Grupo aposta no Brasil como polo estratégico de inovação e defesa

Com mais de R$ 3 bilhões investidos no país, empresa terá novas fábricas na região em 2025

Por Fernanda Ferreira

O Grupo EDGE, um dos maiores conglomerados de tecnologia avançada do mundo, escolheu o Brasil como peça central de sua estratégia global. Desde a abertura de um escritório regional em Brasília até aquisições significativas de companhias, a empresa tem reforçado o seu compromisso com o desenvolvimento de soluções inovadoras e o fortalecimento do ecossistema de defesa no país.

Em entrevista exclusiva, Tiago Silva, CEO do Grupo EDGE para a América Latina, compartilha os planos ambiciosos da empresa para a região e detalha os investimentos estratégicos, parcerias de alto impacto e tecnologias que estão moldando o futuro do setor de defesa no Brasil e no mundo.

Revista Segurança Eletrônica: Poderia detalhar quem é o EDGE e quais são as soluções da companhia?

Tiago Silva: O EDGE é um dos principais grupos de tecnologia avançada do mundo, com sede nos Emirados Árabes Unidos. Fundado em 2019, o Grupo EDGE passou de um total de 21 empresas para se tornar um conglomerado com mais de 35 empresas nos Emirados Árabes Unidos e internacionalmente.

A presença do EDGE é reforçada por um total de 13 aquisições internacionais e investimentos estratégicos. Além disso, o grupo possui mais de 14.100 funcionários e registrou uma receita anual de US$ 4,9 bilhões em 2024.

Desde sua criação, em 2019, o Grupo EDGE expandiu seu portfólio de produtos de 30 para 201 soluções de ponta (aéreas, terrestres, marítimas e cibernéticas), um crescimento rápido de mais de 550% em apenas cinco anos. Durante esse período, o Grupo EDGE também ampliou significativamente sua presença global: nossas soluções chegam agora a clientes em 91 países. O Brasil se destaca, com um investimento de R$ 3 bilhões em 18 meses.

Temos uma ampla gama de soluções em diversas áreas: mísseis e armas; plataformas aéreas; sistemas terrestres; sistemas navais; guerra eletrônica; espaço; defesa cibernética e comunicações seguras.

Revista Segurança Eletrônica: O Brasil foi escolhido como o primeiro país fora dos Emirados Árabes Unidos a receber um escritório regional do EDGE. Quais fatores foram determinantes para essa escolha?

Tiago Silva: Para o EDGE, o plano estratégico para o Brasil foi único, diferente de outros mercados. O estabelecimento de um escritório regional no Brasil é um sinal claro da confiança do EDGE nos mercados de todo o continente e nas oportunidades valiosas que eles apresentam para o desenvolvimento de negócios internacionais, compartilhamento de conhecimento e maior prosperidade.

No Brasil, além do escritório regional – que ajuda a estabelecer um diálogo constante na região – nosso foco está em várias áreas e iniciativas estratégicas, não apenas do ponto de vista comercial, mas também tecnológico. Contamos com a expertise de empresas consolidadas, criativas e com preços competitivos.

Estamos confiantes de que obteremos mais sucesso no Brasil, estruturando também cadeias de suprimentos para fabricação e exportação, bem como fortalecendo nossas operações em todo o ecossistema de defesa em evolução do país.

Revista Segurança Eletrônica: O EDGE fez a aquisição de duas grandes empresas brasileiras do setor defesa, a CONDOR e a SIATT. Qual é o propósito dessa parceria?

Tiago Silva: No Grupo EDGE, acreditamos firmemente que nossa força está nas parcerias que construímos e que o crescimento deve ser mútuo, criando oportunidades para o compartilhamento de conhecimento e experiência, gerando empregos local e globalmente e, em última análise, colaborando para o crescimento econômico e a prosperidade.

Com a SIATT, o EDGE está desenvolvendo o Míssil Antinavio Nacional (MANSUP), com um alcance de 70 quilômetros, que fará parte das novas fragatas Tamandaré, até o final de 2025. O contrato também fornece a estrutura para que o Grupo EDGE utilize a tecnologia e os dados técnicos do MANSUP no desenvolvimento do MANSUP-ER, um sistema de alcance estendido.

O MANSUP é um excelente exemplo do sucesso obtido pela combinação de tecnologia de ponta, uma força de trabalho altamente qualificada e profissional, investimentos significativos e fortes parcerias governamentais, institucionais e do setor.

Quanto ao modelo de negócios da CONDOR, o EDGE analisou o potencial de exportação dessa empresa que é um dos maiores especialistas do mundo em tecnologias não-letais, com fortes canais de distribuição em mais de 85 países. Um resultado importante dessa parceria foi quando, apenas três semanas após a aquisição, em 2024, a CONDOR fechou um contrato no valor de mais de US$ 10 milhões com um país africano.

A presença estabelecida do Grupo EDGE em vários mercados e investimentos na África e na Ásia vai colaborar para aumentar a presença global da CONDOR. Além disso, a empresa carioca também abrirá uma nova fábrica em São Paulo, voltada para produtos de alta tecnologia.

Revista Segurança Eletrônica: O EDGE tem colaborado com instituições como a Marinha e a Força Aérea Brasileira, além de assinar um Memorando de Entendimento com São José dos Campos. Poderia compartilhar o objetivo dessas parcerias estratégicas e explicar um pouco mais sobre esse memorando?

Tiago Silva: Depois de 18 meses no Brasil, o Grupo garantiu vários acordos de cooperação e memorandos de entendimento (MoUs) para a troca de conhecimento, cooperação em pesquisa e desenvolvimento e codesenvolvimento de sistemas avançados de defesa.

O Grupo EDGE construiu relacionamentos sólidos com os principais players dos setores de defesa e tecnologia, bem como com os governos locais em todo o país, o que nos permite avançar com nossa estratégia de crescimento em toda a região.

A Marinha do Brasil, conforme mencionado em sua pergunta, é um parceiro importante para o Grupo. Não só estamos desenvolvendo mísseis antinavio em conjunto, como também assinamos recentemente outro MoU com eles para desenvolver soluções contra drones.

Outro exemplo seria o MoU entre o Grupo EDGE e a cidade de São José dos Campos, em São Paulo. O objetivo é expandir a colaboração nas áreas de segurança, educação e cidades inteligentes.

Revista Segurança Eletrônica: Além de investimentos financeiros, o EDGE tem planos para desenvolver talentos locais e colaborar com universidades brasileiras. Pode nos contar mais sobre essas iniciativas?

Tiago Silva: Como parte da estratégia global de aquisição de talentos da EDGE, temos o compromisso de promover fortes laços com importantes instituições acadêmicas e de pesquisa, com foco na ampliação de oportunidades de investimento e colaboração em programas de intercâmbio de talentos e projetos de pesquisa de ponta, com grande ênfase nas áreas STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Para nós, como empresa, é uma maneira de aprender sobre o que as mentes jovens mais brilhantes estão fazendo, ao mesmo tempo em que promovemos um pool de talentos mais sustentável. 

Revista Segurança Eletrônica: Qual é a visão do Grupo EDGE sobre o potencial do míssil MANSUP e do MANSUP-ER no Brasil e no mercado internacional?

Tiago Silva: O EDGE acredita que esses mísseis deixarão um legado para o Brasil e vão gerar um impacto comercial global considerável. Em 2023, assinamos um contrato de US$ 350 milhões com as Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos para exportar o sistema MANSUP. Também há conversas avançadas com países da África, Ásia e América Latina.

Conforme mencionei, com o MANSUP, o EDGE fará parte da história, pois, até o final de 2025, ele será integrado ao novo programa das Fragatas Tamandaré da Marinha. O contrato também prevê a estrutura para que o Grupo EDGE utilize a tecnologia e os dados técnicos do MANSUP no desenvolvimento do MANSUP-ER, de alcance estendido. Mesmo em fase de desenvolvimento, esse projeto, juntamente com outros projetos do EDGE no Brasil, não apenas fortalece os setores de defesa do país, mas também promove benefícios que vão além do desenvolvimento de mísseis. Isso levará ao estabelecimento de novas fábricas e criará muitas oportunidades de empregos, além de promover o crescimento de toda a base industrial e da economia.

Revista Segurança Eletrônica: Com o crescimento da demanda por soluções modernas de segurança na América Latina, quais outros produtos ou tecnologias EDGE poderiam ganhar destaque na região?

Tiago Silva: O EDGE oferece áreas de soluções integradas em uma série de tecnologias avançadas. Isso inclui sistemas autônomos aéreos, terrestres e navais; armas inteligentes; soluções de guerra eletrônica,  de segurança cibernética e sistemas de comunicação ultrasseguros. Também temos soluções de contra-drones.

É por isso que planejamos aproveitar os exemplos bem-sucedidos de projetos que temos no Brasil como um portfólio para impulsionar ainda mais o crescimento na América Latina. Além disso, estamos trabalhando mais de perto com parceiros globais, como a Indra Sistemas na Espanha, para oferecer soluções regionais em todo o continente.

Revista Segurança Eletrônica: Após consolidar sua atuação no Brasil, o EDGE planeja expandir para outros países da América Latina. Quais mercados estão no radar e por quê?

Tiago Silva: Em 2025, queremos olhar para a América Latina de forma diferente. Mercados como Colômbia, Chile, Argentina e outros podem ser considerados.

Revista Segurança Eletrônica: Quais são os próximos passos globais da companhia e como o Brasil se encaixa nessa visão?

Tiago Silva: Globalmente, 2024 foi um ótimo ano em termos de expansão de nossa presença internacional. Formalizamos 13 aquisições em 12 meses e também expandimos importantes joint ventures, como a Indra da Espanha.

Em 2025, continuaremos a consolidar esse crescimento e a expandir estrategicamente.

Em termos de Brasil, o país é um parceiro vital tanto para a empresa quanto para os Emirados Árabes Unidos, assim como a EDGE provou ser um ator-chave no Brasil. A EDGE continuará a investir em projetos com o Brasil e está integrando cada vez mais as operações comerciais de suas duas subsidiárias brasileiras no país.

Revista Segurança Eletrônica: Gostaria de deixar um recado final para os nossos leitores?

Tiago Silva: O EDGE é uma empresa global, mas com profundo conhecimento regional dos pontos fortes da América Latina e do Brasil, que continua sendo uma de nossas prioridades em termos de desenvolvimento tecnológico.

Para 2025, temos a expectativa de marcos importantes. No Brasil, a inauguração da fábrica da SIATT, em São Paulo, com quase 300 pessoas contratadas, é um exemplo tangível do quanto o EDGE acredita e investe no Brasil.

Nosso objetivo é promover o intercâmbio de conhecimento entre os Emirados Árabes Unidos, a América Latina e outros países. Portanto, você pode esperar outras realizações e anúncios ao longo do ano, à medida que continuamos a possibilitar um futuro mais seguro.

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