Gabriel capta R$ 35 milhões para avançar no mapa da vigilância privada
Com sistema de monitoramento e inteligência, startup carioca entrou em São Paulo e iniciou leitura de placas de veículos
Por onde se anda nas grandes cidades chinesas é impossível não notar a quantidade de câmeras que acompanham, nas calçadas e nas ruas, o movimento dos pedestres e dos veículos. Cidades como Xangai e Shenzhen encontraram no serviço de monitoramento urbano uma forma de tornar o policiamento onipresente – modelo que serviu de inspiração para a startup brasileira Gabriel.
A companhia, que atua em segurança privada e ajuda a munir de imagens a segurança pública, acaba de levantar R$ 35 milhões (US$ 7 milhões) em sua terceira rodada de investimento, desta vez liderada pelo fundo da Qualcomm, fabricante global de chipsets, e Astella, gestora brasileira focada em empresas de Software as a Service (SaaS). Fundos que já são acionistas da companhia, como Globo Ventures, acompanharam a rodada.
Criada em 2020, a startup já levantou um total de R$ 66 milhões atuando na instalação e monitoramento de câmeras em condomínios residenciais, pontos comerciais ou prédios de escritório. A rede atual é de 1,7 mil condomínios clientes, com sete mil câmeras instaladas nas duas cidades.
“Temos câmeras olhando a rua 24 horas por dia, que se conectam ao sistema nervoso central da Gabriel, com conexão de imagem 4G e telemetria, o que permite identificar em tempo real qual câmera está funcionando, qual apresenta problema. Já a ponta de software garante que o sistema não só enxerga como entende as imagens, uma visão computacional com inteligência aplicada”, explica Otávio Miranda, cofundador da Gabriel.
Agora, o capital adicional vai ajudar a companhia a concluir o mandato da série A, que era expandir sua operação, então concentrada no Rio, e aumentar a linha de produtos. “Crescemos 2,1 vezes no último ano, a empresa ficou mais robusta e atua hoje com muita intensidade no Rio e em São Paulo. Além da expansão geográfica, a leitura de placas é nossa grande entrega este ano”, diz Miranda.
Como o custo de processar imagens é alto, a companhia busca adicionar capacidades de leitura que não gerem custo adicional excessivo ao seus sistema e rede de clientes. “A informação vai para o software da Gabriel, que consegue compartilhar em alta velocidade com as autoridades, que têm os sistemas de identificação”, emenda.
Esse alcance do olhar da Gabriel faz com que a companhia estabeleça parcerias com o poder público, para dar acesso a imagens que podem ajudar a solucionar crimes ou fundamentar estratégias de combate à criminalidade. A Gabriel começou a colaborar respondendo a ofícios extrajudiciais, quando a polícia demanda imagens de um prédio específico. O que começou com demanda para um crime por mês hoje está em seis por dia e segue crescendo.
A estatística da empresa é uma colaboração com 3,2 mil ocorrências policiais até o momento, auxiliando na investigação para a prisão de membros de 200 quadrilhas e base para inocentar sete pessoas acusadas erroneamente.
“A Gabriel é uma Alexa de inteligência urbana”, define Miranda. “Tem uma distinção de segurança pública, que cuida do crime, para a segurança urbana, que compreende a natureza do que acontece no espaço público. Cada câmera interconectada aprende com nosso sistema, assim como a Alexa aprende com a Amazon.”
Neste ano, a startup quer também adicionar uma nova metrópole em seu mapa da vigilância. O adensamento urbano é relevante para que a empresa tenha escala e mostre valor ao cliente. “A nossa defesa de mercado é o tamanho da rede. Quem compete em São Paulo, por exemplo, foi para outros bairro”, diz o cofundador Erick Coser.
A companhia também quer buscar em 2024 a opcionalidade de gerar caixa. “Para uma companhia de crescimento acelerado, atingir o breakeven é de certa forma destruir parte do valor dos investidores, que estão investindo para a empresa crescer rápido. Houve excessos, todo mundo do mercado ficou traumatizado, e por isso ele tende a ir no sentido oposto”, diz Coser. “Para gente, é o caminho do meio. Não vamos gerar caixa, por definição, mas se tirar o custo de crescimento da Gabriel, tem que dar lucro. Essa é a nossa preocupação, que não era o caso antes”, emenda.
A startup também apertou o cinto no último ano, o que reduziu o crescimento projetado em quase três vezes. Mas a Gabriel também conseguiu reduzir em 75% o custo de seu equipamento desde que iniciou operações e também já testou a tolerância de preço do mercado dobrando o tíquete médio.
A ambição da startup é cobrir o Brasil de câmeras e poder pensar até em operação internacional. Mesmo nos mercados em que a companhia já está, o espaço é grande diante do nível de insegurança e infraestrutura. Enquanto em Xangai são 370 câmeras a cada mil habitantes, 27 em Londres e 25 em Nova Deli, o maior volume no Brasil está em São Paulo, com uma câmera a cada mil habitantes.
“Cidades como Xangai, Nova Deli e Tóquio entenderam que a garantia da segurança de qualquer cidadão ou cidadã passa pela capacidade policial de se fazer presente sem o uso da força, mas sim de um amplo leque de ferramentas de inteligência urbana”, diz Coser.
Miranda e Coser tinham feito uma imersão na China, quando estudaram, em diferentes períodos e interesses, em Pequim, e ambos atuaram na expansão da startup chinesa Mobike – depois adquirida pelo grupo Meituan-Dianping. Miranda participou ontem do evento Brazil China Meeting, promovido pelo Valor Econômico e Lide, em Shenzhen.
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