Evolução do mercado de segurança de perímetro

Das muralhas da época medieval a radares que monitoram 500 mil metros quadrados com um único sensor

Por Fernanda Ferreira

A crescente conscientização e preocupação das empresas em proteger as pessoas e seus ativos têm impulsionado cada vez mais o crescimento do mercado de segurança perimetral. Segundo a previsão da MarketsandMarkets, empresa de pesquisa e consultoria de mercado, a previsão é que esse segmento alcance globalmente o valor de 196,60 bilhões de dólares em 2022. O surgimento de tecnologias de ponta e recursos cada vez mais robustos também tem contribuído com esse crescimento. Para falar sobre esse mercado e das soluções disponíveis no Brasil, conversamos com o engenheiro Kleber Reis, CCO da Ôguen.

Revista Segurança Eletrônica: Poderia compartilhar conosco um pouco da sua trajetória profissional no mercado de segurança para que o nosso público o conheça melhor?

Kleber Reis: Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de falar com a revista e seu público e reiterar o respeito e admiração que tenho por este importante veículo de comunicação do nosso segmento e por toda a sua equipe.

Minha trajetória no segmento começa aos 16 anos de idade, em 1989, oportunidade em que ingressei na faculdade de engenharia industrial (FEI) e paralelamente trabalhava como instalador autônomo de alarmes analógicos. Trabalhei durante muitos anos como integrador e por isso entendo bem a dor desses profissionais do nosso setor. Prestei diversas consultorias desde então pela minha empresa Engenharia Segura, e em dezembro de 2016 recebi o convite do Hen Harel para realizarmos algo novo e desafiador. Fui apresentado aos Radares da Magos e como engenheiro testei e estressei muito o produto e me apaixonei pela solução. É fantástico quando você trabalha com uma solução que acredita completamente. Assim nasceu o braço de tecnologia da Ôguen, com a proposta de ajudar a resolver as dores da proteção perimetral no Brasil, trazendo para o país tecnologias israelenses inovadoras, agregando ao negócio o conhecimento prático da cadeia de negócios, as tecnologias empregadas, as políticas, os principais players e seus executivos, tendo construído nestes anos de batalha uma excepcional rede de relacionamentos no segmento.

Revista Segurança Eletrônica: Como especialista em segurança perimetral, como você vê esse nicho do mercado?

Kleber Reis: É desafiador! Os dispositivos de proteção perimetral ficam expostos a intempéries e problemas de toda natureza como chuva, ventania, neblina, descargas atmosféricas, queda de galhos de árvores, alagamento, insuficiência ou ausência de iluminação, sujeira, insetos, corrosão, vandalismo, necessidade de infraestrutura para alimentação elétrica e de dados, além da necessidade de proteção física e lógica contra surtos e dados.

Em contrapartida, a proteção perimetral é extremamente importante em um projeto, uma vez que antecipar o diagnóstico de uma tentativa de invasão torna mais rápida a resposta ao evento, podendo dissuadir o invasor ou mesmo minimizar as perdas e danos que aconteceriam quando este já está dentro da propriedade, seja ela um condomínio, um parque industrial, um porto, um aeroporto, uma hidroelétrica ou uma propriedade qualquer.

Daí parte a frustração das empresas de consultoria e especificadores do nosso mercado, que têm uma necessidade latente e demandam soluções, mas ao mesmo tempo já estão desgastados pelas péssimas experiências anteriores de altos investimentos e resultados insatisfatórios. E é para ajudar a resolver estes problemas com soluções inteligentes que nos especializamos e nos tornamos relevantes para o mercado em âmbito nacional.

Revista Segurança Eletrônica: Nos últimos anos, a forma de fazer segurança perimetral ganhou novos e importantes aliados, não se trata mais apenas de uma cerca e algumas câmeras. Poderia comentar essa evolução?

Kleber Reis: Este mercado evolui desde os castelos medievais, quando víamos a aplicação do conceito de anéis concêntricos com os barbacãs, os fossos, as muralhas, os buracos mortais. A questão é que agora a tecnologia está em crescimento exponencial e é um momento da curva de crescimento muito importante para o nosso mercado.

As cercas eletrificadas herdadas há mais de 70 anos da aplicação rural e que foram muito importantes para a proteção perimetral urbana, já não são eficazes para a maioria dos projetos – quando tratamos de perímetros maiores –, além de necessitarem de elevadíssima manutenção, sem mencionar as inúmeras vulnerabilidades.

Já as câmeras e vídeos analíticos que eu tanto admiro e acompanho estão sujeitos a todos aqueles desafios que citei na resposta à pergunta anterior e, consequentemente, quando mal dimensionados ou sem a real noção da necessidade de infraestrutura necessária acabam sendo meros geradores de alarmes falsos, uma vez que a matéria prima é a imagem, e não são raras as vezes que encontramos sistemas abandonados ou lentes cheias de teias de aranha, por falta de planejamento e do alto investimento na manutenção contínua que estes ambientes exigem. Entenda, na minha visão o problema não está na tecnologia, mas no seu dimensionamento e aplicação.

Desta forma as tecnologias de alta performance que necessitam de pouca infraestrutura, possuem baixo consumo e foram concebidas para trabalhar nestas circunstâncias adversas ganham cada vez mais espaço, como é o caso dos radares israelenses da Magos, que resolvem de forma extraordinária todos estes desafios todos, protegendo, por exemplo, meio milhão de metros quadrados com um único sensor IP no poste.

Este pequeno Radar IP da Magos no poste detecta um alvo em movimento nesta área gigante em quaisquer condições de clima e luz, comanda uma câmera speed dome como se fosse um operador no joystick para gerar imagens do alvo para a central (sem usar nenhum preset) e pode classificá-lo como humano, animal ou veículo com o apoio da inteligência artificial em deep learning. Por coordenadas GPS e um app proprietário da Magos ele consegue ainda informar se é um alvo amigo ou um invasor, e assim não gerar alarme com a movimentação de alguém da manutenção autorizado ou uma viatura de apoio da propriedade. Um único sensor é capaz de gerar inúmeras zonas de alarme desenhadas no mapa dinâmico através de polígonos livres e integrar com o acendimento de refletores, acionamento de cornetas VOIP para comandos de voz e outras providências, tudo remoto e em segurança, sendo uma verdadeira revolução na proteção perimetral de alta performance.

Revista Segurança Eletrônica: Recentemente você trouxe para o Brasil, por meio da empresa Ôguen, a mina terrestre eletrônica. O que seria essa solução e como funciona?

Kleber Reis: São sensores sísmicos fabricados pela SensoGuard em Israel que, uma vez enterrados, conseguem diagnosticar a passagem de humanos ou veículos em uma área. Por estarem enterrados, ficam invisíveis, protegidos de atos de vandalismo e sabotagem, sendo que também detectam tentativas de escavação. Sua aplicação é bem simples para as equipes de campo, dado que não necessitam de nenhuma ferramenta especial para a instalação, ou seja, é cavar e aplicar, lembrando que podem ser aplicadas inclusive em áreas com vegetação densa.

Revista Segurança Eletrônica: Qual seria o cenário ideal para usar uma solução como essa?

Kleber Reis: Qualquer local com terra é propício para a instalação, sendo integrável a qualquer painel de alarme ou VMS de mercado, lembrando que temos vários modelos na família de sensores para suprir as mais diversas necessidades em quaisquer verticais de negócios no país, de condomínios residenciais a aeroportos, passando por indústrias, parques eólicos, portos, usinas, hidroelétricas e demais. Assim as minas complementam o portfólio de soluções perimetrais da Ôguen, uma vez que os radares da Magos são disruptivos no conceito de proteção por metro quadrado e não mais por metro linear, antecipando o diagnóstico da tentativa de invasão antes mesmo da chegada do invasor no primeiro anel de segurança da propriedade.

Revista Segurança Eletrônica: Você é mesmo fã das tecnologias israelenses. Por que escolher os equipamentos de lá para implementar no Brasil?

Kleber Reis: Como integrador de soluções por mais de 26 anos sofri demais com soluções que prometiam muito e entregavam pouco, e aprendi com os erros. Israel tem uma tradição em segurança muito forte, pois é uma nação que não se permite errar quando o assunto é segurança. Certa vez, conversando com o Hen Harel, CEO da Ôguen, sobre as guerras travadas por Israel com seus inimigos árabes, ele me disse que se perdessem uma guerra, seriam simplesmente dizimados, uma vez que possuem hoje apenas 8,88 milhões de habitantes em um país cujo território é equivalente ao estado de Sergipe. Portanto, os produtos são muito robustos, com altíssima qualidade, tecnologia de ponta, normalmente testados e melhorados a partir das aplicações militares e assim entregam aquilo que foi prometido.

Israel também é considerada “startup nation” e respira inovação, sendo o país que concentra a maior média de empresas de tecnologia por habitante, possui a maior relação mundial de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) com relação ao PIB e ostenta mais empresas listadas na Nasdaq do que toda Europa, Japão, Índia, China, Coréia do Sul e Cingapura juntos. Soma-se a isso o fato de o Hen Harel ser israelense, ter sido chefe de segurança da embaixada de Israel em Brasília e termos assim estreitos laços nativos entre os dois países.

Revista Segurança Eletrônica: Além de engenheiro, você também é palestrante, certo? Como surgiu essa outra atividade em sua vida e do que você trata nas suas palestras?

Kleber Reis: Sim, sou palestrante e compartilho aprendizados da minha paixão que é o mergulho autônomo com equipes e gestores nos palcos e agora também nas transmissões on-line. Tudo começou com o desejo genuíno de ajudar as pessoas e empresas, de compartilhar conhecimento, e trazer para a reflexão paralelos do mundo subaquático, desconhecido pelo público em geral, com o dia a dia do mundo corporativo. Daí extraí destes 25 anos de atividade muitas lições que compartilho com o público através do projeto @mergulhandonavida – fica desde já o convite para seguirem nas redes sociais. Coragem, planejamento, trabalho em equipe, superação, criatividade, compliance, valorização, gratidão, são alguns dos pontos abordados nas palestras.

Revista Segurança Eletrônica: E para completar, Kleber Reis ainda encontra tempo para ser apresentador do Podcast “CT Cast – Fala Galera” e do programa diário Café com Segurança, transmitido no canal do CT Segurança. Como tem sido essa experiência?

Kleber Reis: Absolutamente incrível! Uma jornada de aprendizado e troca de experiências com grandes empresários, gestores, investidores, influenciadores do mercado, proporcionando ao público de forma gratuita a oportunidade de compartilhar esta experiência conosco, juntos, on-line, interagindo e contribuindo com o mercado, trazendo para a mesa boas práticas, motivação, união, sempre de forma leve e descontraída, mas com muito respeito e profissionalismo. Inclusive, convido a todos que ainda não se inscreveram a conhecer o trabalho no canal do CT Segurança no YouTube: www.youtube.com/ctseguranca.

E para finalizar, com relação ao tempo que você citou, eu costumo dizer que não conheço nada mais justo que o tempo. Ele é absolutamente igual para todos nós. Do presidente dos Estados Unidos ao vendedor de alarmes, do Papa à recepcionista, todos temos rigorosamente o mesmo tempo e a diferença está em onde investimos ele, uma vez que, além de ser um recurso finito, não podemos guardá-lo para usar depois. Ou usamos ou perdemos! No meu caso doar parte deste recurso para impactar de forma positiva o nosso mercado e os profissionais do segmento tem sido uma experiência sensacional.

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