BBB do Rio: Câmeras com sistemas de Inteligência Artificial e reconhecimento facial se multiplicam pela cidade

Assim como os integrantes do Big Brother Brasil, o carioca há algum tempo tem cada passo seguido pela tecnologia. Nos últimos anos, porém, na tentativa de frear a violência, as milhares de câmeras públicas e privadas instaladas em postes, muros e fachadas se multiplicam numa velocidade ainda mais vertiginosa, associadas a dispositivos como os de inteligência artificial e reconhecimento facial. Só a prefeitura do Rio, que já monitora as imagens geradas por 3,8 mil equipamentos, pretende quintuplicar a capacidade de sua Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia em Apoio à Segurança (Civitas), inaugurada em junho de 2024.

Cumprida essa promessa, apenas na rede da Civitas, será o equivalente a uma câmera a cada 327 moradores da cidade. Nesse grande Big Brother do cotidiano, é preciso somar também as duas mil câmeras do MetrôRio e as cerca 12 mil dos ônibus das linhas municipais — três em cada veículo, além de 3,9 mil nos articulados dos BRTs. Há ainda as de outros meios de transporte, com trens e VLT, as das polícias, as das empresas privadas de vigilância e as instaladas pelo próprio cidadão em suas residências ou estabelecimentos comerciais — isso sem sequer falar nas dos milhões de celulares prontas para os flagrantes do dia a dia.

“As câmeras, aliadas à inteligência, ajudam bastante (no combate à violência), porque você consegue otimizar o recurso humano. Cingapura é o melhor exemplo disso. Mas não são suficientes, precisam de aperfeiçoamento”, disse o secretário de Segurança, Victor Cesar Santos.

Leitores de placas

No caso das monitoradas pela prefeitura, a maioria atualmente fiscaliza o trânsito. O município, contudo, quer ampliar o raio da Civitas incorporando as câmeras já existentes em diferentes órgãos municipais, como escolas e hospitais. Ainda neste ano, um decreto ou portaria deve estabelecer regras e prazos para essa adequação. A ideia é que só equipamentos voltados para as áreas externas sejam ligados à central, que tem também um outro serviço para identificar placas de veículos. São 1,5 mil radares que registram todos os veículos, mesmo aqueles que não são multados por excesso de velocidade ou avanço de sinal. Essa plataforma ainda pode ser “treinada” pela inteligência artificial para ter novas funcionalidades.

“A Civitas nasce num contexto em que a gente apresentou um plano de monitoramento na cidade voltado para ter eficácia, resultado objetivo. Não é só o monitoramento de câmeras como a gente tem no Centro de Operações Rio (COR), voltado para gerenciar a cidade e tomar decisões”, explicou o vice-prefeito do Rio, Eduardo Cavaliere, sobre a função que o projeto tem no auxílio à segurança pública.

Desde sua inauguração, a Civitas já foi acionada 943 vezes por forças policiais para ajudar em investigações — uma média de 120 por mês. O próximo passo é agregar à central imagens de sistemas privados. A medida será semelhante à da Polícia Militar, que tem regras para que câmeras de entes públicos e privados estejam conectadas ao Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).

Segundo o major Maicon Pereira, porta-voz da corporação, a PM dispõe de 32 mil câmeras integradas ao CICC, incluindo os equipamentos de parceiros, como prefeituras. A estimativa é que 80% delas estejam na capital. As imagens auxiliam, por exemplo, o serviço do 190 a verificar se ocorrências informadas são trotes, enviar equipes com mais rapidez para locais de crime, encontrar pessoas desaparecidas e até quem deve pensão alimentícia. Concessionárias de transportes e a Rodoviária do Rio já estão nessa lista. Há ainda 13 mil minicâmeras nas fardas dos PMs.

A socióloga Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni/UFF), reconhece que essas imagens podem ajudar na elucidação de crimes, como o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018. Mas ela ressalta que, no Rio, esses equipamentos não conseguem prevenir o crime, diferentemente do que ocorre em outros países: “A possibilidade de ser filmado não é um empecilho para assaltos, porque, normalmente, são pessoas já procuradas pela polícia. Não temem ser identificadas. Temem apenas ser capturadas”.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos (Abese), 450 empresas oferecem videomonitoramento no Rio. Outras 1,5 mil têm um outro serviço associado às câmeras, como reconhecimento facial e portões eletrônicos. A entidade diz que, somados os números dos setores público e privado, o Estado do Rio aparece no topo do ranking de câmeras para cada mil habitantes no país: são 3,3. A Bahia está em segundo, com 1,5 câmera para cada mil habitantes. Por cidade, a pesquisa, ainda em andamento, aponta que São Paulo é a com mais equipamentos instalados no país, 3,25 milhões.

Uma das empresas que oferece o serviço de monitoramento no Rio é a Gabriel, fundada em 2019. Atualmente, ela tem 6.479 câmeras pela cidade, todas voltadas para a rua. A Barra da Tijuca, com 936 equipamentos, assumiu a ponta do ranking recentemente, seguida por Leblon (737), Ipanema (689), Copacabana (514) e Tijuca (488).

Erick Coser, diretor-executivo da Gabriel, lembra que o mercado de segurança privada existe há muito tempo, mas que o sucesso da empresa veio ao voltar os olhos eletrônicos para as calçadas, não mais só para dentro dos imóveis.

“Todo o aparato de segurança do estado vai para o combate ao crime organizado, que tem dinheiro e poderio bélico para bater de frente, e o crime de menor potencial ofensivo passa batido. E grande parte dos cidadãos que não mora em território de enfrentamento se sente à mercê”, disse Coser.

Ajuda na prisão

A Gabriel calcula que já tenha fornecido imagens de 5,8 mil crimes às autoridades, colaborando para prender 400 pessoas e inocentar sete. Mas, para o cidadão, esse serviço tem seu preço: o básico sai a R$ 499 ao mês.

Já num perímetro de 2,2 quilômetros no Anil e na Freguesia, na Zona Oeste, associações de moradores se uniram para criar um sistema de monitoramento próprio. Elas contrataram uma empresa para prestar um serviço de câmeras com uma espécie de vigia virtual (usando IA), que vasculha as imagens o todo tempo, criando alertas, por exemplo, quando um grupo de pessoas fica parado por mais de 40 segundos em frente a uma casa. As informações são enviadas a uma central, que tem um analista, que pode acionar a PM.

Segundo Fábio Quintino, presidente da Associação de Moradores do Bananal, Uruçanga e Quitite (Amabuq), a iniciativa nasceu após uma série de roubos na região. Enquanto, em 2023, chegava-se a um caso por semana, houve um único roubo nos últimos dois meses, relata Quintino.

Dario de Sousa e Silva, professor do Departamento de Ciências Sociais da Uerj, lembra que, no século XVIII, a ideia do que quanto mais visto, mais seguro, levou à abertura de boulevards e à instalação de iluminação nas ruas.

“Talvez tenha nisso uma ideia de vigilância permanente, de panoptismo, de que, se todo mundo se sentir vigiado, todo mundo vai moderar suas ações violentas”, completou ele, referindo-se às câmeras.

Fonte: O Globo

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