O futuro do mercado de segurança eletrônica no Brasil

Por Claudio Gaspari

Falar sobre futuro no Brasil é sempre um desafio e, portanto, qualquer análise – por melhor que seja feita – ainda traz consigo um considerável grau de risco, mas tentarei fazer algumas considerações que acredito serem relevantes para traçarmos o futuro do mercado da segurança privada no Brasil.

Até meados dos anos 2000, o mercado de segurança privada foi dominado por empresas que ofereciam basicamente mão de obra de vigilância armada para clientes privados e públicos de médio e grande porte. Nessa época parecia ser uma fórmula de sucesso. Segurança era sinônimo de homens fardados e muitas vezes armados, e a tecnologia de segurança era pouco empregada, tanto por causa dos custos altíssimos de aquisição quanto pela limitação técnica dos equipamentos, que conseguiam realizar apenas funções muito simples e dependiam de uma grande interação humana.

A exceção eram as empresas de monitoramento de alarmes que atuavam e continuam atuando, basicamente no mercado de varejo atendendo residências, pequenos comércios e condomínios.

Porém, nos últimos 10 anos, mudanças profundas e com uma velocidade muito grande alteraram definitivamente o panorama do segmento de segurança privada no país. O principal agente dessa mudança não foi a diminuição da sensação de insegurança, nem tão pouco alguma mudança radical na legislação que regulamenta o setor, menos ainda a pior crise que o Brasil já enfrentou nesses últimos anos, apesar dela ter contribuído para a aceleração desse processo. O principal agente de mudança do segmento se chama “evolução tecnológica”.

A busca incansável dos clientes por redução nos custos com segurança, inicialmente no mercado privado e, posteriormente no mercado público, por meio da adoção de processos mais rígidos e transparentes de contratação que visam antes de tudo o menor preço, forçou o setor a se reinventar. Essa reinvenção só está sendo possível porque dois fatores – até então desfavoráveis com relação à tecnologia de segurança – conseguiram virar esse jogo. Tanto o custo dos equipamentos, que uma década atrás era altíssimo, se reduziu quase à velocidade da luz, como também houve um salto enorme em relação às funcionalidades dessas soluções.

Hoje uma câmera custa (em dólares) um quinto do que custava há 10 anos e faz sozinha o trabalho de cinco câmeras daquela época. Mesmo considerando os demais itens de um sistema de segurança que não tiveram uma redução tão significativa nos seus custos, bem como as características arquitetônicas e operacionais das áreas a serem vigiadas que muitas vezes prejudicam a desempenho dos equipamentos, com certeza a redução média de custo de um sistema de segurança eletrônica foi de no mínimo 60%.

O reflexo disso foi uma drástica redução no número de postos de mão de obra de segurança nas empresas privadas e uma redução também muito expressiva nas empresas e órgãos públicos. O surgimento de sistemas cada vez mais inteligentes permitiu o incremento de funcionalidades que eram simplesmente inexistentes 10 ou 15 anos atrás e causou uma substituição massiva de mão de obra por tecnologia e, obviamente, uma redução muito grande de custos por parte dos clientes.

Conceitos de inteligência artificial permitem que sistemas aprendam praticamente sozinhos sobre as características dos locais que estão vigiando, criem ou alterem automaticamente padrões de comportamento considerados “normais” e, ao mesmo tempo, consigam não somente identificar situações que fujam a esses padrões, como também são capazes de avaliar qual o tipo da ameaça, classificá-la dentro de uma escala pré-definida de prioridades e até mesmo dar início a medidas de segurança, sem a necessidade de análise ou intervenção humana.

Podemos então dizer que o mercado de segurança eletrônica vem atravessando um dos seus melhores momentos. Crescimentos de dois dígitos foram comuns na última década e tudo indica que continuarão a se repetir por mais vários anos. É exatamente aí onde mora o perigo, pois esse crescimento chamou a atenção de empresas de outros segmentos, como automação predial e industrial, climatização, telecom, infraestrutura de TI, entre outras prestadoras de serviços técnicos que, de olho nesse filão, passaram a ofertar sistemas de segurança eletrônica para seus clientes, incluindo esse tipo de serviço dentro de escopos mais amplos e tornando-se fortes concorrentes das empresas tradicionais do segmento de segurança eletrônica.

Isso quer dizer que as empresas de segurança eletrônica irão desaparecer? Com certeza somente as empresas com capacidade efetiva de desenvolver soluções e produtos inovadores, e que agreguem valor para o cliente continuarão a crescer e prosperar. Mesmo assim, será necessário que empresários e executivos do setor deixem a zona de conforto da segurança eletrônica e passem a disputar mercado nesses outros segmentos, conseguindo não apenas proteger seus negócios, como ampliar a atuação de suas empresas com o aumento da oferta de diferentes produtos e serviços (cross selling) para seus clientes.

Cláudio Gaspari começou sua carreira na área de serviços atuando no ramo de catering industrial, passando por algumas empresas como Eurest e GR, do Grupo Ticket. Em 1993, ingressou no Grupo GP e Serviços, uma das maiores e mais tradicionais empresas de segurança do Brasil. Lá, ficou durante 12 anos, sendo os cinco últimos como diretor comercial coorporativo. Atualmente, Gaspari é presidência da Veotex.

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