O estádio ainda pode ser um local de diversão e não de violência
Por Marco Antônio Barbosa
O Brasil é conhecido mundialmente pelo seu futebol e pela paixão que temos pelo esporte. Mas, como sabemos, esse amor incondicional acaba gerando o fanatismo que deixa um rastro de sangue nos nossos estádios. O último caso ceifou a vida da palmeirense Gabriela Anelli, de 23 anos, no último dia 10 de julho. Ela não resistiu aos ferimentos causados pelos estilhaços de uma garrafa de vidro atirada durante uma briga entre torcedores do time alviverde e do Flamengo, ocorrida nos arredores do Allianz Parque, em São Paulo.
Com essa morte, o futebol brasileiro contabiliza pelo menos sete em conflitos entre torcidas em 2023. O momento que deveria ser de diversão acaba nos cadernos policiais. E isso é uma realidade de muitos anos. Mas, em meio a esse cenário, como conter essa violência? Como impedir que assassinos travestidos de torcedores manchem o espetáculo que acontece dentro de campo?
São diversos fatores que fizeram com que o problema ganhasse a proporção atual. Por isso, a solução não pode ser alcançada sem um esforço de diversas esferas da sociedade.
A falta de planejamento em segurança por parte do poder público e dos clubes, além da conduta de uma parcela dos próprios torcedores, que integram facções e usam o futebol para ações criminosas, são os principais fatores para chegarmos ao ponto em que estamos.
Investimento não falta na segurança em geral. Segundo a 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada no último dia 20 de julho, as despesas com segurança pública no país foram de R$ 124,8 bilhões no ano passado, um aumento de 11,6% em relação a 2021.
O problema está em como investir corretamente. É necessário um plano nacional integrado e responsável. Para se precaver contra episódios de violência, o Estado precisa criar uma estratégia de transporte adequada para os torcedores, monitoramento em toda a região desse deslocamento, ter uma polícia treinada para intervir em possíveis focos, em um primeiro momento, sem uso da força, entre outras medidas.
Para coibir, as leis precisam ser duras e realmente punir os agressores. Impedir que torcedores potencialmente perigosos ou com histórico de violência entrem nos estádios, assim como foi feito na Inglaterra com os hooligans na década de 1990, prisões, multas, tanto para o agressor quanto para os clubes, são ações que inibem. As tecnologias de restrição de acesso atuais podem impedir a entrada de alguém nas arenas com o reconhecimento facial, por exemplo.
Outro ponto são as estratégias que envolvem os clubes. Eles precisam participar da solução, não incentivando a rivalidade extracampo ou patrocinando torcidas organizadas que possuem histórico na criminalidade.
Precisamos olhar a situação com a complexidade que ela tem, não somente agir com medidas pontuais. Somente com a união e o esforço de todos os personagens poderemos criar um ambiente seguro e em que o único foco seja o que todos queremos: os gols e desfrutar do grande espetáculo que é o futebol.
Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em Administração de Empresas, MBA em Finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.
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