Por Andrei Junqueira, Channel Business Manager da Milestone para o Brasil
A segurança pública hoje exige soluções que vão além do tradicional: tecnologia interoperável, dados processáveis e capacidade tática. Atualmente, a videovigilância permite passar da observação reativa à ação em tempo real e até mesmo preditiva, integrando evidência e uma melhor prevenção.
A América Latina apresenta uma concentração crítica de violência que supera significativamente as médias globais. Segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em termos de percepção, 51% da população não se sente segura em seu ambiente, uma radiografia que evidencia tanto a gravidade do problema quanto a urgência de respostas.
Da mesma forma, no Brasil, 58% da população percebe um aumento da criminalidade nos últimos 12 meses, segundo uma pesquisa do Datafolha publicada em abril de 2025.
Nesse contexto, a boa notícia é que a gestão da segurança urbana já não precisa operar unicamente com enfoques reativos ou com ferramentas fragmentadas. É possível contar com soluções escaláveis, interoperáveis e estratégicas que integrem prevenção, análise e ação.
Em resposta a este cenário, os centros de comando e controle, também conhecidos como C4 e C5, estão operando como unidades táticas que combinam tecnologia e análise preditiva, o que permite uma gestão da segurança mais precisa e conectada.
Capacidades operativas dos centros de comando e controle
Em áreas urbanas do Brasil, onde a criminalidade é significativa, os Centros de Comando, Controle, Comunicação e Computação (C4) — e os C5, que também oferecem atendimento ao cidadão — estão se firmando como nós estratégicos. A função do analista de dados não se limita à observação, mas também permite antecipar, coordenar e atuar com base em evidências processáveis.
Graças ao software de gerenciamento de vídeo de plataforma aberta como XProtect® VMS da Milestone Systems, estes centros podem integrar milhares de câmeras de segurança e dispositivos de terceiros —desde sensores acústicos e leitores de placas até algoritmos de análise de vídeo em tempo real— sem necessidade de substituir a infraestrutura existente. Esta flexibilidade permite escalar desde instalações pequenas até infraestruturas críticas, adaptando-se a novas demandas sem perder eficiência nem rastreabilidade.
Os centros C4 e C5 operam como nós de coordenação tática e estão projetados para transformar a gestão da segurança urbana mediante o uso estratégico da evidência visual, mas sua capacidade preditiva depende diretamente das ferramentas que utilizam.
Com plataformas inteligentes de gerenciamento de vídeo, podem adotar, por exemplo, uma lógica preditiva: a análise em tempo real que permite detectar padrões incomuns, trajetórias atípicas ou veículos com placas previamente registradas. Estes sinais ativam alertas automatizados que desencadeiam protocolos, às vezes até mesmo antes que ocorra o incidente.
Da mesma forma, a interoperabilidade destes sistemas de gerenciamento de vídeo com plataformas de armazenamento como AWS, Azure ou Google Cloud habilita esquemas híbridos que combinam processamento em servidores locais protegidos com capacidades seguras na nuvem, facilitando a gestão centralizada de múltiplos locais desde uma só interface, melhorando a eficiência investigativa e fortalecendo a coordenação interinstitucional.
Segundo um estudo da Universidade da Pensilvânia, os casos que contam com vídeo relevante têm quatro vezes mais probabilidades de serem resolvidos que aqueles sem material visual.
Neste sentido, além da vigilância, os centros C4 e C5 também funcionam como laboratórios forenses digitais, gerenciando vídeo sob esquemas híbridos que permitem a preservação de evidência crítica, respaldados por auditorias periódicas que garantem a confiabilidade do sistema. Ao mesmo tempo, os fluxos de trabalho coordenados compartilham visualizações e ativam protocolos para otimizar o desdobramento operacional.
Tlaxcala: um exemplo de modernização operativa
No México, o estado de Tlaxcala demonstrou como a atualização tecnológica de um centro de comando e controle pode se traduzir em melhorias concretas na segurança pública. Diante do aumento de delitos como o roubo de veículos e as agressões a transportadores, a Comissão Executiva do Sistema Estadual de Segurança Pública (CESESP) decidiu ampliar sua rede de videovigilância, passando de 400 a mais de 1.200 câmeras integradas em um sistema de gerenciamento de vídeo de plataforma aberta.
Com o software de gerenciamento inteligente de vídeo da Milestone Systems como eixo do projeto, a nova infraestrutura do centro de comando permitiu reduzir os tempos de resposta e melhorar a coordenação entre operadores, analistas e corpos de segurança.
Após apenas dois meses de implementação, a incidência delitiva diminuiu 30%, e os roubos a transportadores se reduziram em mais de 90%. O centro opera agora como um sistema integral que combina monitoramento em tempo real, análise forense digital e visualização tática, integrando ferramentas para acelerar as investigações, gerar alertas inteligentes e otimizar o desdobramento operacional.
Da mesma maneira, em Hartford, Connecticut, Estados Unidos, o C4 conseguiu transformar seu modelo de vigilância urbana ao integrar mais de 1.400 dispositivos —incluindo câmeras, sensores acústicos e leitores de placas— no sistema de gerenciamento de vídeo de plataforma aberta. Esta infraestrutura melhorou a rastreabilidade probatória e a capacidade de resposta tática dos organismos de segurança, alcançando um aumento de 442% na resolução de casos de violência armada com evidência visual, além de reduzir a criminalidade com armas a seu nível mais baixo em quase vinte anos.
Este modelo demonstra que, mesmo em territórios com alta densidade populacional, é possível construir centros de monitoramento robustos, escaláveis e conectados, capazes de vincular prevenção, análise e ação com base em evidência processável.
No Brasil, enquanto as cidades demandam maior segurança, muitas infraestruturas de proteção continuam fragmentadas, com sistemas fechados e escassa coordenação interinstitucional. Não tem por que ser assim.
Além da nova tecnologia em si mesma, o verdadeiro potencial reside em sua capacidade para conectar fluxos de informação entre atores públicos e privados, habilitando a ação em tempo real e modelos de polícia preditiva, centros de comando regionais e estratégias de prevenção baseadas em evidência. Em um continente onde a segurança urbana é um desafio, a tecnologia de gerenciamento de vídeo se perfila como um habilitador chave para construir cidades mais seguras, conectadas e inteligentes.