Avanço da tecnologia nos sistemas de vigilância e monitoramento – Parte 1

A câmera antes era um dispositivo de imagem, hoje é um dispositivo de informação

Nunca fomos tão fotografados, tão filmados como nos dias de hoje e sobretudo na última década. Os sistemas de monitoramento e vigilância romperam as barreiras da área de segurança e se converteram em ferramentas de negócio e estratégia.

Dá para prever comportamentos através da análise de imagens? É possível disparar alarmes quando forem detectadas áreas com movimentações anormais ao seu padrão de comportamento? Sim, e de maneira muito fácil e acessível.

Para falar sobre esse assunto, Alexandre Chaves – CEO da C4i, participou do podcast Facility Management Sem Mistérios, com o apresentador Thiago Santana.

Confira a entrevista na íntegra:

Thiago Santana: Para começar esse bate-papo, vamos voltar um pouco no tempo. Quando olhamos os sistemas de monitoramento, a primeira coisa que vem à cabeça de muita gente são os antigos circuitos fechados de TV com cabo coaxial e gravador, em uma sala gigantesca com equipamentos empilhados. Entretanto tivemos uma disrupção muito grande, principalmente nos últimos dez anos. Gostaria que você falasse um pouco dessa transição e o que foi essa disrupção.

Alexandre Chaves: O mercado teve uma transformação muito grande quando o cabo coaxial foi substituído pelo um cabo de rede. A imagem começou a trafegar dentro das redes de dados e consequentemente novos personagens foram envolvidos: a equipe de tecnologia e TI. Essa é a principal disrupção que teve na última década, e a partir disso tivemos diversos acontecimentos.

A história dos espaços que eram utilizados para poder armazenar ou visualizar essas imagens também teve uma redução significativa. Assim, de cinco anos para cá, muitas ferramentas, inteligências e tecnologias balançaram o setor.

Thiago Santana: Quando o mercado passou a utilizar o cabo de rede as imagens se tornaram dados. O que isso significa na prática?

Alexandre Chaves: À medida que eu trafego uma imagem dentro de uma rede de dados eu passo a estar subordinado as políticas de segurança da TI. Tenho flexibilidade para tratar essa imagem adicionando inteligência e funcionalidades, que antes no mundo do coaxial, era completamente impossível pensar.

Hoje, ao instalar um sistema de segurança e conectá-lo a uma rede Wi-Fi, automaticamente a pessoa já pode acessar a imagem em tempo real direto de um smartphone. É um impacto grande e que ajuda a disseminar a utilização desse tipo de sistema.

Thiago Santana: Quando o setor de segurança enxergou essa oportunidade e quais foram os primeiros caminhos que foram explorados nessa modernização?

Alexandre Chaves: Antigamente as pessoas enxergavam a câmera como um equipamento de segurança, hoje temos a visão que a câmera é um equipamento que capta informação. A partir do momento que faço isso, essa informação pode estar endereçada para a segurança, mas também para qualquer outra área dentro de uma empresa ou prédio, como o setor de operações, de facilities, de marketing ou RH, por exemplo. É possível treinar o algoritmo para identificar determinados tipos de comportamentos que podem gerar um dado significativo para qualquer uma dessas áreas dentro de uma empresa.

Nós da C4i vivenciamos isso na prática. Uma companhia estava sem capital para poder investir na melhoria dos seus processos de segurança de imagens. Já sabendo do potencial da nossa solução, nós sugerimos que eles trouxessem a área de marketing para a reunião. Quando apresentamos os tipos de informações que poderíamos gerar, eles aceitaram imediatamente e investiram o orçamento deles no projeto, ou seja, a área de marketing foi quem pagou o projeto da área de segurança. Essa é uma das possibilidades da disrupção digital.

Thiago Santana: Quais são os principais avanços que as tecnologias trouxeram para o mercado?

Alexandre Chaves: Através das plataformas de imagens que nós trabalhamos é possível treinar algoritmos para se adaptarem a quaisquer necessidades das empresas, em determinados locais, isso traz uma flexibilidade muito grande. Exemplificando isso, qualquer dor que um gestor tenha pode ser traduzida em um algoritmo que interpreta aquilo e traz a informação para ele. Isso se torna um indicador com algum tipo de tratamento que tenha que ser dado. Aquela famosa visita do gestor que anda pela empresa e vê pontos de não-conformidade, nós podemos treinar a imagem da câmera para que ela observe aquilo como um problema.

Há uma mudança muito grande nisso tudo, porque se passamos a entender que a câmera virou um olho humano, um equipamento que traz a informação com um certo nível de inteligência, então saímos daquela situação de realizar uma ação só depois que acontece para uma que ao começar a ver o potencial risco, já trabalha para evitar o problema.

Por exemplo, um ovo de galinha está na ponta da mesa, com risco de cair. Com as inteligências de hoje é possível receber alertas preventivos do que está acontecendo e assim evitar que o ovo efetivamente caia e quebre. No passado o processo era reativo, eu tinha que esperar o ovo cair para então tomar uma ação. Essa é uma mudança muito impactante.

Thiago Santana: Lembro que quando essas tecnologias começaram a surgir, um dos primeiros exemplos que vi foi uma simulação de uma agência bancária. Em tese, quando o criminoso anuncia um assalto, ele manda todo mundo se deitar no chão. E o exemplo mostrado foi que a câmera identifica aquele movimento brusco e a partir daí a máquina por trás, que analisa esses dados, é treinada para que se acontecer isso, ligar o alarme avisando que há um potencial assalto. Isso é real? E até onde podemos ir com esse tipo de inteligência?

Alexandre Chaves: Existe, é real e já acontece de diferentes formas. Até onde isso pode ir nós não sabemos, estamos em um oceano azul de possibilidades e a cada cliente ou negócio que entramos, entendemos as dores, e percebemos que a tecnologia tem um espectro quase que infinito. O que muitas vezes determina o que vai ser o balizador disso é o quanto vai fazer sentido para o cliente um determinado custo para resolver a sua dor. Mas do ponto de vista da tecnologia não há o limite.

Isso que você falou do movimento brusco me lembrou de uma demanda recente solicitada por uma instituição financeira. A empresa queria que o sistema identificasse quando alguém puxasse uma arma em uma cena. É totalmente possível fazer, mas identificar uma arma na mão pode dar margens a erros na interpretação do algoritmo, pois o indivíduo pode estar com um celular, uma carteira ou um guarda-chuva, por isso fizemos uma lógica diferente.

O que é normal se alguém entra em uma cena e aponta a arma para alguém? A pessoa que se sente ameaçada e o primeiro movimento que faz é levantar os braços. Então nós treinamos o algoritmo para identificar uma pessoa levantando o braço na cena e assim disparar um alerta dentro da central de monitoramento. A partir disso, um analista totalmente treinado para aquele tipo de situação e com todo o processo engatilhado, dá sequência no plano de contingência para aquele tipo de problema.

Thiago Santana: Esses exemplos das agências bancárias são casos mais extremos. Nós conseguimos aplicar os algoritmos em situações do dia a dia? Como detectar movimento dentro de uma empresa em horários ou locais que não deveriam acontecer, por exemplo?

Alexandre Chaves: Sim, com certeza. Um caso prático: uma pessoa pode carregar uma carga dentro de um elevador social? Não, não pode. Isso pode trazer problemas para o complexo, por isso o gestor quer ser notificado.  

Outro exemplo é a ausência de uma pessoa em um determinado local, como na recepção de um prédio. Se aquele local ficar com a pessoa ausente por mais de um determinado tempo podemos gerar um tipo de alerta.

Mais um caso: alguém preso dentro de um elevador. Já pegamos situações que quando entramos na vida do cliente o interfone não funcionava, a pessoa ficou presa no elevador e não tinha como pedir ajuda.

São coisas que podem ser treinadas e o sistema pode trazer níveis de alerta. Essa história de fazer formação de filas em recepções em um momento como esse de pandemia, a aglomeração passou a ser um problema. Essas situações vão acontecendo, sendo ajustadas, adaptadas para a necessidade do negócio e de cada gestor, essa que é grande magia desse momento que vivemos hoje.

Thiago Santana: Um dos maiores fantasmas que os gestores têm na hora de analisar a possibilidade de implantar qualquer tecnologia é: como eu faço para manter, para ajustar, para mudar um comportamento e continuar fazendo com que aquele sistema dê a resposta que eu preciso. Óbvio que em uma implementação você vai tentar determinar todas as possibilidades. O que gostaria de perguntar é: o quanto esses sistemas são amigáveis ou não para que esses ajustes sejam feitos pelos usuários sem que para isso ele seja especializado? A solução é amigável ou depende de um suporte importante?

Alexandre Chaves: É amigável sim, evidentemente existem níveis distintos de soluções e sistemas, mas eu vou além, nós acreditamos na tecnologia solta, sem estar sendo vista ou tratada como uma solução. Quando falamos de solução, envolve um serviço, pessoas, um conjunto de situações que precisam trabalhar em perfeita harmonia para garantir que exista vida com a tecnologia. Nós não acreditamos nessa história de entregar uma caixa para o cliente e ela ficar estática, offline. Ela precisa estar online. Dependendo do nível da solução que é entregue com esses conceitos de deep learning ou de aprendizado de machine learning onde a máquina consegue aprender determinados padrões, ainda sim há esse cuidado de a cada 90 dias ou a cada seis meses garantir que o processo determinado na matriz operacional está acontecendo. Tem que ter um contrato, um processo fluído de serviço que tenha um acompanhamento. Eu acho sempre muito arriscado colocar uma caixinha e achar que o próprio gestor com tantas atividades vai ter que parar para repensar ou para poder analisar se aquilo ainda está fazendo sentido ou não. É importante ter o acompanhamento de alguém que vai garantir que aquela tecnologia está efetivamente entregando o melhor resultado e a qualquer sinal de mudança ter alguém ou elemento externo que possa trazer esse nível de provocação para a mesa.

Thiago Santana: Com toda essa inteligência presente no mercado de segurança, você acredita que os postos de trabalho serão cortados?

Alexandre Chaves: Temos uma percepção um pouco diferente sobre isso, acreditamos que tudo que puder ser automatizado é um caminho sem volta, será automatizado. A tecnologia tem o papel de nos ajudar a automatizar coisas e para isso abre um espaço muito importante para o ser humano, para que ele se desenvolva e ocupe um papel que a máquina jamais ocupará, que é esse senso humano. Por isso que a máquina tem o trabalho de analisar milhares de imagens procurando atividades fora dos padrões e o ser humano tem a responsabilidade de, ao receber o alerta, tomar uma atitude e resolver o problema.

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