Gocil explica como lidou com a quarentena, que estratégias tem utilizado com seus clientes e como busca crescer mais no mercado de segurança eletrônica
Empresa quer conquistar espaço no mercado de segurança eletrônica e está aproveitando a reabertura da economia para introduzir novas soluções para os seus clientes
Por Fernanda Ferreira
O período de quarentena não foi fácil para nenhuma empresa. A situação de pandemia pegou a todos, e cada empresa precisou realizar um plano estratégico para manter os negócios ativos. A Gocil não foi diferente, com uma equipe de mais de 20 mil colaboradores, atuando na área de segurança patrimonial e multisserviços, setores considerados essenciais, a empresa precisou se adaptar e se reinventar.
Nesta entrevista, conversamos com Bruno Jouan, CEO da Gocil, que assumiu o cargo em janeiro de 2020 e precisou enfrentar o desafio de conduzir uma grande empresa em um cenário inédito e caótico.
Revista Segurança Eletrônica: Como está o seu formato hoje de carreira?
Bruno Jouan: Eu sou engenheiro eletrônico de formação, comecei a minha carreira em 2001 em uma área técnica, como engenheiro de aplicação em uma indústria nacional chamada Setha Indústria Eletrônica, uma das primeiras empresas integradores de tecnologia do passado. Essa empresa foi comprada pelo Grupo Prosegur em 2008, então migrei para uma área de desenvolvimento e pesquisa e depois para a área comercial, isso tudo dentro dessa primeira passagem Setha – Prosegur, que totalizaram 12 anos.
Depois eu fui para a Siemens, já na área comercial como gerente Nacional de Vendas da área de Building Technology; depois fui ser diretor da Johnson Controls, sendo responsável pela área de Building Efficiency que abrangia toda a parte de segurança eletrônica e HVAC.
Encerrando esse ciclo, fui para a Indra, como diretor Executivo comandando os negócios de Homeland Security e Defesa, as soluções eram diversas e para uso militar e para segurança pública, desde a identidade digital até interceptação de telefone, comunicação segura, cibersegurança, tudo isso fazia parte do portfólio que eu cuidava na companhia. Depois da Indra voltei para o Grupo Prosegur, que se tornou SegurPro, como diretor Comercial e de Marketing, e nos últimos 4 anos estava lá. A partir do dia primeiro de janeiro eu assumi como CEO da Gocil.
Revista Segurança Eletrônica: Você está há menos de um ano na Gocil, porém está sendo um período intenso, totalmente diferente de tudo o que já vivemos.
Bruno Jouan: Com certeza! Fizemos em janeiro um planejamento esperando o ano de uma forma, sem nenhuma expectativa do Covid-19. Realizamos uma revisão desse plano em março, em um momento que estávamos chegando em um fechamento iminente da economia, mas mesmo com a nova projeção, que do meu ponto de vista era pessimista, foi bem pior do que aquilo que foi previsto. Isso aconteceu em março e agora estamos em novembro, ou seja, já se passaram oito meses até agora não voltamos ao patamar que tínhamos antes da pré-crise. Tenho certeza que não voltaremos esse ano a mesma atividade que tínhamos antes da pandemia começar, entretanto acreditamos em uma retomada mais forte nos próximos meses com a possibilidade de a vacina ser liberada e da imunização da população. Diante desse cenário acreditamos em uma reabertura total e uma volta completa da economia no segundo semestre do ano que vem, essa é a nossa expectativa.
2020 foi um ano atípico, que conseguimos segurar os negócios, mesmo com todos os efeitos que tivemos durante todo o primeiro semestre, sofremos redução nos serviços, mas por outro lado conseguimos reduzir nossos custos. Depois passamos a fazer readequações na nossa mão de obra intensiva e teremos um último trimestre positivo, fechando o ano de forma razoável, obviamente não igual ao plano original, acho que nenhuma empresa do segmento irá poder falar que o plano que começou em janeiro é o mesmo que está em dezembro, mas é possível fazer algo compatível com o ano que tivemos.
Revista Segurança Eletrônica: Temos feito muito a divulgação da hashtags “Somos Essenciais” para o mercado de segurança. Como vocês, que contam com equipe de vigilância e de limpeza que não pararam na quarentena, motivam essas pessoas que precisaram estar na linha de frente?
Bruno Jouan: É bem difícil, tentamos motivar da melhor forma possível, principalmente a equipe de limpeza que são pessoas que precisam estar na frente, não podemos deixar os clientes na mão, da mesma forma cuidamos da vida dos funcionários, da saúde das famílias, foi e está sendo algo bem complexo de se fazer, mas eles sabem que precisam estar ali, mas obviamente que naquele primeiro momento de fechamento existia uma questão de medo e receio dos colaboradores.
Também tivemos um grande desafio logístico, principalmente no segundo trimestre, mas não sentimos em nenhum momento, desde o período mais crítico, alguma recusa do funcionário de participar, de estar lá. Fizemos várias ações, por exemplo, para funcionários dentro da zona de risco serem afastamos pela medida provisória do Governo e mantivemos dentro do nosso quadro com estabilidade dentro desse período. Temos colaboradores afastados até hoje justamente esperando o momento adequado para voltarem a operação.
Fizemos os protocolos mais adequados e mais corretos que nós entendemos que fazia mais sentido e adotamos.
Revista Segurança Eletrônica: Por conta desse período, vocês abraçaram alguma tecnologia que fez o papel do ser humano?
Bruno Jouan: Eu sou um defensor do uso da tecnologia em conjunto com a mão de obra. Acredito que o uso da tecnologia é o futuro, é a nossa bandeira, porém existe uma questão também que durante a crise as empresas então muito preocupadas com o caixa, principalmente as empresas de mão de obra intensiva precisam do caixa para girar porque precisam pagar os colaboradores, o salário não é algo que dá para negociar com funcionário, como fazemos com prestadores pedindo uma postergação de prazo, uma renegociação de dívida, salário tem que pagar, ponto e acabou. As ações que fizemos foi fazer uma segurança do nosso caixa, não gastaríamos nada que não fosse essencial, justamente para preservar toda essa operação desse período que entendíamos que poderia ter variações, porque muitos dos meus clientes tiveram dificuldade financeira, como o setor de educação, academias, eventos, hotéis, escritórios comerciais, etc. Obviamente tivemos que ser o parceiro que financiou isso para eles, isso melhorou a nossa relação com nossos clientes, que entenderam que estávamos ali para estender a mão no momento que eles precisavam, até onde poderíamos.
Quando fazemos o emprego da tecnologia é necessário ter caixa para investir e tirar pessoas, nós não fizemos isso durante a pandemia, não começamos a comprar equipamentos para fazer, nós desenvolvemos projetos para a reabertura já em um modelo diferente, dessa foram conseguimos fazer vários projetos que estão em andamento, que foram conversados com as empresas que reduziram o efetivo e que toparam manter como está hoje e adicionar soluções de segurança. Mas de fato durante a pandemia não ficamos utilizando tecnologia, esse movimento foi bem pensado para o pós-pandemia.
Revista Segurança Eletrônica: Quais são os parceiros tecnológicos da Gocil atualmente?
Bruno Jouan: Acredito que o modelo de parceria entre as empresas e fornecedores, distribuidores e integradores é o mais eficiente. Cada um tem o seu papel, que agrega valor a todo o processo. Eu cito aqui um grande exemplo de parceiro de tecnologia da Gocil que é a Genetec, como plataforma de software VMS, controle de acesso, de gestão de alarme e gestão de incidentes. A Genetec viabilizou grandes negócios e temos projetos em andamento com eles sempre com o apoio técnico e comercial do time.
Outro parceiro muito forte é a Hanwha Techwin. Estamos com 3 mil câmeras em projetos vendidos da Hanwha aqui no Brasil e tem outros projetos para sair, é também um parceiro que nos agregou muito de forma técnica e comercial. A nossa parceria com a Bosch está aumentando também, estamos participando de alguns projetos em conjunto, é um grande player com grandes produtos.
Também estamos estreitando negociações com a Axis Communication, ofertamos alguns projetos com eles. Em relação a distribuidor, temos parceria com a WDC Networks, usamos bastante o modelo deles de As a Service (como serviço), compramos e vendemos com esse tipo de modelo; também temos a Brako como parceiro. São distribuidores que confiamos muito e que nos ajudam bastante. Com base nesses parceiros, conseguimos trazer grandes projetos para a Gocil, como Petrobras e Vale, contratos globais, que nos deixam no patamar de grandes players de integração de tecnologia.
A Gocil é muito conhecida pela mão de obra, tanto em facilities como na vigilância, mas não somos tão conhecidos na área de segurança eletrônica. Eu acho que esse ano estamos mudando o nosso patamar da tecnologia, mostrando a eletrônica como uma grande unidade desse grupo para que faça sentido os produtos integrados.
Revista Segurança Eletrônica: Em relação ao protocolo de segurança da própria equipe e para atuar com clientes com protocolo diferentes, como funcionou essa instrução para o time?
Bruno Jouan: Foi em conjunto com todas as empresas, cada companhia tem o seu próprio protocolo, se for uma empresa internacional ela já vem com um protocolo estabelecido, hospitais tem um protocolo rigoroso ao qual nos adaptamos, os shoppings centers, dependendo do estado, também tem um protocolo que precisa seguir, então não existe um protocolo Gocil, nós nos adaptamos e participamos do protocolo do cliente e adequamos a nossa operação para aquele protocolo.
Revista Segurança Eletrônica: Sobre a LGPD, isso muda em alguma coisa a parte de segurança da Gocil?
Bruno Jouan: Sem dúvida, esse era um plano que desde que cheguei aqui já estava no nosso radar, algo que sabíamos que ia acontecer e não estávamos contando com uma postergação da lei, já sabíamos que a lei estava bem forte nos Estados Unidos e Europa. Nós contratamos uma consultoria para entender todas as vulnerabilidades que tínhamos de LGPD, eles já nos passaram o diagnóstico e estamos fazendo o investimento para nos certificarmos de que tudo aquilo que a lei exige, nós estejamos cumprindo.
Diversos clientes já estão pedindo o protocolo de LGPD, perguntando o que estamos fazendo, e já temos isso pronto. Nós defendemos a LGPD, é importante a questão da confiabilidade dos usuários, ainda mais em uma empresa de segurança.
Revista Segurança Eletrônica: Gostaria de deixar uma mensagem final para os nossos leitores?
Bruno Jouan: O que eu gostaria de passar é: vamos obviamente nos preocupar com a saúde, mas vamos tentar voltar para a vida como ela era, precisamos que a economia gire, precisamos dos comércios, das empresas, de emprego, não podemos sair dessa pandemia com uma saúde sanitária legal, mas com uma situação de desemprego absurda. Precisamos retomar de uma forma gradual e respeitando todos os cuidados com a saúde e segurança. Acredito que é o movimento de todos.
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