares, sejam civis ou militares, independente do fabricante, e entendê-lo é fundamental para que o projeto seja dimensionado de forma correta, como citei na introdução deste artigo.
Diferenciar movimentos radiais e tangenciais, analisar o vetor de movimento das ameaças, posicionar o azimute, verificar altimetria da instalação e do terreno, são requisitos básicos para dimensionar os equipamentos e definir seus posicionamentos. Sem estas informações, é como vender uma Ferrari a um cliente e descobrir depois que ele queria um veículo para ir para seu sítio, e por melhor, mais moderno ou potente que o carro seja, não atenderá suas necessidades, pois a suspensão é tão baixa que não passará na primeira valeta.
A importância do fator “tempo” na proteção patrimonial
É consenso entre os especialistas na área de segurança que o tempo é um dos fatores mais importantes na incidência de uma ocorrência, e quanto mais cedo ocorrer a detecção e o diagnóstico, maiores as chances de dissuasão, reação, contenção e efetividade da pronta resposta na proteção de bens e pessoas.
Portanto, antecipar a detecção de uma ameaça é um diferencial importantíssimo e agrega muito valor à segurança.
Como os radares ajudam neste fator tempo?
Já citei que eles foram decisivos na detecção antecipada de bombardeiros durante a Segunda Guerra Mundial, mas também nos ajudam na previsão do clima e na prevenção de desastres, no controle do tráfego aéreo mundial, na proteção de fronteiras, na detecção de ameaças, salientando que em Israel são imprescindíveis na interceptação de mísseis lançados com frequência contra sua população. Da mesma forma, sua proposta na proteção perimetral é detectar uma ameaça antes da invasão ao seu patrimônio acontecer.
Sob este aspecto os radares são disruptivos na proteção patrimonial, dado que as soluções tradicionais tentam detectar o invasor (e nem sempre conseguem) quando ele já está violando o primeiro anel de segurança, seja pulando um muro, cortando uma cerca, cavando um buraco ou após invadir a propriedade atravessando um trecho de água, seja um lago, rio ou mar.
7 benefícios de aplicar radares no projeto de proteção perimetral:
1. Detecta o invasor se aproximando da propriedade, muito antes da invasão acontecer.
2. Não precisa de luz, mantendo a alta performance de dia ou de noite em quaisquer condições de clima, inclusive fortes chuvas.
3. Coberturas de áreas externas gigantes, chegando a mais de meio milhão de metros quadrados protegidos com um único sensor.
4. Implantação rápida, precisando apenas de um único ponto IP de rede.
5. Integrável a quaisquer câmeras speed domes IPs e VMSs de mercado.
6. Redução drástica dos custos de manutenção, gerando ROI para o projeto e tornando financeiramente atraente a solução.
7. Detecção de múltiplos alvos simultaneamente (até 100 alvos por cada sensor). E quando NÃO aplicar os radares?
Os 3 principais cenários onde a aplicação dos radares não é recomendada são:
1. Áreas urbanas ou quando não houver recuo suficiente no perímetro para antecipar a detecção.
2. Corredores estreitos ou com vetor de movimento 100% tangencial.
3. Áreas de mata densa ou que não haja visada direta entre o sensor e o alvo a ser detectado.
E quais os cuidados que devemos ter na aplicação dos radares?
Como já mencionei no início neste artigo, cada aplicação requer o conhecimento da solução e clareza das necessidades da área a ser protegida.
Objetos sólidos, vegetação densa, construções nas áreas a serem protegidas podem gerar áreas de sombra para os sensores. Portanto, a altura de instalação é outro fator de absoluta atenção e cuidado, pois quando instalados baixo, além de ficarem mais restritos na visada, podem sofrer bloqueios por elementos móveis, por exemplo um caminhão na frente pode bloquear toda a visada do radar.
Outro aspecto importante de destaque, que vale tanto para os radares como para quaisquer outras soluções da área, é a comercialização, instalação e setup realizadas por empresas e profissionais certificados, capacitados para extrair o máximo potencial das ferramentas aplicadas.
E se você não quiser derreter o chocolate do bolso do seu cliente nem matar ou morrer de câncer como o inventor Percy Spencer, não deverá utilizar ou comercializar equipamentos no Brasil não homologados pela Anatel, conforme artigo 162 da lei federal 9.472/97, artigo 4º do capítulo II da resolução 680/2017 e artigo 715/2019.
Afinal, radar é tudo igual?
Definitivamente NÃO! NÃO! NÃO! Como em qualquer paralelo na nossa vida ou nos negócios existem soluções que funcionam e as que dizem que funcionam, as de alta performance e as que copiam o slogan, as que possuem qualidade e realmente entregam valor e aquelas que apenas prometem. Comparar apenas o preço de aquisição pode ser um erro do qual você se arrependerá justamente quando precisar delas funcionando.
Existem empresas sérias que respeitam o mercado, a cadeia de suprimentos e os clientes, mas tenho visto no mercado fabricantes genéricos cujos manuais originais (cuidado, às vezes os fabricantes “esquecem” de incluir informações cruciais no manual traduzido para o português) indicam a altura máxima de aplicação do sensor a poucos metros do chão, não recomendam que o sensor fique exposto ao sol, indicam uma metragem máxima “nominal” que não é atingida na prática nas condições do Brasil, e outras aberrações que infelizmente o comprador não tem ciência e acaba por tomar uma decisão equivocada achando que está pagando mais barato.
Obviamente há mercado consumidor para soluções A, B, C, mas a nossa missão é levar conhecimento para elevarmos a régua do mercado e ajudarmos na tomada consciente de decisão. Aumentar o espaço para empresas comprometidas com o resultado e não apenas com a venda a qualquer custo por quaisquer canais, que respeitam as políticas e apoiam o ecossistema com transparência e lisura só é possível com educação, disseminação de conhecimento e capacitação das empresas e dos compradores.
Considerações finais
Eu concluo este artigo com a minha visão e aprendizado de mais de 32 anos neste mercado, de que os radares são importantes ferramentas, uma evolução tecnológica na segurança patrimonial advinda da área militar, já estabelecida no Brasil e com muito espaço para se tornar protagonista de inúmeros projetos neste país de dimensões continentais nas diversas verticais de negócios, agregando valor e produzindo excelentes resultados, mas infelizmente ameaçada pela desinformação.
Você pode se juntar a nós nesta importante missão de disseminar conhecimento, provocar reflexão e ser protagonista da história compartilhando este artigo com amigos e colegas para fazermos juntos esta transformação.
Engº Kleber Reis
Engenheiro com 30 anos de experiência no mercado de segurança eletrônica. CCO da Ôguen. Instagram: @engkleberreis
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