SEGURANÇA GOURMET
O péssimo e infeliz hábito de pessoas que se julgam capazes de avaliar riscos e decidir por elementos de segurança sem o mínimo do conhecimento necessário, afetam nosso segmento com propostas amadoras e muitas vezes arriscadas. Agem como se estivessem temperando um prato a ser servido, oras colocando um pouco mais de vigilantes e câmeras, oras tirando, porque ficou muito caro. Ignoram o principal, que é a constatação da real necessidade dos elementos de segurança, baseados em estudos criteriosos de riscos; nada além do que Análise de Riscos!
Acredito que a luta de todo gestor de segurança deva ser a rejeição pelo amadorismo e empirismo em todos os locais que trabalham ou prestam serviços. Por vezes, os profissionais de segurança não têm voz ativa ou não conseguem conscientizar de forma eficaz as pessoas sobre os cuidados que deveriam ter.
Por outro lado, independente da profissão que exercem, todos acabam se julgando capazes de planejar ou opinar sobre tudo. São os ditos “especialistas” ou melhor ainda, os “Rauls Seixas” que tem opinião formada sobre tudo. Esses fenômenos ocorrem em todas as áreas e funções e não seria privilégio algum não existir em nosso segmento de segurança.
Facilmente observamos síndicos, médicos, advogados, operários, marqueteiros, políticos, etc, tecendo análises ou sugerindo mudanças para segurança dos locais, sejam públicos, privados, coletivos ou individuais. Obviamente, toda sugestão é sempre importante e bem vinda, pois o olhar sob todos os prismas faz a diferença, como diz o jargão, “pensar fora da caixa”. O ponto é que as indicações não vêm como sugestões e sim como decisões finais pelas quais não foram observados ou considerados todos os elementos necessários dos quais só profissionais capacitados, especialistas e estudiosos da área de segurança e prevenção terão capacidade de fazê-los.
Corriqueiramente nos deparamos com pessoas planejando grandes ou pequenos eventos e afirmam, só colocar tantos seguranças aqui, um pouco ali e um pouco mais lá nos fundos; ou ainda, em prédios residenciais, comerciais, ou qualquer outro local, dos quais síndicos e administradores, sem conhecer sobre análise e gestão de riscos, trazem soluções bizarras como por exemplo, achar que podem colocar um porteiro armado para trabalhar. Alguns podem até achar exagero ou devem estar pensando, o Neves está louco? Escreveu porteiro armado? Foi exatamente isso que escrevi, é tanto absurdo que já vi ao longo da minha carreira profissional, que se contasse assustaria qualquer um.
Por vezes penso que as pessoas acreditam que profissionais de segurança ou equipamentos de segurança, são como temperos, dos quais é só sair jogando que o ambiente fica com um “sabor especial”. O pior é que diversas vezes vemos contratações de segurança humana e eletrônica em razão de clausulas securitárias, ou em razão de terem sofrido algum sinistro. Nesses dois casos afastam-se os critérios de prevenção e surgem o que é mais perigoso, a tal da precificação! Sob essa ótica estamos avaliando apenas o fator preço e nos afastando da Qualidade x Necessidade.
As estratégias de segurança devem preceder a uma completa análise de risco, seja ele do local, da pessoa ou do evento a ser protegido, considerando todas as variáveis atenuantes e agravantes. Obviamente, realizado por profissional capacitado e formado para esse fim, pois por mais que um conjunto de medidas sirva para uma situação, não necessariamente servirá para outra, podendo estar aquém ou além.
Por fim, se locais não são alimentos e profissionais de segurança não são temperos, não é com empirismo que se alcança um nível adequado e equilibrado de Segurança. Proteger vidas, patrimônios e imagem, é assunto sério e não pode ser feito de qualquer maneira!
Antonio de Barros Mello Neves é Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, graduado em Administração, com especialização em Administração Pública. Possui certificações de IAT – Instrutor de Armamento e Tiro, pela ADDG, Auditor TAPA FSR 2009; Especialista em Segurança pela ABSO; CPSI – Certificado Profesional en Seguridad Internacional – pela CEAS Espanha; Curso de Operações Policiais pela SWAT USA; Exerceu atividades profissionais em empresas multinacionais de grande porte como Supervisor, Coordenador, Especialista e atualmente Gerente Corporativo de Segurança. Contatos: [email protected]