Mergulhando na Análise de Risco

Por Kleber Reis

Quando decidi fazer um curso de mergulho, achei que faria a matrícula, aprenderia as técnicas de como lidar com os equipamentos e logo na sequência estaria no mar participando da vida subaquática.

Qual minha surpresa quando o instrutor no centro de mergulho me informou que teríamos metade da semana do curso com teoria, e que boa parte dela seria para falar sobre os riscos relacionados ao mergulho com ar comprimido. Riscos da tira da máscara estourar ou alguém bater na máscara e ela alagar lá no fundo do mar, risco do regulador falhar e sair ar demais em fluxo contínuo, risco de ficar sem ar, risco de subir rapidamente e ter uma doença descompressiva, incluindo embolia pulmonar que pode levar a óbito, risco de uma tira do cilindro se soltar, risco de se enroscar e ter que se soltar do equipamento lá embaixo e depois recolocá-lo, risco de perder o cinto de lastro, risco de ter câimbras durante um mergulho, risco do colete falhar e começar a inflar sozinho, e tantos outros inúmeros riscos listados um a um no manual, simulados na piscina e posteriormente no mar, não para te desmotivar a mergulhar, mas sim para te dar segurança de saber identificar os problemas e saber como reagir e lidar com eles, prevenindo e resolvendo caso aconteçam.

Na sequência do aprendizado, evoluindo nos cursos avançados, especialidades em primeiros socorros, mergulho em profundidade, mergulho em naufrágios, provedor de oxigênio, especialidade em equipamentos, mergulho com ar enriquecido, mergulho noturno, mergulhador de resgate e Dive Master, você analisa, mapeia e prevê situações de risco que podem ser desde uma pessoa cair do barco em movimento, escorregar no convés ou em uma escada de bordo, sofrer uma insolação, uma queimadura por água viva, uma mordida de algum animal subaquático ou mesmo uma parada cardíaca no barco e ciente dos riscos, previne que aconteçam, e caso ocorram, está preparado para responder aos eventos com as ferramentas, conhecimento e treinamento adequados.

Isso torna o mergulho autônomo recreativo um dos esportes mais seguros do mundo.

Também como engenheiro na integradora, em trabalhos realizados em grandes empresas, a equipe de segurança do trabalho exigia, antes do início de qualquer ação em altura, que os riscos fossem mapeados e assim prevenidos, que iam desde o risco de queda de uma ferramenta lá de cima (requerendo uso de cintos de ferramentas para a equipe e isolamento da área abaixo com cones e fita zebrada), até um risco de ser eletrocutado, de escorregar, de uma farpa no olho, de uma broca quebrar em rotação, e assim por diante.

E no seu negócio? Os riscos estão mapeados?

Como empreendedores na vida é fundamental que tenhamos dentro do nosso plano de negócios uma análise de risco, mapeando nossas fraquezas e ameaças e criando estratégias e ações que possam minimizar os efeitos negativos, caso aconteçam.

Recentemente um amigo empresário do segmento recebeu uma oferta sensacional, uma verdadeira oportunidade imperdível de incrementar sua receita em mais de cinquenta mil dólares mensais, efetuando serviços de manutenção uma carteira de clientes, pagando cerca de quinhentos mil dólares adiantados pela operação, e gastando mensalmente menos de cinco mil dólares para operacionalizá-la.

Em menos de um ano haveria o payback (retorno do investimento) e no médio prazo já se tornaria o melhor negócio feito até hoje pela empresa.

O negócio era tão bom que ele, na ânsia de assinar o acordo, abriu a guarda e não mapeou um risco na elaboração do contrato, que era o da empresa falir e deixar de prestar o serviço principal, comprometendo a sua fatia de receita antes mesmo dele recuperar o investimento inicial aportado. Negligenciou assim estudos básicos, preocupando-se com cláusulas operacionais, acordo de nível de serviço e demais, e adivinhem, haviam indícios e histórico de problemas que poderiam ter sido mapeados e previstos.

Um outro caso de estudo interessante é a história da Blockbuster, líder absoluta no mercado de videolocadoras com mais de nove mil lojas espalhadas pelo mundo, que negligenciou a ameaça da evolução tecnológica, e mesmo valendo mais de 9,4 bilhões de dólares, deixou de comprar no ano de 2000 a Netflix, que se ofereceu por apenas 50 milhões de dólares, deixando de fechar negócio por entender na época que o conteúdo online era apenas um nicho de mercado e que não era um bom negócio.

Sendo uma empresa gigante e líder do segmento não interpretou corretamente o risco que corria na época e subestimou tanto o potencial da pequena concorrente como a velocidade da evolução tecnológica.

Resultado final: a Blockbuster faliu e a Netflix, fundada na Califórnia em 1997 por Reed Hastings e Marc Randolph, passou a ter em duas décadas de existência cerca de 104 milhões de usuários, com valor de mercado de aproximadamente 75 bilhões de dólares.

Uma certa vez recebi uma ligação desesperada de um funcionário que estava retornando de uma obra para São Paulo pela estrada Airton Senna (antiga rodovia dos Trabalhadores), dirigindo um veículo da empresa com instaladores da equipe e atropelou a 120 km/h um andarilho que atravessava a estrada em um trecho escuro, causando a morte do andarilho e do instalador que estava no banco do carona.

É certo que sempre tendemos a achar que este tipo de coisa nunca acontecerá conosco, negligenciando o risco, mas neste caso o fato de estar usando um carro da empresa alugado com menos de dois anos de fabricação, dos funcionários estarem todos em situação regular, de termos um seguro que nos amparava e cobriria integralmente danos e despesas, tornou as trágicas consequências do acidente mais amenas.

Qualquer irregularidade, por menor que seja em uma situação como essa, poderia ter significado um problema com consequências para o resto da minha vida como empreendedor.

Riscos identificados e mapeados, parcialmente transferidos para a seguradora, e regularidade nas demais esferas fizeram deste evento apenas mais um aprendizado. Também tínhamos seguro de responsabilidade civil resguardando os clientes na execução de suas instalações, além de seguro contra incêndio na empresa, com lucros cessantes para casos fortuitos, acidentes e demais.

E no dia a dia, imagine se seu servidor de dados da empresa não estiver lá amanhã cedo. Como isso afetará sua operação? Como e onde estão os seus backups? Qual o tempo para restabelecer a normalidade? Qual seu plano de contingência? Qual o impacto na sua produção, no seu faturamento e na sua equipe? Qual o impacto nos seus clientes? Qual o impacto na sua família e na sua vida? Será que vão procurar o concorrente diante do seu eventual despreparo para uma situação adversa ou vão esperar você, que pensou neste risco e se preparou para esta situação?

Se conseguiu responder a estas questões, parabéns! Apesar de ser apenas um pequeno exemplo, já demonstra que está se preocupando e está preparado para enfrentar uma situação de risco mapeado.

Se não conseguiu responder, mas se preocupou e já está começando a pensar, parabéns também, pois mostra que tomará a partir de agora alguns cuidados adicionais, e meu objetivo de compartilhar informações e experiências contigo e de te ajudar já foi atingido.

Agora, se não conseguiu responder e não está preocupado, pois pensa que isso nunca acontecerá com você, então só posso desejar boa sorte, pois certamente vai precisar.

E na sua vida, os riscos estão mapeados?

Estar preparado ou ao menos ter pensado em soluções ou alternativas para situações adversas tornam os problemas mais fáceis de serem prevenidos e/ou gerenciados caso aconteçam.

Alguns riscos podem ainda ser amplificados por fatores externos sobre os quais não temos controle, pode ter relação com uma mudança de comportamento, mudança de cenário, algo inevitável ou improvável que tenhamos descartado na fase de análise de risco ou simplesmente não tenhamos considerado.

A perda de um emprego, o falecimento de um sócio, a perda de renda com o desaquecimento da economia, uma separação do cônjuge, um familiar entrando para o mundo das drogas, um desastre natural, um furto ou roubo, um acidente automotivo, uma fusão da empresa onde trabalha com uma empresa maior, um sequestro, um incêndio, um alagamento, e tantas outras ameaças no nosso dia a dia.

Economicamente, aplicar a regra de ouro e gastar menos do que recebe, poupando para situações emergenciais, é básico para termos tranquilidade e fôlego para nos reposicionarmos em tempos difíceis, apesar de infelizmente muitos de nós não a aplicarmos e negligenciarmos este risco.

Ouvi um pouco tarde, mas a tempo de repassar a meus filhos, uma história de um judeu que sempre, a vida inteira, manteve um padrão de vida um degrau abaixo da que sua situação permitia, fazendo-o sempre poupar a diferença, e nunca tendo que retroagir, uma vez que nas situações difíceis já estava um passo atrás, andando só para a frente a vida inteira.

Aplicando o que poupa periodicamente, vai gerando renda passiva com os rendimentos e, após alguns anos, já não depende mais do seu próprio esforço de trabalho para se sustentar, e a receita do trabalho gera ainda mais dinheiro, criando um ciclo de riqueza que lhe permite hoje ter uma vida plena, sem restrições na questão financeira.

E o que vemos em geral na classe média brasileira é uma visão de utilização do crédito para ter sempre um pouco mais do que podemos pagar, ter um carro mais bacana, morar num apartamento com uma varanda maior, numa casa em um bairro mais chique, e nos momentos difíceis tendo que se desfazer de bens, reduzir despesas e dar dois passos para trás.

Nos relacionamentos interpessoais, pensar em uma eventual separação, provisória ou permanente, nos mantém em alerta e atentos, o tempo todo.

Imagine estar separado amanhã da pessoa que você mais ama. Seu pai, sua mãe, seu filho, filha, cônjuge. Seja por vontade própria, pelo acaso, seja por uma providência divina para quem acredita em Deus. O que você, leitor amigo, faria agora, neste momento?

Diria que a ama, agradeceria por estar junto, a perdoaria? Se fizer isso todos os dias, no presente, no agora, não deixará pendências e, quando acontecer, estará com o coração, a mente e a consciência tranquila.

Imagine que você pudesse antecipar o futuro e descobrir que seu parceiro amanhã queira se separar de você. O que você pode fazer hoje, agora, no presente, neste instante, para que isso não aconteça amanhã? Surpreenda-o! Faça hoje o que não faz há muito tempo. Faça hoje com ele o que você gostaria que fizesse com você. Diga a ele sobre seus sentimentos, abra seu coração. Surpreenda com um presente, um carinho, uma palavra, um olhar. E observe que não estamos falando aqui de coisas materiais.

Minha esposa fala aos meus dois filhos, pelo menos umas cinco vezes por dia, que os ama, que são lindos, que são vencedores, os mais educados, os mais amados. Eu falo só uma vez por dia, normalmente ao deitar, mas também pratiquei isso com meu pai, que se tornou meu grande amigo antes que ele falecesse muito novo a cerca de 15 anos atrás.

Enfim, o respeito, o amor, a caridade, o perdão, colocando- se na posição do outro, calçando os sapatos do outro e não apenas observando seu caminho, diminui os riscos da vida, nos tornam pessoas melhores e consequentemente mais felizes, mas é necessário saber onde queremos chegar, e para isso, é necessário planejamento com objetivos claros, caso contrário, nossas vidas serão como barcos à deriva, sem rumo definido, mas isso já é tema para um novo artigo.

Kleber Reis é empreendedor, consultor, palestrante, escritor, mergulhador, engenheiro de produção eletricista formado pela FEI, especialista em segurança eletrônica com 29 anos de atuação no mercado.

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