O que vai além das mortes dos agentes da segurança pública?
Por Carlos Guimar
A dimensão de mortes de agentes de segurança pública trazia nas manchetes dos jornais uma conotação de indignação. Por conta de uma infeliz rotina, o fato ficou comum e virou pauta fria nos jornais, especificamente no Rio de Janeiro, onde já é rotina ter um policial morto por dia. Será que nos acostumamos? Não deveríamos! O maior bem é a vida e ponto final. Isso não se questiona.
Quando a fatalidade entra sem impactos no cotidiano das pessoas é um sintoma inicial de uma grande doença cível, uma espécie de febre terçã que nos consome a cada dia, sinalizando apenas com dores que estarão por vir.
O conformismo não deve fazer parte da rotina. Não devemos aceitar simplesmente as mortes destes profissionais e relativizar com a velha desculpa galgada na ideia de que existem outras tantas profissões de risco. É um ato falho da sociedade civil justificar tais falecimentos em uma razão simplicista.
Sim, é válido ter uma reflexão específica quanto à perda sistemática destes agentes, pois eles são os responsáveis pelo estabelecimento da ordem e a garantia do cumprimento das leis. São considerados a mais forte barreira real existente entre o bem e o mal. Aceitar a morte dos agentes é a mesma coisa que concordar com o poder dos criminosos, rompido até o último círculo de proteção e, de fato, estamos de cara com o que há de pior.
Porém, mais valido ainda é saber que existem inúmeros fatores sociais e econômicos geradores de violência, os quais não são tratados com a velocidade necessária pelo Governo. A violência é ágil e o crime está cada vez mais banalizado, passando a ocorrer em plena luz do dia, diante dos nossos olhos. O resultado? Crescimento na estática. Apenas!
Quanto mais a mediocridade tomar conta mais vidas se perdem. Não podemos aceitar que nossos protetores sejam tratados como estatísticas. Eles trabalham muito diante de um cenário caótico, que só aumenta mesmo com o número de prisões, de apreensões de armas e drogas, e como o sistema criminoso não é rompido em outras esferas o que resulta são mais riscos e, proporcionalmente, morrem mais.
A solução está nas mãos novo governante eleito. Tendo coragem e determinação na divulgação dos planos e estratégias, colocando a população no centro da discussão, é uma possível saída. Todos serão ótimos críticos e fiscalizadores. Isso será muito bom. Demonstra a temperatura, dá o tom e auxilia nas mudanças quando necessário sob um regime democrático.
Porém, o ponto inicial do novo governante eleito é entender, de fato, o valor da segurança pública e entregar o tema a quem saiba conduzir de maneira estrutural, sem ações afoitas. Se faz importante criar uma política governamental urgente, com o foco em entender todas as adversidades para buscar potencialidades, e que mostre claramente o caminho para desenvolver seres humanos fortes e instituições sólidas.
Para arrematar, é fundamental ter a condução única e constante de especialistas em segurança pública, que não tenham outro interesse a não ser de preservar única e exclusivamente a integridade da sociedade como um todo, por meio de disciplinas rígidas e da coragem necessária para realizar as mudanças.
Carlos Guimar é especialista em segurança e sócio-diretor da ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense.