Sistema de vigilância com uso de câmeras pela comunidade avança em bairros de Porto Alegre

Colaborar para que as ruas se tornem ambientes mais seguros é um dos princípios de um programa implantado há dois anos, no bairro Auxiliadora, na zona norte de Porto Alegre. O sistema de segurança, que usa câmeras de alta resolução, ganhou mais proporção desde então. Atualmente, os equipamentos estão instalados também nos bairros Moinhos de Vento, Higienópolis, Mont’Serrat e Petrópolis.

O programa começou a ser implementado em 2022, numa iniciativa da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Auxiliadora (AMA). Segundo o presidente da entidade, João Volino Corrêa, ao perceberem um aumento de ocorrências no bairro, moradores e comerciantes passaram a buscar alternativas para contribuir para conter o problema.

Desde então, afirma que foi possível perceber reflexos na segurança na região, com queda em assaltos, sequestros relâmpagos e depredação e vandalismos, entre outros. Há 17 equipamentos, com um total de 34 câmeras, instaladas no Auxiliadora. Cada um deles possui capacidade de monitorar cerca de 50 metros. Corrêa pondera, no entanto, que outras iniciativas do policiamento também foram relevantes para a redução da criminalidade.

— Não é só o fator da “Vigilância Colaborativa”. Não estamos fazendo o trabalho das forças de segurança do Estado, mas colaborando para ações ostensivas e investigativas mais assertivas. Nas áreas de cobertura, onde há o dispositivo, essa redução se mostrou bastante efetiva, em torno de 50% a 70%, conforme o levantamento que a gente fez — afirma.

Morador da Rua Felicíssimo de Azevedo, o professor Deloir André Ballester Ferreira, 60 anos, diz que o programa lhe trouxe mais sensação de segurança.

— Justamente pela abrangência do sistema, com vários condomínios com câmeras. Isso nos dá a sensação de segurança. Não vai impedir, mas inibe. Pessoal percebe que tem uma câmera, já pensa duas vezes antes de agir. Não é um custo, é um investimento — considera.

Na mesma rua, Verônica da Costa, 59 anos, também é uma entusiasta da medida. Mais de uma vez, a advogada já usou o link (um aplicativo que funciona no navegador, sem necessidade de fazer o download) para comunicar atividades suspeitas e ocorrências.

— Embora não vá nos proteger no momento do assalto, tu podes ir atrás depois, acionar a Brigada Militar, buscar as imagens. A gente pode informar a atividade suspeita. Não é incomum acontecer aqui uma situação suspeita. Tem esse instrumento para se valer num momento que precisa — diz.

A contratação do serviço é realizada por meio das associações de moradores de bairros. Quanto mais condomínios aderem, o custo reduz, explica o presidente da Ama. O intuito é ampliar a área de abrangência do programa ao longo do tempo, e chegar a mais bairros.

— A lógica da colaboração tem esse princípio: quanto maior a adesão, maior a expansão e menor o valor. A lógica é comunitária, colaborativa — diz Corrêa.

Expansão

Atualmente, nos cinco bairros há 33 equipamentos instalados, num total de 66 câmeras. No início deste ano, o bairro Mont’Serrat teve o primeiro equipamento do Sistema Astro implantado. As câmeras foram fixadas junto a um condomínio na Rua Mariland.

— Tudo aquilo que é para dar segurança à comunidade a Amobela sempre vai ser parceira. Seja em tecnologia, em mudança de comportamentos, o que for. A colocação de uma câmera já inibe. E as imagens ficam registrados, os movimentos ficam gravados — avalia o presidente da Associação dos Moradores da Bela Vista (Amobela), Luiz Felipe Irigaray.

Para o delegado Cristiano Alvarez, do Departamento de Polícia Metropolitana, a medida é vista como positiva, assim como outras nas quais a tecnologia também auxilia as investigações.

— É uma boa iniciativa. Se soma a diversas outras formas de busca de provas que a Polícia Civil utiliza nas suas investigações. Já houve casos que auxiliaram na elucidação. Sempre lembrando que essas ferramentas são importantes, mas somadas ao trabalho policial, que faz a investigação, a análise, em conjunto com outras ferramentas, outras formas de investigação. São sempre úteis. Há outras câmeras, do município, de particulares que auxiliam também — diz.

Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM), o tenente-coronel Daniel Araújo de Oliveira explica que não há atendimento diferenciado para os moradores que residem em áreas cobertas pelo programa. Na visão do oficial, a adesão ao uso de câmeras é uma medida importante, assim como outros recursos, como instalação de alarmes, por exemplo.

— Não existe nenhum canal diferenciado para o Astro ou qualquer segurança privada. Ele vai ser atendido como qualquer outra ocorrência que chega pelo 190. Não existe ligação com a nossa seção de inteligência. Claro que tudo que puder fazer para trazer mais segurança, vai ajudar. Tudo que puder implementar para melhorar a segurança do seu patrimônio vai refletir na segurança — afirma.

Delitos flagrados

Diversos crimes já foram flagrados pelas câmeras do programa Astro ao longo deste período. Num deles, um criminoso foi flagrado correndo após um assalto com faca. Ele foi preso logo depois pela Brigada Militar, com dois celulares. Em outro caso, ladrões furtavam fios na rua à noite, quando as imagens foram captadas. Eles também foram presos. Outro caso envolveu arrombamentos em veículos, onde os bandidos acabaram presos.

— Quando a vítima liga para o 190, está nervosa, muitas vezes não consegue dar todas as informações. A polícia fica naquele jogo de gato e rato. A gente entendeu que precisava de um cercamento inteligente, onde moradores e comerciantes tivessem na palma da mão esse link ativo, que fica salvo no celular deles. O programa permite que não só o local onde se deu a ocorrência seja registrado, mas também a rota de fuga, se o criminoso estava com uma moto, se estava sozinho ou tinha apoio. Da mesma forma, para a ação investigativa, a polícia precisa ir atrás da rua, onde foi o fato, procurar câmeras nos condomínios, pedir as câmeras. Se perde tempo com isso — avalia João Volino Corrêa.

O sistema ajudou a registrar também outros tipos de delitos, como abandono de uma criança numa calçada e um caso de crime sexual. Neste último, a vítima estava acompanhada de um homem, e foi empurrada para dentro de um veículo, mas conseguiu escapar.

— Ela dizia não, e ele não parava. Ela buscou as imagens, ao saber que existia o programa. A gente estava pensando que ia se deparar com esses crimes comuns, no entanto, a Vigilância Colaborativa apresentou outras demandas — explica Corrêa.

Fonte: GZH

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