GSX 2021: o maior evento mundial do setor de segurança

Por Fernando Só e Silva, Luciano Caruso e Marcos Serafim

Como acontece há vários anos, a comunidade de segurança internacional se mobilizou para participar do maior evento mundial do setor, o Congresso e Feira GSX (Global Security Exchange), organizado pela ASIS (American Society for Industrial Security) que aconteceu nos dias 27, 28 e 29 de setembro, na cidade de Orlando, nos Estados Unidos.

Para nós, os autores deste artigo e, provavelmente, para muitos de nossos colegas da área de segurança, é um período em que nos dedicamos a ir aos Estados Unidos, na GSX, em busca de experiências práticas e teóricas.  O aprendizado com nossos pares internacionais e o intercâmbio de conhecimentos em um ambiente propício e descontraído são fabulosos. A aquisição de conhecimento no estado da arte do setor é grande, incluindo as palestras, os cursos e principalmente as visitas aos estandes das empresas expondo seus produtos, suas novidades e suas mais recentes inovações, sem deixar de fora os inúmeros happy hours que acontecem e promovem o networking. A tecnologia aplicada às demandas do setor está sempre presente com o que se tem de mais atual. Como sempre recomendado, depois de participar de sessões educacionais, visitar a exposição e passear no ASIS Hub, não se deve esquecer de clicar ou visitar a ASIS Store para ter acesso a vendas exclusivas de livros e mercadorias.

Este ano, da mesma forma como em 2020, nos mobilizamos e optamos pela participação virtual, uma vez que o evento foi em formato híbrido. A dificuldade para a participação presencial foi muito grande em função das restrições sanitárias impostas para entrar nos EUA. Eram exigidos cerca de 15 dias de quarentena em algum país próximo, comprovação de imunização com duas doses da vacina e ter realizado um exame, com poucos dias, evidenciando a ausência de contaminação pelo vírus Covid-19. Enfim, as restrições logísticas e sanitárias impossibilitaram nossa participação presencial. Dessa forma, mais uma vez organizamos algo próximo de São Paulo, com uma casa alugada na cidade de Cabreúva para dedicação “full time” aos três dias e engajamento na programação disponibilizada pela GSX Virtual.

GSX, ASIS e seus números

 A Global Security Exchange (GSX) é o evento para profissionais de segurança mais abrangente do mundo, há mais de 66 anos. Atendendo as necessidades da comunidade de segurança global, a ASIS projetou uma experiência pessoal e digital como nenhuma outra neste setor. Todos os anos o evento é desenvolvido por profissionais de segurança para profissionais de segurança, fornecendo educação, fomentando a construção de relacionamento pessoal, habilidades para avaliação de tendências no setor, produtos e soluções. A partir daí os negócios acontecem. A GSX é composta por cursos, seminários, palestras e uma grande feira de produtos e serviços do segmento. Neste ano, mais de 300 expositores se fizeram presentes, apresentando as mais recentes soluções de segurança e com a participação de cerca de 8.600 profissionais inscritos, oriundos de mais de 80 países, superando as expectativas. Em torno de 7.200 dos inscritos compareceram ao evento de forma presencial.

Fundada em 1955, a ASIS International é a maior organização mundial de profissionais de segurança.  Estruturada em capítulos pelo mundo, está presente em 142 países e conta com mais de 34 mil membros. No Brasil, contamos com Capítulos em São Paulo e Rio de Janeiro. A ASIS se dedica a aumentar a formação e a produtividade dos profissionais da área, desenvolvendo programas com ênfases na educação. Abrange os temas de segurança da grande maioria dos setores da economia, incluindo os assuntos operacionais, os táticos, os estratégicos, a tecnologia e já com forte atuação no ambiente digital, com a segurança cibernética. Se destaca como a principal fonte mundial de conhecimento, aprendizagem, rede de relacionamento, desenvolvimento de padrões de desempenho e de pesquisas. Por meio de suas certificações, reconhecidas mundialmente, da premiada revista Security Management e da GSX (Global Security Exchange), a ASIS garante que seus membros e a comunidade de segurança em geral tenham acesso ao conhecimento e aos recursos necessários para proteger pessoas, propriedades e informações. Como já destacado, o ápice anual de suas atividades é consagrado na GSX, com o seu congresso trazendo conhecimento especializado, juntamente com a exposição de produtos, serviços e novidades do setor.

Evento GSX 2021 Híbrido

A GSX ofereceu três dias repletos de educação e network para a comunidade de segurança global, ao vivo e sob demanda.

Já antecipadamente, em 15 de setembro, como parte do evento, houve a apresentação virtual de uma sessão tratando das perspectivas futuras para o setor e para a nossa sociedade em geral: Segurança 2030 – Encruzilhada de Inovação e Transformação, conduzida pelo famoso autor best-seller e palestrante motivacional, Erik Qualman.

O evento principal começou na segunda-feira, 27 de setembro. Após a apresentação classificada como Key-Note, conduzida pelo também famoso autor best-seller Daniel Pink, com o tema “Como Fazer o Tempo Seu Aliado, Não Seu Inimigo” – o salão de exposições foi inaugurado às 9h30. A partir daí o evento seguiu seu curso com as mais de 115 horas de educação, ao longo dos dias.

Uma novidade deste ano na GSX foi o “SM Live”, uma transmissão diária apresentando conversas entre líderes da indústria e a editora-chefe da premiada revista Security Management da ASIS International, Teresa Anderson. Ao todo, o “SM Live” compartilhou mais de 20 discussões sobre tópicos que vão desde a transformação digital à violência no local de trabalho.

As sessões diárias do denominado “Game Changer” forneceram painéis de discussão com foco em novas estratégias e no futuro, para elevar a experiência dos profissionais nas principais áreas de gestão de segurança; o enfrentamento de ameaças cibernéticas, saúde mental e bem-estar de funcionários e lições de gerenciamento de líderes militares femininas.

As sessões do “Palco X”, com foco em tecnologia, abordaram questões relacionadas à automação de processos robóticos, ransomware, reconhecimento facial, segurança de veículos autônomos e muito mais.

“Estou orgulhoso de meus amigos e colegas por organizarem o que é, por todas as métricas, uma GSX fantástica”, declarou John A. Petruzzi, Jr., CPP, 2021 presidente, ASIS International.

A GSX disponibilizou mais de 115 horas de educação em segurança com padrão internacional, ao longo dos três dias do evento, nas seguintes áreas temáticas:

Gerenciamento Organizacional;

Desenvolvimento Profissional;

Segurança Nacional;

Segurança Física e Operacional;

Gestão de Risco;

Transformação Digital / Segurança da Informação;

Liderança.

Da mesma forma que no ano anterior, embora a parte presencial do GSX tenha sido concluída no dia 29 de setembro, as transmissões sob demanda de todas as sessões estarão disponíveis para os participantes, através da plataforma digital, até o final de 2021. Também serão feitas algumas repetições, que ocorrerão em 20 de outubro e 10 de novembro. Essas sessões, com maior participação durante o evento, contarão com apresentadores presentes para responder às perguntas do público em tempo real. No próximo ano, a GSX 2022 acontecerá de 12 a 14 de setembro em Atlanta, GA.

Nossos Destaques da GSX 2021

Em nossos destaques deste ano, não poderíamos deixar de iniciar mencionando os painéis de participações dos nossos colegas brasileiros, membros da ASIS. No primeiro painel José Wilson Massa, gerente regional de segurança da Bloomberg, juntamente com Maria Teresa Septien, diretora da AFIMAC Global e Gabriel Torres, diretor da WSO, trataram das respostas à pandemia, do surgimento de conflitos sociais, da profunda crise econômica, das diversas eleições presidenciais e outros fatores que geraram mudanças no cenário político da América Latina. Responderam perguntas sobre os cenários políticos na região e quais as consequências para a indústria de segurança.

Tivemos também Gustavo Dietz, diretor de segurança para América Latina da Philip Morris International, que em conjunto com Dora Cortes, diretora da Cargill, e Enrique Tapia-Padilla, CEO da Altair Security Consulting & Training Services, discorreram sobre os grandes desafios que enfrentam a América Latina, incluindo as suas ameaças históricas e outras novas ameaças que surgiram e levam a repensar a estratégia de mitigação de riscos. Responderam quais são os principais riscos da região que afetam as empresas e como os profissionais e empresas estão trabalhando para mitigá-los.

O terceiro painel de brasileiros na GSX foi o de Eduardo Pereira, gerente de prevenção de perdas do Mercado Livre (MELI). Ele discorreu sobre o ESRM (Enterprise Security Risk Management), destacando que a implementação desta metodologia como parte de um projeto bem estruturado, permite com que os investimentos sejam baseados nos riscos reais das organizações e, também, a melhor forma de garantir o menor impacto na continuidade do negócio. Destacou que o ESRM é uma boa maneira de alavancar o negócio, com riscos conhecidos e tratados, investimentos corretos e indicadores-chave de desempenho (KPIs) mensuráveis. Ao longo de sua preleção apresentou a implantação bem-sucedida de um programa ESRM robusto em uma organização complexa e dinâmica, onde demonstrou quais os resultados auferidos e os reais benefícios ao adotar a metodologia ESRM. 

Também no rol de destaques para os nossos colegas brasileiros, o próprio presidente da ASIS Capítulo São Paulo, Benny Schlesinger (Gerente Sênior de Segurança na Península Participações), que esteve pessoalmente na GSX e compartilhou suas experiências no evento. “Este ano, participar presencialmente da GSX foi diferente. Uma feira menor, mas que manteve a qualidade dos produtos e serviços oferecidos. As palestras aconteciam simultâneas à feira e por conta da pandemia ocorreram em locais abertos, com distanciamento e uso obrigatório de máscaras. Um dos temas mais abordados, tanto nas palestras quanto na feira, foi o de OSNIT (Open Source Inteligence – Fontes Abertas de Inteligência) que tem como objetivo coletar informações de fontes publicadas ou disponíveis publicamente. Uma ferramenta essencial para manter o controle sobre as informações divulgadas com ou sem consentimento, seja no uso de Background Check (verificação de antecedentes) ou mesmo na busca proativa de informações sobre a sua empresa ou protegidos para mitigar riscos de Segurança”. Tudo isto tem uma conexão direta com o conceito de legado digital, parte da transformação digital, apresentado logo a seguir.

Como assuntos selecionados para trazermos um pouco mais de detalhes aos leitores deste artigo, abordamos duas palestras que foram destaques pela organização do evento, tidas como Key-Notes, e já mencionadas no início do texto. A primeira tem o título de “Segurança 2030: Encruzilhada de Inovação e Transformação”, conduzida por Erik Qualman e a segunda “Como Fazer o Tempo Seu Aliado, Não Seu Inimigo” apresentada por Daniel Pink.

Em “Segurança 2030: Encruzilhada de Inovação e Transformação”, Erik Qualman iniciou sua preleção apontando o fato de não termos mais escolhas em relação a transformação digital, a não ser decidirmos o quão bem faremos isto. A chave não é apenas entender as tendências digitais e sociais, mas mais importante, entender como elas funcionam juntas. Sua ideia foi apontar como conduzir a implementação das tendências atuais e futuras para maximizar o impacto de nossas organizações no mundo, à medida que avançamos para a próxima década.

Trouxe dados e informações para fundamentar seu discurso sobre a transformação digital, das quais separamos os que seguem: Em 2020, a média das pessoas falaram mais com bots do que com seus cônjuges; mais de 50% da população mundial está abaixo dos 30 anos de idade; 2 em cada 3 pessoas obtêm informações em redes sociais; 80% do consumo mobile é de vídeos; etc. Defendeu que devemos ter todos os hábitos, mas ser muito bom em um e aí cunhou um conceito que denominou de “STAMP”:

Simple (simples):

• O mundo já é muito complexo. Precisamos fazer as coisas simples para os nossos colaboradores, clientes e líderes. Diminuir o atrito (ou resistência).

• Evite a multitarefa. Apesar de parecer ser mais produtivo, seu cérebro vai priorizar uma atividade, portanto foque em uma atividade de cada vez.

True (Verdade):

• Qual será o seu legado? Tudo que você fez ou fará em qualquer mídia fará parte dele; seja verdadeiro em tudo. Você não conseguira apagar o seu passado. Dê importância ao seu legado digital.

Act (Ação):

 • Você e todos nós somos imperfeitos.

• Seja transparente. Admita que errou, como consertou e o que fez para seguir adiante.

Map (Direção):

• Seja persistente no seu objetivo e flexível no seu caminho.

• Se você não está tendo resistência, você não está sendo pioneiro.

People (Pessoas):

• Não há como trabalhar sem diversidade, igualdade e inclusão.

• Definitivamente o off-line se fundiu ao on-line. Não há como separar mais.

Em “Como Fazer o Tempo Seu Aliado, Não Seu Inimigo” “, Daniel Pink argumentou muito bem fundamentado em pesquisas por ele mencionadas que embora o senso comum traga a utilização do tempo como uma arte, ela é na verdade uma ciência e um dos problemas é que se sabe muito pouco sobre o tempo em si. Certamente com a ajuda da ciência, prosseguiu, pode-se aproveitá-lo muito melhor, estabelecendo quando devemos realizar determinadas tarefas, por exemplo, para tomar decisões mais inteligentes, para aumentar nossa produtividade e impulsionar o desempenho de nossas organizações. Com a capacidade de coletar dados e tirar padrões de comportamento daquilo que influenciam a segurança, podemos aplicar na determinação dos tão almejados padrões da consecução dos riscos e com a ajuda do “Big Data”, certamente, teremos condições de definirmos inferências para nos ajudar no dia a dia com as tarefas de mitigação dos riscos.

Trouxe conhecimentos de como o padrão oculto do dia afeta nossas capacidades analíticas e criativas, recomendando, em função disto, o desenvolvimento de táticas surpreendentemente simples e comprovadas para aumentar a eficácia, despertar a motivação e fornecer um sentido mais profundo do significado de nossa atuação no local de trabalho. Fez referências às questões naturais, por exemplo, o dia, relacionado à rotação da Terra em volta do Sol, influenciando nossa natureza física o que “certamente influencia na segurança”.

Fez um link de seus argumentos científicos da gestão do tempo com a área de segurança e ironizou que não podíamos pedir para os riscos aparecerem nos momentos do dia em que estivermos mais atentos e assim forneceu sugestões de como agir em função do ciclo temporal de nossa natureza física. Aproveitou e colocou em check as afirmações de que, em razão da pandemia, o trabalho no escritório seriam três dias por semana, que a semana de trabalho do futuro será composta de quatro dias e que os cinco dias semanais das 9h às 17h estão mortos, fazendo referência às grandes manchetes da atualidade. “Baseado em quê?”, perguntou ele, e logo em seguida emendou contra a tomada de decisões por intuição, uma vez que sempre podemos buscar dados e informações para fundamentá-las.

Para continuidade de sua linha de raciocínio, colocou em pauta dois estudos sobre humor e dois sobre desempenho, com as suas consequências sobre as atividades de segurança e como conclusões, desenhou uma curva ao longo do dia apresentando as variações do humor, deixando claro os momentos do dia com altos e baixos e as consequências sobre o desempenho.

Segurança deve estar vigilante o tempo todo, discorreu ele, e estar mais alinhado com a ciência é uma excelente ideia, principalmente na distribuição das tarefas para os momentos apropriados.

Recomendou a utilização de checklists como importantíssimo para garantir o desempenho das tarefas, principalmente durante a fase de baixo desempenho ao longo do dia. Ou melhor, ensinou: “use o tempo todo os checklists apropriados”, como uma forma de tangibilizar os processos (tal qual a metodologia Performancelab) e afastamento das improvisações.

Para finalizar o resumo de suas recomendações, trazemos seus alertas para a importância das pausas ao longo do dia de trabalho, devendo serem estas verdadeiros desligamento, cujas consequências imediatas, quando aplicadas, serão melhoras no desempenho, na qualidade de vida e certamente na segurança. Fez também referências a satisfação com o trabalho e que, em estando os colaboradores mais felizes, tendem a ser mais produtivos.

Como conclusões e finalização deste artigo, destacamos que é nítido o direcionamento econômico para o mundo digital e embora não tenhamos feito observações ao longo do texto sobre a convergência entre segurança cibernética e física, destacamos que o evento contou com inúmeras apresentações tratando desse assunto. Incluímos aí a percepção de grandes benefícios da adoção de uma estratégia de segurança holística, alinhando as funções de segurança cibernética e física com as prioridades organizacionais. Mais uma vez, como em outras ocasiões, lançamos mão do conceito das cinco forças disruptivas tecnológicas, compreendidas como nuvem, mídias sociais, mobile, big data e IoT, recomendando fazerem parte integrantes de qualquer análise, de forma que a organização esteja sempre preparada e aumente sua capacidade de reagir em qualquer nível, em uma eventual violação.

Fernando Só e Silva
CEO da Performancelab Sistemas e Diretor da FIESP.

Luciano Caruso
Diretor Geral da Haganá Tecnologia.

Marcos Serafim
Diretor de Negócios da Performancelab Sistemas e Diretor da FIESP.

*Todos são membros ativos da ASIS Capítulo São Paulo.

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