Quando a segurança encontra o design: a estética dos equipamentos como parte do projeto arquitetônico

Estética, design e desempenho de fluxo estão redefinindo os equipamentos de controle de acesso em projetos corporativos e institucionais


Por Fernanda Ferreira

Durante décadas, os equipamentos de controle de acesso foram pensados apenas para cumprir uma função: bloquear ou liberar a passagem. Cabia à catraca ser eficiente…e só. Hoje, essa lógica virou do avesso. Em grandes empresas, hospitais, aeroportos e até universidades, os bloqueios de entrada ganharam status de peça de design, com linhas elegantes, acabamentos sofisticados e um novo papel: integrar-se com harmonia ao projeto arquitetônico, melhorar a experiência do usuário e transmitir uma mensagem de inovação logo no primeiro contato.

Essa virada não é estética à toa. O design dos equipamentos passou a ser um diferencial competitivo e uma demanda concreta de arquitetos, gestores e clientes finais.

Para falarmos sobre esse assunto, conversamos com Filipe Nunes, gerente da Divisão de Controle de Acesso do Grupo Digicon, que conta como a Digicon incorporou a linguagem do design à sua engenharia. Ele fala sobre os novos conceitos que orientam o setor, as soluções personalizáveis da marca, os impactos da estética na percepção do ambiente e as tendências que estão moldando a próxima geração do controle de acesso: mais fluida, mais conectada e muito mais bonita.



Revista Segurança Eletrônica: Durante muito tempo, o controle de acesso foi visto apenas como uma ferramenta de segurança. Quando o design começou a entrar nessa equação?

Filipe Nunes: A partir dos anos 2000, observamos uma significativa sofisticação nos projetos arquitetônicos no Brasil. No entanto, as soluções de controle de acesso ainda permaneciam limitadas a tecnologias mais primitivas, como as catracas eletromecânicas modelo trípode, amplamente utilizadas em diversos tipos de empreendimentos. Com o tempo, a Digicon identificou que esses modelos já não atendiam às novas exigências estéticas e funcionais dos ambientes modernos.

Nosso primeiro produto de controle de acesso, a Catrax – uma catraca eletromecânica de 3 braços –, já nasceu pensando em design. Com linhas mais arredondadas e o uso de matérias mais modernos para um produto que tradicionalmente foi, no Brasil e no exterior, “quadradão”, de ângulos retos, ou seja, muito mais para uso em ambientes industriais do que recepções de prédios.

Em 2014, lançamos uma linha de equipamentos com design inovador e maior flexibilidade, capaz de se integrar tanto a projetos arquitetônicos contemporâneos quanto à revitalização de ambientes existentes. Assim nasceu o dGate, desenvolvido com o renomado designer industrial alemão Alexander Neumeister, membro do conselho internacional do Prêmio Objeto:Brasil. Neumeister é conhecido mundialmente por projetos emblemáticos como os trens-bala Shinkansen no Japão, o Transrapid na China, o ICE-3 na Alemanha, além dos trens da Linha 4 do Metrô de São Paulo.

Em 2016, demos mais um passo à frente com o lançamento do dFlow, um equipamento revolucionário baseado no conceito de acesso Free Flow, em que apenas os usuários não autorizados são bloqueados, promovendo uma experiência mais fluida e inclusiva. O dFlow foi projetado para atender todos os públicos em um único equipamento, com largura de 900 mm, garantindo o acesso tanto de pedestres quanto de pessoas com mobilidade reduzida.

Nosso entendimento é que o design foi um dos primeiros atributos para trazer mais hospitalidade a catracas, bloqueios e ambientes de controle de acesso em geral.  Novos conceitos de hospitalidade estão agregando e se formando, inclusive de acesso com menos ou nenhuma fricção, corredores mais largos e confortáveis e aspectos de inclusão mais amplos, tudo isto sem prejudicar os níveis de segurança.


Revista Segurança Eletrônica: Hoje, vemos catracas e bloqueios que lembram peças de design, especialmente os equipamentos fabricados pela Digicon. A estética se tornou um diferencial competitivo?

Filipe Nunes:  A estética e o design dos produtos de controle de acesso tornaram-se fatores fundamentais na decisão de compra. Os clientes buscam equipamentos que se integrem aos ambientes arquitetônicos, sem comprometer a harmonia visual dos espaços. A Digicon sempre foi reconhecida pela robustez e confiabilidade de seus equipamentos, e, mais recentemente, o design passou a ser um requisito adicional. Nossos produtos deixaram de ser apenas funcionais e passaram a fazer parte da composição estética dos ambientes muitas vezes sendo comparados a verdadeiras peças de arte. Essa valorização visual tem gerado impacto direto na atratividade dos espaços, que se tornam mais requisitados e ganham em ocupação e destaque.


Revista Segurança Eletrônica: Existe demanda do cliente final por equipamentos que combinem com o projeto arquitetônico? Quais são as verticais que estão mais preocupadas com isso?

Filipe Nunes:  A demanda por equipamentos que se integrem harmoniosamente aos projetos arquitetônicos tem crescido de forma significativa. Arquitetos e projetistas estão cada vez mais atentos à estética dos ambientes e buscam soluções que aliem tecnologia e design. Essa preocupação é ainda mais evidente em projetos de edifícios comerciais, instituições de ensino, aeroportos e hospitais, onde além da funcionalidade, a aparência e a harmonia visual têm um papel essencial. Já participamos de projetos em que a escolha dos equipamentos levou em conta não apenas o desempenho técnico, mas também o acabamento, cor e formato, para que tudo estivesse alinhado com o conceito arquitetônico do espaço.


Revista Segurança Eletrônica: A Digicon tem soluções usadas em hospitais, aeroportos e sedes corporativas. Como o design se adapta a esses diferentes contextos?

Filipe Nunes:  A Digicon está presente em alguns dos principais hospitais, aeroportos e sedes corporativas do Brasil, oferecendo soluções que se adaptam perfeitamente aos diferentes contextos e necessidades desses ambientes. Desenvolvemos uma linha diversificada de produtos como o dTower, dGate e dFlow que podem ser personalizados com diferentes tecnologias de leitura e acabamentos.

Cada projeto é tratado de forma individualizada, considerando o espaço disponível e as demandas específicas do cliente. Oferecemos opções com acabamento em aço inox, que trazem sofisticação e durabilidade, além de versões com pintura em epóxi pó, permitindo a personalização de cores conforme a identidade visual do cliente.

Um exemplo foi o projeto realizado para a Ferrero Rocher, em Luxemburgo, onde personalizamos os equipamentos dFlow com as cores definidas pelo cliente, garantindo que a solução de controle de acesso se integrasse de forma harmônica ao ambiente corporativo da marca.



Revista Segurança Eletrônica: Na visão da Digicon, quais elementos de design mais impactam a experiência do usuário?

Filipe Nunes:  Na nossa visão são a qualidade dos materiais, os processos produtivos que possibilitam a criação de linhas de design mais harmônicas e, principalmente, a tecnologia embarcada. Esses fatores se combinam para oferecer não apenas um equipamento funcional, mas uma experiência de uso mais fluida, intuitiva e agradável.

Um exemplo claro disso está no dFlow, que conta com janelas luminosas em padrão RGB. Além de contribuírem para a orientação e segurança do usuário durante a passagem, essas luzes podem ser personalizadas para reforçar a identidade visual do ambiente ou mesmo apoiar campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, criando uma conexão mais humanizada e acolhedora com o público.


Revista Segurança Eletrônica: Além da estética, existe também a preocupação com o conforto? O controle de acesso pode ser mais “gentil” com o usuário?

Filipe Nunes: Sim, a estética faz parte da sensação de conforto dos usuários, que valorizam cada vez mais a fluidez, a hospitalidade e a humanização no uso dos equipamentos de controle de acesso. O dFlow foi desenvolvido justamente para atender a esses requisitos. Além do design moderno, ele proporciona uma experiência de uso mais confortável e intuitiva para os usuários.

Atualmente, contamos com uma versão com largura de 1.200 mm, que oferece ainda mais espaço, ideal para pessoas com malas, mochilas ou necessidades especiais – sem comprometer a eficiência do controle. O equipamento utiliza um algoritmo de inteligência artificial capaz de identificar a quantidade de pessoas no interior do sistema e distinguir com precisão entre pessoas e objetos.

Essas funcionalidades fazem do dFlow não apenas um equipamento de segurança, mas uma solução que trata o usuário com mais gentileza, respeito e eficiência, reforçando o compromisso da Digicon com a inovação e a experiência do usuário.


Revista Segurança Eletrônica: O que ainda precisa mudar no mercado brasileiro para que o design seja mais valorizado nas decisões de segurança eletrônica?

Filipe Nunes:  Ainda é necessário que o mercado brasileiro compreenda que os equipamentos de controle de acesso vão muito além da funcionalidade e da segurança. Quando bem escolhidos, esses equipamentos podem valorizar os espaços, influenciar diretamente na percepção do ambiente e até colaborar com a atratividade e a taxa de locação de imóveis corporativos e comerciais.

É fundamental que os clientes considerem que vão conviver com esses equipamentos por muitos anos. Por isso, além de robustez e confiabilidade – características sempre presentes nos produtos da Digicon – é preciso que o equipamento esteja em harmonia com o projeto arquitetônico. Temos casos de clientes que utilizam nossos equipamentos há mais de 20 anos, e que agora estão migrando para soluções mais modernas, como os bloqueios da linha dFlow, que além de alta durabilidade, oferece design inovador, fluidez no acesso, integração com o ambiente e níveis mais altos de segurança.

O design não é apenas estética: ele impacta diretamente na experiência do usuário, transmite profissionalismo e agrega valor ao espaço. O mercado está evoluindo, e acreditamos que a valorização do design será cada vez mais uma decisão estratégica nas escolhas de segurança eletrônica.


Revista Segurança Eletrônica: Quais tendências de design na segurança eletrônica vocês enxergam para os próximos anos?

Filipe Nunes: Para os próximos anos, enxergamos uma tendência clara de que o design na segurança eletrônica esteja cada vez mais focado na experiência do usuário, unindo estética, fluidez, tecnologia e inteligência de forma integrada. A intuitividade na interação com os equipamentos será essencial, os usuários esperam acessos rápidos, naturais e sem barreiras perceptíveis.  A ideia é que a tecnologia se adapte cada vez mais ao usuário ao invés do usuário ter que se adaptar a tecnologia.

Outro ponto importante é a integração entre o controle de acesso físico e a segurança lógica, garantindo não apenas o acesso ao espaço físico, mas também ao ambiente digital de forma segura e coordenada. Um exemplo disso é o uso do protocolo 802.1X, que já está presente nas controladoras da linha MCA da Digicon, permitindo o bloqueio ou liberação automática da porta de rede com base na autenticação do usuário no equipamento de acesso.

Além disso, soluções com inteligência artificial embarcada, como no caso do dFlow, permitem identificar padrões de passagem, diferenciar pessoas de objetos e oferecer uma gestão mais eficiente do fluxo. O design, nesse contexto, deixa de ser apenas visual e passa a representar inteligência aplicada, reforçando segurança, usabilidade e integração com o ambiente arquitetônico.

 Mas o design também deve ser pensado para o técnico e integrador que irão instalar e dar manutenção nos equipamentos. Portanto, não é só a questão estética, de segurança e funcionalidade para usuários, mas a facilidade de acesso aos módulos internos de funcionamento e componentes de integração (leitores, etc.).

Nossos produtos sempre foram pensados para atender a todos os usuários, ambientes controlados e técnicos que mantêm o equipamento.

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