Por Marcelo Rodrigues, diretor-geral da Commvault Brasil
A promessa das aplicações nativas em nuvem parecia perfeita: mais agilidade, escalabilidade e eficiência. No entanto, a realidade vivida por muitas empresas é bem diferente. Quando esses sistemas falham, o impacto vai muito além do simples tempo de indisponibilidade — envolve perdas financeiras significativas, queda na produtividade, desgaste das equipes e, em casos mais graves, prejuízos à reputação.
Uma pesquisa recente da Commvault realizada em maio de 2025, em parceria com a Enterprise Strategy Group (ESG), revela que 42% das interrupções em aplicações modernas não podem ser resolvidas apenas com backup e exigem uma reconstrução completa. Pior: o tempo médio para restaurar funcionalidades essenciais nesses casos chega a 40 dias úteis — um intervalo que, para muitos negócios, é simplesmente insustentável.
Ao migrar para arquiteturas modernas, as empresas ganham em velocidade e flexibilidade, mas também assumem uma nova carga de responsabilidades. Cada hora gasta reconstruindo aplicações é uma hora a menos para criar novos produtos, melhorar a experiência do cliente ou investir em transformação digital.
De acordo com o estudo, quase metade das empresas (41%) reconhece que incidentes de reconstrução atrasam iniciativas estratégicas. O efeito é sistêmico: equipes sobrecarregadas, cronogramas adiados, perda de foco em inovação. Além disso, o desgaste humano é expressivo — 49% das organizações relataram aumento do estresse durante períodos de reconstrução, enquanto 36% registraram perda direta de receita e 35% afirmaram ter perdido clientes em decorrência das falhas.
Complexidade técnica e novos riscos
O modelo de microsserviços, base das aplicações nativas em nuvem e um grande aliado dos negócios, é uma das razões por trás dessa dificuldade. Ao dividir a aplicação em diversos componentes independentes, mantidos por equipes diferentes, a recuperação torna-se um quebra-cabeça. Cada serviço pode ter versões, configurações e dependências próprias — e qualquer desalinhamento compromete o todo.
Outro fator crítico é o chamado configuration drift — alterações não controladas que se acumulam ao longo do tempo e dificultam a restauração para um estado estável. O levantamento mostra que 82% das organizações enfrentam esse problema em níveis preocupantes, e 69% reconhecem que isso prejudica diretamente a resiliência digital.
O cenário se torna ainda mais complexo no ambiente multicloud: 90% das empresas utilizam dois ou mais provedores de nuvem, mas quase todas enfrentam alta variabilidade nas ferramentas de proteção e recuperação. Isso gera ineficiências operacionais, necessidade de especialização em múltiplas plataformas e potenciais lacunas na estratégia de resiliência.
Persistir na recuperação manual, baseada em procedimentos tradicionais, é como tentar apagar um incêndio com um balde furado. A pesquisa indica que empresas que adotam reconstruções automáticas conseguem reduzir de semanas para horas — ou até minutos — o tempo de retomada das operações.
A automação não apenas acelera o processo, mas também elimina erros humanos, garante consistência entre ambientes e combate o configuration drift. Mais importante: libera as equipes de TI para se concentrarem em inovação e iniciativas de alto valor, em vez de ficarem presas ao “modo crise”.
Um alerta para líderes e tomadores de decisão
A verdadeira pergunta que executivos e gestores de TI precisam fazer não é “quanto custa implementar a automação na recuperação de aplicações?”, mas “quanto custa não fazê-lo?”. O estudo mostra que o impacto anual das reconstruções manuais, considerando apenas mão de obra especializada, pode ultrapassar US$ 210.836 — sem contar as perdas de receita, a fuga de clientes e os danos à marca.
Em um cenário de adoção acelerada de soluções nativas em nuvem — já presentes em quase metade dos novos desenvolvimentos de aplicações —, as empresas que prosperarão serão aquelas que tratarem a resiliência como parte do planejamento estratégico, e não como uma medida emergencial.
A nuvem trouxe novas oportunidades, mas também novos riscos. Reconhecer que a complexidade é inerente aos ambientes modernos é o primeiro passo para enfrentá-la. O segundo passo é agir proativamente, adotando práticas que reduzam a dependência de processos manuais e aumentem a capacidade de resposta a falhas. Claro, sempre muito importante é testar se os resultados dos planos de recuperação estão de acordo com as necessidades de negócio e aproveitar estas oportunidades para se aperfeiçoar, tal qual um atleta se prepara para uma competição. No final, é a prática que vai fazer com que as empresas estejam mais bem preparadas.
No fim, não é apenas uma questão tecnológica — é uma decisão de negócios. Empresas que enxergarem a resiliência como diferencial competitivo estarão mais bem preparadas para transformar crises em oportunidades e manter o ritmo da inovação, mesmo diante dos desafios da era digital.