Escalada da violência entre torcidas de futebol reflete falta de planejamento e investimento em segurança no Brasil

Pelo menos sete torcedores morreram em brigas no país neste ano; diretor da Came, Marco Barbosa vê ausência de prioridade para combater o problema

Com o trágico caso de violência que vitimou a palmeirense Gabriela Anelli, de 23 anos, que morreu no último dia 10 em decorrência dos ferimentos causados pelos estilhaços de uma garrafa de vidro atirada durante uma briga entre torcedores do time alviverde e do Flamengo, nos arredores do estádio Allianz Parque, em São Paulo, o futebol brasileiro passou a contabilizar pelo menos sete mortes em conflitos de torcidas em 2023. 

Ao comentar esse grande número de episódios graves, Marco Barbosa, diretor da unidade brasileira da Came, líder mundial em equipamentos para automação de acesso no mercado de segurança, ressalta que faltam planejamento e investimento de governos e dos próprios clubes para combater o problema.

“Na minha visão, os pontos principais do problema são a falta de planejamento e investimento em segurança por parte do poder público e dos clubes, além da conduta de uma parcela dos próprios torcedores, que integram facções e usam o futebol para ações criminosas. Isso acaba culminando na situação que vivemos. E uma das razões para isso é o poder público não fazer a sua parte, em termos de garantir proteção no entorno, facilitar o transporte para chegar ao estádio e pré-selecionar as pessoas que circulam nas vias de acesso, além de monitorar as mídias sociais para verificar potenciais confrontos entre as torcidas”, ressalta Barbosa, que também é especialista em segurança. 

O diretor da Came pondera ainda que a inexistência de uma legislação com penas mais rígidas contra os infratores colabora para o quadro permanente de violência. “Aqui no Brasil a gente conhece como funcionam as leis e isso reflete muito no que a gente vive hoje. Se quisermos, temos como resolver, mas é necessário planejamento e punições severas aos criminosos para não deixar a sensação de impunidade”, completa o representante da multinacional, que forneceu sistemas de gestão de acesso e controle de segurança em três estádios da Copa do Mundo de 2022, no Catar, e possui equipamentos instalados em outras arenas esportivas ao redor do planeta.

Segundo a 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada no último dia 20 de julho, as despesas com segurança pública no país foram de R$ 124,8 bilhões no ano passado, um aumento de 11,6% em relação a 2021. Barbosa reconhece que é relevante o alto valor desembolsado, mas enfatiza que apenas o aporte financeiro não é suficiente para garantir o sucesso no combate aos criminosos.

“O investimento é importante, claro, mas isso não vai resolver sem planejamento e ações efetivas. É um conjunto de pontos que precisam ser enfrentados para minimizar o problema”, analisa o diretor da Came, que ainda exalta a necessidade de um esforço conjunto dos clubes para reforçar a segurança em seus estádios e nos arredores em colaboração com as autoridades. “Há toda uma tecnologia disponível hoje para controlar o acesso e os deslocamentos dos torcedores, com equipamentos que fazem identificação facial ou biométrica, para reconhecimento das pessoas com histórico violento ou criminal. E elas precisariam ser identificadas e punidas com rigor pela lei. Você vai a um jogo para ter um entretenimento, mas acaba correndo o risco de sofrer um grande problema por causa da violência.”

Falta de prioridade para combater a violência

Para Barbosa, a falta de prioridade dos clubes com a segurança é uma realidade que está inserida em um contexto geral do país, onde faltam ações contra a criminalidade. “O investimento em segurança aqui no Brasil só é feito depois que acontece alguma tragédia. Essa cultura teria de mudar e as pessoas precisam colaborar também. E se você não monitora e não prepara o lugar para tentar minimizar os riscos, os problemas acabam inevitavelmente acontecendo”, destaca.

O Brasil foi palco de grandes eventos do esporte mundial nas últimas décadas. Depois de sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, abrigou a Copa do Mundo de 2014, que teve partidas em 12 cidades, e em seguida recebeu a Olimpíada de 2016, na capital fluminense. Nas três ocasiões, os fortes esquemas de segurança montados foram bem-sucedidos. Porém, esse nível de preocupação não é replicado para prevenir atos violentos nas principais competições do futebol nacional.

“A Came recebe pouca demanda de clubes preocupados em reforçar a segurança, até porque os times brasileiros, em geral, são muito endividados, e para eles as prioridades são outras. Isso ocorre com os governos também. Nós tivemos bastante consulta sobre projetos de segurança na época da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, mas essas ações foram pontuais. E isso ocorreu até porque havia os olhos internacionais em cima”, comenta Barbosa.

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