Polícia, catraca, botão do pânico e mais: veja análise de 7 medidas em debate contra ataques em escolas
Em São Paulo, o governador estuda criar um programa de policiamento permanente nas escolas. No Rio, Claudio Castro anunciou o desenvolvimento de um aplicativo com um “botão de pânico”
Rondas policiais, catracas e detectores de metal na porta e até aplicativo de celular com botão de pânico são alternativas discutidas como medidas de segurança contra ataques em escolas, como os ocorridos no dia 11 de abril em Goiás, e dias atrás em Blumenau (SC) e São Paulo.
Alguns desses métodos têm sido considerados por governos estaduais e devem estar também na mesa de debate do grupo interministerial coordenado pelo Ministério da Educação (MEC) para buscar soluções sobre o tema.
Para analisar a efetividade dessas propostas, o g1 conversou com a pesquisadora da Unicamp Cleo Garcia; a integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Marcele Frossard; e o pesquisador do Núcleo de Estudo da Violência da USP Renan Theodoro.
Abaixo, veja o que os especialistas pensam sobre:
1. Policiamento nas escolas
2. Monitoramento por câmeras
3. Botão de pânico
4. Psicólogos na escola
5. Catracas nas entradas
6. Detector de metal
7. Grupos de apoio comunitários
1 – Policiamento nas escolas
A proposta é colocar policiais nas escolas a fim de coibir ataques. Essa medida tem sido discutida, por exemplo, pelo governo de São Paulo, que estuda criar um programa de policiamento permanente nas escolas do estado.
Efeito: Os especialistas consideram o impacto da medida apenas como alívio temporário, uma vez que a presença de policiais na escola pode inspirar uma sensação de segurança imediata nos pais, alunos e professores — que podem ficar preocupados diante dos recentes ataques — e inibir comportamentos violentos e hostis dos alunos. No longo prazo, os especialistas têm dúvidas quanto ao resultado efetivo e duradouro da medida.
“E pensando em um cenário que policiais ou seguranças de fato sejam alocados em escolas, eles não devem estar em porte de arma de fogo”, diz Renan Theodoro.
Consequências: A presença de policiais no ambiente escolar pode, no entanto, ter o efeito contrário do esperado, tornando o ambiente mais hostil e deixando os alunos desconfortáveis.
“A escola deve ser um ambiente de acolhimento. Imagine como deve ser para o aluno chegar lá e encontrar um agente de segurança que pode considerá-lo uma ameaça. Isso deixaria o clima de desconfiança e medo ainda maior”, avalia Marcele Frossard. Além disso, a presença de policiais não necessariamente aumenta a segurança na escola, como mostra um estudo realizado nos Estados Unidos.
Aplicabilidade: Os especialistas consideram que a medida teria uma aplicabilidade “difícil” e “complicada”, uma vez que não se sabe sobre a disponibilidade de policiais na ativa que possam ser alocados em escolas, além da incerteza sobre se estes profissionais estariam preparados para lidar com crianças e adolescentes no âmbito escolar.
2 – Monitoramento por câmeras
A ideia de colocar câmeras de vigilância nos principais pontos de acesso da escola está pautando publicações em diversas redes sociais. A medida foi adotada em Blumenau (SC), após o ataque que vitimou 4 crianças.
Efeito: Possivelmente inibir, temporariamente, atos de brigas, agressões e comportamento hostil na escola, e registrar imagens para apuração em caso de ocorrências.
Viabilidade: A principal dúvida dos especialistas é se é viável no âmbito nacional. Na prática, estados e municípios menores teriam maior dificuldade para adquirir e instalar o equipamento, assim como para encontrar instaladores especializados e para selecionar a equipe responsável pelo monitoramento.
Carências: O monitoramento por si só é um problema à parte, já que seria necessária a contratação de profissionais capazes de manipular o equipamento e monitorar com qualidade e eficiência.
Para os especialistas, há ainda outro ponto a ser discutido neste tema: é preciso ainda considerar que os criminosos geralmente buscam reconhecimento por este tipo de crime e possibilidade de ter o ataque registrado pode, inclusive, ser mais atrativa para alguns.
3 – Botão de pânico
A ideia é desenvolver um aplicativo para celular em que o aluno ou professor possa acionar um “botão do pânico” e alertar as autoridades policiais sobre eventual ataque. Essa medida está discussão no Rio de Janeiro, onde o governador, Claudio Castro, anunciou que pretende adaptar a tecnologia — que já é disponibilizada para pessoas vítimas de violência doméstica por meio de um aparelho específico — e lançar uma plataforma digital para receber os alertas.
Aplicabilidade: Para ser utilizado, seria necessário um aparelho celular ou semelhante, que não é universal entre os estudantes de baixa renda e não seria disponibilizado pelos governantes, o que por si só já torna a medida inviável.
Carências: Seria necessário também investimento em formação social para inibir o uso indevido do equipamento, causando situações de trotes.
Efeito: O equipamento atuaria para reduzir danos em situação de crise, mas não como preventivo a ataques.
4 – Psicólogos na escola
A proposta é ter ao menos um psicólogo por escola para cuidar da saúde mental dos alunos, identificar sinais de alerta e atuar na prevenção de situações comportamentais e de convivência que possa desencadear comportamentos agressivos.
Efeito: Com psicólogos alocados nas escolas, conflitos poderiam ser trabalhados assim que surgissem, ali mesmo, reduzindo o risco de retaliação violenta posterior.
Viabilidade: Atualmente, há escassez de psicólogos no Sistema Único de Saúde (SUS), o que indica que deve haver dificuldade na contratação destes profissionais para atuarem nas escolas. Para ser viável, seria necessária uma atuação conjunta da educação e da saúde e um investimento extra nas áreas.
Carências: A medida sozinha não neutraliza os riscos de ataques praticados por pessoas de fora da comunidade escolar, por isso, é necessário que haja psicólogos alocados em postos de saúde, hospitais e em outros âmbitos de atendimento social e de saúde, para atingir pessoas com diversos perfis.
5 – Catracas nas entradas
A sugestão é discutida especialmente nas redes sociais, como uma medida de garantir que apenas pessoas com acesso permitido por carteirinha escolar acesse as dependências da escola, impedindo ataques externos.
Efeito: Entrada mais controlada ao ambiente interno das escolas.
Viabilidade: Seria necessário um grande investimento para a compra, instalação, manutenção e operação dos equipamentos, o que dificulta a adoção da medida a nível nacional.
“A catraca pode reduzir o acesso de pessoas que não frequentam aquele espaço escolar, mas não teria efeito caso o possível agressor seja um aluno ou outra pessoa que tenha entrada permitida”, avalia Cleo Garcia.
6 – Detector de metal
A implantação de detector de metal em escolas já é pedida em alguns projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados. Um deles é assinado pelo deputado Alberto Fraga (PL-DF), que acredita que o equipamento é importante porque “pelo menos, evita que um aluno entre armado até mesmo com uma faca. Material cortante ou arma de fogo será detectado por esse aparelho”.
Efeito: Impedir que alunos entrem portando armas de fogo ou facas nas dependências da escola.
Viabilidade: Seria necessário um grande investimento para a compra, instalação, manutenção e operação dos equipamentos, o que dificulta a adoção da medida a nível nacional.
7 – Grupos de apoio comunitários
A proposta de formar grupos comunitários e intersetoriais já é amplamente discutida na comunidade escolar. A ideia é tentar aproximar a escola, a família e a sociedade civil por meio de grupos com representantes de todas as categorias que tenham interesse pela iniciativa.
Efeito: Integrar comunidade e escola, promover diálogos em um ambiente receptivo a discussões e debates importantes, viabilizar a busca por ajuda e evitar que situações de conflitos se desenvolvam em retaliações violentas futuramente.
Viabilidade: De fácil aplicação, já que carece de um menor investimento financeiro, mas carece de melhor definição e descrição de funcionamento prático.
“Essa é uma medida que teria efeito a médio e longo prazo, que ajudaria a unificar escola e comunidade e aproximaria o ambiente escolar de outros setores da sociedade”, considera Marcele Frossard.
“Solução deve ser multissetorial”
Para os especialistas ouvidos pelo g1, o problema é grave e a solução, complexa. “Algumas alternativas até podem ser promissoras se aplicadas juntas, mas não parece viável no panorama nacional, nem seriam suficientes para impedir ou repelir novos ataques”, diz Renan Theodoro, doutor em sociologia e pesquisador do NEV USP.
Cleo Garcia, que é mestranda da Faculdade de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp) e está realizando uma pesquisa com foco em ataques violentos à escolas realizados por alunos ou ex-alunos, concorda.
“Não é com única providência, uma ação única, que vamos resolver isso. Precisa ser algo integrado e multissetorial, que mobilize políticas públicas, a sociedade civil e a comunidade escolar”, diz.
Para isso, os especialistas avaliam que são necessárias ações em diversas frentes de prevenção, contenção e posvenção de ataques, com atuação política e legal, social e educacional.
Além disso, a escola também deve ser tratada como parte fundamental da sociedade e ser construída de maneira a valorizar e humanizar as relações.
“Os pais e responsáveis precisam se aproximar da escola, e não se afastar. Precisam entender que aquele espaço não é apenas para propor educação, mas socialização, e existem mecanismos ali dentro para os pais fazerem parte da rotina escolar”, explica o pesquisador Renan Theodoro.
A prevenção à violência nas escolas também deve passar também pela regulação e fiscalização do que acontece no âmbito digital, nos conteúdos disseminados na internet, a fim de impedir que discursos e ideias extremistas sejam distribuídos digitalmente, onde pode ser facilmente consumido por crianças e adolescentes.
O tema também foi destacado em um relatório da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, entregue ao Governo Lula pela equipe de transição.
“Precisamos entender a raiz do problema para desenvolvermos medidas eficazes de controle e combate. E só com políticas públicas que tratem do tema e uma sociedade alinhada que nossas crianças e adolescentes estarão protegidos”, completa Marcele Frossard, assessora de programa e políticas sociais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Fonte: G1
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