Influência digital sobre os Planos de Auxílio Mútuo (PAM)

Por Marcelo Valle

Sem dúvidas, a tecnologia se tornou a maior aliada da sociedade durante o período de pandemia da Covid-19. E, ao que tudo indica atualmente, as soluções utilizadas nesse período irão perdurar, auxiliando neste e em outros desafios que virão.

Em momentos de reclusão e distanciamento social, a tecnologia desempenhou um papel importantíssimo para que as pessoas pudessem se conectar. Apresentou-se como uma peça fundamental em nossa vida pessoal e profissional. A possibilidade de se comunicar mantendo o distanciamento amenizou alguns dos efeitos negativos do isolamento e também da economia. Da mesma forma, o “mundo digital” vem ajudando o “mundo real” dos Planos de Auxílio Mútuo (PAM).

O que é ajuda mútua?

Mas antes de continuar, vamos entender melhor o que é “ajuda mútua”. O termo foi popularizado pelo filósofo Peter Kropotkin que argumentou as suas vantagens pragmáticas para a sobrevivência de humanos e animais, sendo indiscutivelmente tão antiga quanto a cultura humana. Seu argumento foi tão relevante para a seleção natural das espécies quanto as teorias de Darwin baseadas no conceitos de concorrência.

Nos serviços de emergência, a ajuda mútua é um acordo de prestação de assistência e socorro através dos limites jurisdicionais. Isso pode ocorrer quando uma emergência de alta demanda excede a capacidade de resposta de uma empresa que, na maioria das vezes, não tem como manter níveis de recursos suficientes para lidar com eventos extremos de forma independe.

Diante dos desastres e emergências de grandes proporções, em razão de sua magnitude e complexidade, a ajuda mútua fornece meios para que as empresas ou jurisdições somem seus recursos, quando for exigida uma resposta emergencial rápida, ampla e coordenada.

Por este motivo, os mecanismos permanentes de cooperação mútua contribuem com a diminuição do tempo de resposta e aumentam a força de combate, proporcionam uma redução dos danos a pessoas, patrimônio, operações e meio ambiente e, em alguns casos, no apoio sócio e econômico.

Estes mecanismos são constituídos com o propósito de atuar de forma conjunta por seus integrantes, respeitando-se é claro suas áreas de atuação e limites jurisdicionais. Mediante acordo, estabelecem os termos sob os quais as partes fornecem pessoal, equipes, instalações, equipamentos e suprimentos para uma parte afetada, segundo o National Incident Management System Guideline for Mutual Aid (US FEMA, 2017).

Como funciona a ajuda mútua no Brasil

No Brasil, são conhecidos como Plano de Auxílio Mútuo (PAM) ou Rede Integrada de Emergências (RINEM). São organizações sem fins lucrativos e de participação voluntária, com o objetivo de incentivar a criação de meios de ajuda mútua entre as empresas, governo e comunidade. Assim, se estruturam à comporem uma força tarefa capaz de prestar atendimento a qualquer ocorrência anormal que venha acontecer.

São regidos por meio de estatutos, geralmente protocolados junto aos Corpos de Bombeiro Militares, que definem a estrutura organizacional sob a qual atuam, considerando as especialidades e atribuições legais de seus participantes.

A coordenação do PAM é feita por uma comissão formada entre seus representantes e é conduzida por meio de assembleias com objetivos de, não só, organizar a cooperação mútua no atendimento a emergências, mas principalmente de implementar formas integradas de atividades voltadas à prevenção e combate a emergência, bem como promover a contínua e permanente capacitação a melhoria da performance e a evolução técnica e científica dos seus membros.

Novas formas de fazer velhas coisas

Com novas necessidades e a adoção de novos hábitos, os participantes do PAM-TAP tiveram que se adaptar aos encontros à distância por meio de ferramentas online, para continuar se reunindo, por meio dos encontros virtuais.
Só que a tecnologia não só permitiu a continuidade das assembleias, como também potencializou o fomento das boas práticas de prevenção e preparação para o controle de emergências, conseguiu integrar as empresas e gerar maior produtividade durante o trabalho remoto.

Foi assim que aconteceu com o PAM-TAP, Plano de Auxílio Mútuo do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, fundado no ano de 2012, com caráter organizacional e educacional de integrar as ações e recursos das empresas da região, na resposta a situações emergenciais.

Neste processo, o Portal Nepis surge como um fator importante e essencial para o PAM-TAP. A plataforma foi mais além do que ser um meio pelo qual as assembleias eram realizadas: trouxe o benefício aos participantes de poderem ser assessoradas por parceiros direcionados para a área de emergência. Entidades, empresas e pessoas consideradas de interesse relevante ao atingimento dos objetivos do PAM-TAP puderam participar de forma mais havida das reuniões, rompendo as barreiras culturais e geográficas.

Novas experiências, novos benefícios

O novo modelo proporcionou experiências únicas. O Portal Nepis gera um cadastrado dos membros e convidados do PAM-TAP, disponibilizando uma Carteira de identificação Digital para que eles possam participar das reuniões e eventos de HazMat. As reuniões são gravadas e, junto a atas e listas de presenças, ficam à disposição dos participantes no portal.

Mas, o maior benefício do Portal Nepis é o processo dinâmico de atração que evolui a cada reunião. Os conteúdos ministrados nas palestra atraem o interesse das empresas locais, que por sua vez possem necessidades específicas. Por meio do portal, o PAM-TAP busca e convida especialistas com notoriedade e capacidade de oferecer soluções para essas dores, por meio de palestras, divulgação de conteúdos e treinamentos.

A transformação digital ampliou o alcance deste processo dinâmico de atração. Um verdadeiro ciclo de desafios e superação que plataformas, como o Portal Nepis, trouxeram como benefício e que vai perdurar no tempo.

Mudanças que vieram para ficar

A nova era trouxe com ela uma facilidade enorme de conexão que não existia antes, fazendo com o modelo de trabalho híbrido seja a grande promessa no futuro. Como nada substitui o contato humano, o presencial não vai sumir e, por outro lado, a conectividade de hoje também não.

Mesmo com a retomada das atividades presenciais, reuniões de negócios, assim como as do PAM, serão mistas. Assim permitirão que membros e convidados distantes, ou que não puderem estar presentes, participem de onde estiverem.

As informações serão consolidadas e disponibilizadas em meio digital, o que facilita o fomento das boas práticas de prevenção e preparação para emergências. Não só os conteúdos debatidos nas reuniões, mas também matérias, pesquisas e estudos de casos poderão ser divulgados de forma a atender a necessidade dos participantes.

O melhor está por vir

Eu acredito que este processo híbrido, digital-real, pode ser mais explorado. Como por exemplo, a estruturação de um Portal de Treinamento Online, visando a elaboração e disponibilização de conteúdos teóricos para capacitação das pessoas que, quiçá, poderão inclusive atender a requisitos de certificações legais, como o de brigadista.

O desenvolvimento de aplicativos de medição, controle e gestão dos processos de prevenção, preparação e controle das emergências é outra possibilidade: imagine captar informações locais e as disponibilizar em tempo real?

Plataformas tecnológicas permitiriam às empresas monitorar, detectar e notificar a ocorrência de eventos adversos, permitindo a coordenação, controle e comunicação dos recursos de emergência. Sem contar a construção de uma base de dados com registros de ocorrências, visando o confrontamento de dados para a modelagem dinâmica de análise riscos.

O metaverso, terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais, pode ser fundamental para elevar a preparação dos PAM e RINEM a níveis nunca imaginados de treinamentos. Uma vez que a tecnologia tem como princípio criar um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de “realidade virtual”, “realidade aumentada” e “Internet”.

Tudo isso evidencia que a pandemia acelerou a transformação digital. A tecnologia “foi”, “é” e “será” uma ferramenta indispensável a nossa vida pessoal e profissional.

O novo normal

Temos que considerar que ainda não estamos aproveitando ao máximo as tecnologias, ou seja, tem mito por vir ainda.

Para se adaptar nesse novo cenário, todo PAM ou RINEM deve considerar em adotar estratégias sintonizadas com a nova realidade de trabalho, potencializando de forma dinâmica a sua capacidade de gerar valor para seus participantes.

A tecnologia não é só uma nova forme de fazer cosas velhas, permitirá investir no capital humano, disseminar a cultura da prevenção e preparação para o controle de emergências e cascatear as informações para as pessoas, integrantes das empresas participantes.

A nova estratégia deve observar as possibilidades que a transformação digital proporciona, com muito cuidado e visão de longo prazo, acompanhando sempre a interação “homem e tecnologia”.

Marcelo Valle
Especialista em gestão da segurança contra incêndio, diretor da Mvalle Gestão de Segurança Empresarial e consultor da Performancelab.

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