Covid-19 e a Tecnologia em Segurança
Por Alexandre Chaves, Fernando Só e Silva, Luciano Caruso e Marcos Serafim
Este artigo tem como objetivos trazer para as organizações em geral, informações valiosas para enfrentamento desta dura realidade na volta ao “novo normal” pós-pandemia Covid-19. Também nos propomos a avaliar algumas consequências deste período nefasto e, por fim, pontuar oportunidades que surgem sob a ótica do emprego da tecnologia nos processos de segurança patrimonial.
Com esta situação mundial crítica instalada e, em alguns casos, irreversível, precisamos ter capacidade de discernimento sobre os seus impactos nas organizações, do ponto de vista das atividades de segurança empresarial, principalmente aquelas decorrentes da perspectiva que avizinha-se, o aumento intenso da criminalidade. Mais do que nunca, é o momento de avaliarmos os recursos tecnológicos instalados, estar capacitado para operarmos na velocidade da internet e o que poderá ser feito perante a necessidade de redução de custos e maior produtividade.
TECNOLOGIAS EXISTENTES E ACESSÍVEIS
A nova fase da segurança eletrônica está totalmente engajada com a indústria 4.0. Diversas tecnologias disponíveis já estão acessíveis em muitos produtos que as trazem embarcadas, até mesmo em seus modelos mais básicos. Vídeos analíticos, Inteligência Artificial, Deep Learning e algoritmos de análises biométricas podem ser combinados para gerar informações, que alimentam Big Data e interagem com diversos tipos de softwares de gestão, através de APIs (Application Programming Interface). Dessa forma, criar um Business Intelligence, com dados enviados por uma câmera de CFTV ou por um leitor biométrico, tornou-se uma realidade totalmente viável, que não requer grandes investimentos em customizações ou time de programação. Os fatores da democratização e da redução de custos fazem com que a inovação tecnológica tenha chegado a um ponto inédito e cheio de oportunidades, para as quais, talvez, poucos tenham despertado. A utilização de tecnologias aplicadas à segurança pode não só contribuir com a preservação de vidas e do patrimônio, mas também agregar valor ao negócio principal da empresa, reduzindo custos e aumentando receitas.
Dito isso, podemos afirmar que a criatividade está em alta também nos negócios da segurança. Uma boa empresa do setor pode trazer inovações e soluções, tanto para questões de segurança quanto de produtividade, controle, otimizações nos processos e também nos recursos humanos. Para atingir esse novo patamar é fundamental que membros da alta gestão empresarial compartilhem dessa visão, abram as portas de suas empresas e exponham os desafios e gargalos dos seus negócios para que especialistas possam surpreendê-los com o alcance de suas propostas.
Neste novo cenário, trabalhar sobre escopos fechados e tomada de preços de segurança limita o alcance dessa miríade de novos benefícios. Dizer apenas que a tecnologia reduz mão de obra não é mais o grande mote da indústria de segurança eletrônica. Vivemos uma fase de acréscimo de valor ao core business utilizando a mesma estrutura, os mesmos custos e principalmente o mesmo orçamento dedicado anteriormente apenas para redução de riscos. Não é fantástico?
Outro ponto importante que vale ser destacado é a evolução dos serviços remotos, capazes de unificar centrais de comando em um único site ou ainda em uma empresa especializada, prestadora de serviço. Destacamos também, em meio à crise, o surgimento, com intensidade, da supervisão remota, com visitas aos contratos feitas à distância, via aparato tecnológico, principalmente para resolver as demandas administrativas.
Todos estes avanços se devem à evolução e estabilidade das bandas largas, antenas de rádio frequência, tecnologias IP e wireless cada vez mais confiáveis. À medida que adventos tecnológicos importantes acontecem, com velocidade cada vez maior, as aplicações da tecnologia da segurança tendem a transformar radicalmente as práticas atuais e ganhar novas aplicações. A chegada da tecnologia 5G, prevista para os próximos anos, irá acelerar ainda mais este modelo disruptivo. O tamanho das oportunidades ainda aparece de forma tímida no radar da indústria e do comércio. Compreender e aproveitar essa próxima onda antes dos concorrentes é um ponto fundamental para o negócio se destacar, ganhar eficiência e competitividade. Indivíduos e tecnologias estão mudando de forma mais ágil do que os negócios. Acompanhar esse movimento requer estar cercado de empresas e profissionais que fomentem inovação e rompam com padrões ou até mesmo com seus próprios modelos, sejam elas gigantes do mercado ou startups.
Nos tempos atuais, a segurança empresarial reforçou sua importância como assunto estratégico, incompatível com o conforto de permanecer com um sistema desatualizado. Quem não vislumbrar a correlação entre segurança e seu business, pode estar deixando na mesa grandes oportunidades.
MONITORAMENTO INTELIGENTE 4.0
Por que não transformar câmeras, que só gravam o problema, em olhos treinados que identificam o risco e geram alertas antes do problema acontecer?
Por que deixar um ser recurso humano olhando as câmeras, uma vez que a ciência já comprovou que após 22 minutos que uma pessoa se mantém à frente de um sistema de monitoramento de imagens, há 95% de chance de não detectar um evento relevante?
A atual Inteligência Artificial permite identificar precisamente pessoas e veículos, gerando alertas com qualidade ao invés de quantidade. A análise é feita pelo conteúdo da imagem e não pelo simples movimento, garantindo que uma notificação gerada pelo sistema seja entendida como um fato relevante que merece atenção imediata.
A partir do uso de Deep Learning (Aprendizado Profundo), que é uma das áreas da Inteligência Artificial, é possível que algoritmos identifiquem e aprendam precisamente situações de risco antes mesmo de algo mais grave acontecer. Os algoritmos acompanham continuamente as imagens e geram alertas quando algo é detectado, possibilitando uma atuação pontual e assertiva da equipe humana. A partir desse ponto, um novo conceito de monitoramento surge, trazendo para tecnologia a responsabilidade da identificação e reposicionando o recurso humano (recurso caro) para um papel mais nobre, de analisar e tratar, se necessário, as informações de acordo com o que foi previamente desenhado nos procedimentos.
Em síntese, é momento de automatizar tudo o que a tecnologia permitir e reposicionar o recurso humano para as atividades que as máquinas nunca farão. Além disso, vivemos um momento ímpar, onde a tecnologia está acessível e dispensa investimentos altos em infraestrutura. Imagens de drones, sensoriamentos inteligentes (sem fio) ou IoT (Internet das Coisas), são exemplos práticos de conectividades que podem estar integradas a esse novo monitoramento.
A IMPORTÂNCIA DA DISPONIBILIDADE DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS
Tão importante quanto a aplicação correta e bem dimensionada dos recursos tecnológicos, é a sua manutenção. A disponibilidade do parque instalado deve ser objeto de monitoramento constante pela equipe de segurança, de forma a permitir o acionamento de medidas contingenciais caso algum equipamento ou sistema esteja inoperante ou mesmo em reparo programado.
Os contratos de manutenção devem ser baseados em Acordos de Nível de Serviço (SLA) de forma a podermos planejar o tempo que o sistema ficará indisponível, além de possuir prazos de atendimento e soluções diferentes, de acordo com o nível de criticidade de cada sistema ou equipamento, objetivando minimizar impactos nos sistemas de proteção física das organizações.
NOVO NORMAL, TRANSFORMAÇÃO DIGITAL, DADOS E INFORMAÇÕES
Em continuidade à narrativa sobre os avanços tecnológicos descritos acima, destacamos o momento atual e a sua capacidade de nos deixar atônicos. Enfrentamos algo totalmente imprevisível, algo que talvez só soubéssemos na leitura em livros de história, apresentando os percalços da humanidade. Estamos vivendo a história, em uma fase extremamente ruim, embora tudo isto tenha estado aí sempre, na forma de ameaças e riscos, mas longe da nossa percepção, quase impossível de ser previsto, nem por um momento. “Nos prepararmos para o pior e esperarmos e vivermos o que é possível”, será uma boa reflexão para termos em mente a partir de agora. As transformações que acompanham esta crise impactam profundamente nossas vidas e negócios, mas, uma vez ultrapassado e superado este momento, devemos estar preparados para o que virá depois, quando tudo isto ficar para trás, transformado em um “novo normal”. Quais as lições aprendidas e o que ficará “impresso em nosso DNA”, no pessoal e nos negócios? Esta será outra boa reflexão.
Esta revolução tecnológica que tem se apresentado, na forma de “indústria 4.0”, está aí, colaborando intensamente com o enfrentamento da crise, principalmente no formato do avalanche de trabalhos realizados a distância, utilizando e estressando o que a tecnologia oferece de mais moderno, o que também vai deixar uma marca profunda na economia, na sua forma macro e principalmente nos seus desdobramentos micros, na operação das empresas, no seu dia a dia. Certamente vai ajudar a acelerar a mudança de cultura tão necessária para este avanço rápido e inserção no mundo da “indústria 4.0”, que traz a reboque uma grande inovação, a operação na velocidade da internet, que pode ser denominada de transformação digital.
Como sairmos mais fortes desta crise com os nossos negócios deve ser uma outra reflexão exaustiva. Um caminho a ser trilhado é avaliar a situação atual e assim extrairmos os melhores ensinamentos que a tecnologia propicia. Por exemplo, a exploração da avalanche de dados gerados neste momento e a respectiva transformação em informações, poderá revelar o como deverá ser a continuidade dos negócios. Reunir os dados gerados pelo aparato tecnológico, no nosso caso, disponível para a proteção das empresas e a utilização de ferramentas próprias para analisá-los, constituirá um ativo importantíssimo para os negócios. Com mais ênfase, centralizar todos os dados gerados na operação dos serviços de segurança empresarial, em um espaço denominado “data lake”, e analisá-los, passará a ser uma ferramenta essencial, tanto das empresas prestadoras destes serviços como dos contratantes. Com esta trilha, a continuidade e reconexão ao mercado, em um formato pós-crise, poderá trazer posições com vantagens competitivas que permitirão oferecer o melhor para os clientes.
CONCLUSÕES
Como já em disseminação no mundo tecnológico, “dados são o novo petróleo” e para “surfar nesta onda” e aplicar o aparato tecnológico aqui apresentado, se fazem necessários a digitalização operacional, bem como um processo de inovação contínua, incluídos nas atividades de segurança, tanto quanto nos processos produtivos dos clientes.
Na operação é onde os dados devem ser minerados para assim serem transformados em informações, permitindo assim a exploração ao máximo do que os serviços prestados podem entregar. Com os dados coletados e transformados em informações, todas as instâncias do negócio devem se beneficiar, inclusive, avançar e aplicar o que a tecnologia disponibiliza como o que há de mais moderno. A recompensa virá em termos daquilo que podemos não perceber à primeira vista: aumento das vantagens competitivas, aumento do valor agregado, maior lucratividade e fidelização dos clientes.
Alexandre Chaves
CEO da C4i Inteligência em Segurança e Diretor do Departamento de Defesa e Segurança da FIESP.
Fernando Só e Silva
CEO da PerformanceLab e Diretor do Departamento de Defesa e Segurança da FIESP.
Luciano Caruso
Diretor Geral da Haganá Tecnologia e Diretor de Tecnologia da ASIS International – American Society for industrial Security.
Marcos Serafim
Diretor de Desenvolvimento de Negócios da PerformanceLab e Diretor do Departamento de Defesa e Segurança da FIESP.
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