Segurança eletrônica como instrumento de auxílio para as forças policiais

Marcos do Val é membro de honra e instrutor da SWAT, instrutor-chefe e fundador do CATI, instituição de treinamento policial. Também é criador de táticas policiais especiais, hoje difundidas em várias unidades policiais ao redor do mundo. Nesta entrevista, Marcos fala sobre a importância da segurança eletrônica e capacitação profissional e como funciona o sistema de segurança pública nos Estados Unidos.

Por Fernanda Ferreira

Segurança Eletrônica: Equipamentos de segurança eletrônica estão cada vez mais presentes na realidade da segurança pública. Temos visto as forças policiais utilizando soluções como drones, câmeras de corpo, centrais de monitoramento como um instrumento de auxilio, seja para um policiamento preventivo ou para uma ocorrência. Para você, qual a importância desses equipamentos de segurança eletrônica para a segurança pública?

Marcos do Val: Os equipamentos de segurança eletrônica são fundamentais. Eu vejo pela realidade americana, há uns 10 anos optaram por colocar câmeras nas fardas de todos os policiais para monitorar o trabalho deles, muitos foram resistentes no começo, mas eles entenderam que essas câmeras ajudam bastante nas ocorrências, nas operações e principalmente nas decisões judiciais.Nas cortes (tribunal americano) as imagens dessas câmeras se tornaram provas, que antes eram contra os policiais. Já está demorando para a polícia brasileira começar a utilizar equipamentos de segurança eletrônica, não só nas viaturas, mas nos uniformes dos policiais. Está mais que comprovado que as câmeras de monitoramento são uma das maiores ferramentas para inibir a criminalidade, ajudar nas ocorrências e na investigação de crimes, são equipamentos essenciais para a segurança pública no mundo inteiro. Fazendo um parâmetro com os Estados Unidos, aqui essas soluções já estão sendo usadas há mais de 10 anos, precisamos correr com isso no Brasil.

Segurança Eletrônica: Outro assunto que está em pauta nos últimos tempos é a questão do compartilhamento público privado. Trata-se de um modelo para aumentar a segurança pública com pouco ou nenhum investimento do governo. O setor privado é que investe nos equipamentos de segurança, como câmeras IP e gravações em nuvem das imagens 24h por dia, para o monitoramento de bairros, cidades e comércios. Como você vê essa parceria do setor público com as empresas e a sociedade civil?

Marcos do Val: Isso vem de encontro com a cultura do Brasil. O brasileiro coloca sempre a responsabilidade da segurança pública na conta do governo. Aqui nos Estados Unidos é um trabalho de todas as áreas, do governo, das empresas privadas e do cidadão. Nós temos policiais voluntários, são pessoas aposentadas ou adolescentes que sonham ser policiais, que doam seu tempo e não recebem nada por isso; temos as empresas, que além de terem os equipamentos de segurança, também contratam policiais (aqui o “bico” é legalizado e incentivado pelo departamento de polícia); também temos o trabalho policial e o investimento do governo. O investimento na área policial aqui é muito grande, o agente começa ganhando US$ 4.000 em início de carreira, tem diversos treinamentos a cada três meses e é obrigado a treinar e se capacitar constantemente. Se não estiver habilitado, sai do departamento de polícia. Aqui não tem estabilidade, então tem que estar sempre se aperfeiçoando.

Não tem que ser um ou outro fazendo, se a iniciativa privada está dando início a ação e está se sentindo sobrecarregada, nós temos como cidadãos que começar a exigir que o governo faça a parte dele e nós também temos que fazer a nossa parte. Nós vemos pessoas preocupadas com prevenção na área da saúde, por exemplo, e em outras áreas também, mas na segurança o cidadão não se preocupa e coloca sempre a responsabilidade para resolver os problemas na conta do governo. Nós temos que pressionar os deputados para fazerem uma legislação mais rígida, temos que pressionar o governo para fazer investimento na melhoria do salário dos policiais, nas condições de trabalho dos policiais.

O Espírito Santo foi um grande exemplo do que acontece com a falta das polícias na rua, então nós não temos essa dúvida de como seria sem policiais, está comprovado de que não há possibilidade nenhuma, todos os setores pararam pela falta desses agentes na rua. O brasileiro precisa entender a importância dessa categoria e que os investimentos devem vir de todas as áreas, seja na dedicação de tempo pela sociedade ou de novas tecnologias e salários pela iniciativa pública.

Segurança Eletrônica: Que tipos de investimento podem ser realizados para melhorar as forças policiais no âmbito da segurança eletrônica?

Marcos do Val: Desde a câmera acoplada na farda do policial até um computador de bordo com todas as informações da placa do veículo, do suspeito abordado, do GPS para que ele chegue mais rápido até a ocorrência, são várias maneiras de auxiliar a segurança pública com a utilização de equipamentos de segurança eletrônica.

Segurança Eletrônica: Você é fundador do CATI, um centro de treinamento para profissionais de segurança. Na sua visão, como está o cenário atual em relação a capacitação dos profissionais que atuam na área de segurança?

Marcos do Val: Estão ocorrendo melhorias nessa questão, mas a passos lentos. Sempre no Brasil foi a iniciativa do próprio policial investir na capacitação, ele tem que tirar do seu salário o investimento para se capacitar. Eu estou aqui nos Estados Unidos com quase 20 policiais brasileiros e todos vieram por conta própria para se aperfeiçoar, para prestar um serviço ainda melhor para a sociedade no Brasil, e não é barato vir até aqui. Estou há 17 anos dando aula aqui nos Estados Unidos e eu nunca vi nenhum policial tirar do bolso um investimento para treinamento, sempre é do próprio departamento. Eles têm uma legislação que ajuda bastante, que tudo que é apreendido retorna para o próprio departamento, seja carro, avião, barco, dinheiro, tudo é revertido automaticamente sem burocracia, eles apreendem, vendem, pegam o dinheiro e investem em treinamento, em equipamento, é uma coisa muito rápida e com muita agilidade retorna para a sociedade.

No Brasil infelizmente é a passos lentos, há uma diferença muito grande de 20 anos para cá, mas ainda assim o governo prefere investir em equipamento do que treinamento, porque a sociedade vê. Treinamento sempre é muito mais caro, temos uma cultura de entrar 100 em um curso e somente dez se formarem. Um exemplo: aqui nos EUA, se você quiser fazer parte da SWAT, você vai fazer a SWAT School, e se tiver 100 candidatos a escola da SWAT vai se dedicar ao máximo para formar os 100. Formando os 100, eles vão escolher os dez primeiros lugares para entrar no departamento da SWAT, os outros que não entraram voltam para os seus departamentos certificamos, com especialidades em várias áreas e são multiplicadores de novas técnicas, novas táticas e novas doutrinas. O conhecimento é espalhado com objetivo de atingir todos os policiais.

E no Brasil temos uma cultura que é o inverso, quanto melhor o treinamento, menos pessoas tem que ter acesso, então se entram 100 e o curso termina com quatro, é considerado o melhor curso, e isso a gente vê que é um desperdício muito grande de carga horária de instrutor, de investimento do governo para o treinamento acontecer, para que só três, quatro ou dez sejam beneficiados, essa cultura precisa mudar porque o crime avança em uma velocidade muito grande e a gente tem que entender que o conhecimento tem que atingir todos os níveis e todas as categorias policiais.

Segurança Eletrônica: Qual a importância dos treinamentos e capacitações para um profissional na área de segurança pública ou privada?

Marcos do Val: O treinamento na nossa área é uma linha muito tênue, porque se você falha no mundo corporativo, você deixa de ganhar, mas se você falha na área da segurança pública ou privada você perde uma vida, você incapacita uma pessoa, são consequências muito grandes e nós não temos nenhum apoio da sociedade, da imprensa e do governo para que o policial ou o profissional da segurança privada se capacite, seja referência, se sinta seguro. Eu vejo que isso ainda não está como pauta primordial, tanto para o governo como para os empresários, que preferem investir em equipamentos do que treinamentos e capacitações.

Segurança Eletrônica: Que tipo de equipamentos de segurança eletrônica você acredita que são fundamentais para o dia a dia das forças policiais?

Marcos do Val: Quando a gente fala de equipamento, eu gosto que sempre seja um investimento no mesmo peso e na mesma medida, ou seja, o mesmo investimento em equipamentos eletrônicos deve ser também em capacitação, seja para aprender a operar essas soluções ou outros treinamentos que possam agregar aos equipamentos eletrônicos que foram instalados.

Para categoria policial, tem as câmeras de monitoramento nas cidades que tem feito uma diferença gigantesca na segurança pública, as câmeras nas viaturas policiais, as câmeras de corpo. O equipamento de segurança eletrônica é a tendência no mundo inteiro, o Brasil precisa correr nisso porque países de primeiro mundo já entenderam que é uma ferramenta muito grande e potente. A sociedade brasileira tem que entender a importância do policial, a importância do agente de segurança privado, são pessoas que são capazes de doar a sua vida para proteger terceiros, proteger bens de terceiros e é uma profissão muito honrada aqui nos Estados Unidos e no Brasil ainda não. Precisamos caminhar nessa direção, entender que sem eles o país para, nada funciona, ninguém sai de casa.

Os investimentos na segurança pública devem ser feitos em equipamentos de monitoramento, porque é realmente a vanguarda na área de segurança pública e privada e não tem outro caminho. Nos EUA até para o próprio treinamento é utilizado ambientes chamados de CQC (Close Quarter Combat), que cada ambiente tem sua câmera filmando todas as ações do treinamento, para que depois os próprios alunos assistam e vejam quais foram seus erros, consigam entender de forma macro aonde falharam. O equipamento eletrônico ajuda não só na diminuição da criminalidade, mas também na formação e capacitação dos policiais.

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