Para proteger carga, empresa testa blindagem que dá choque no ladrão

A empresa T4S Tecnologia, em Barueri (30 km a oeste de São Paulo), está testando um sistema que combina dois dispositivos para evitar roubos de carga. Um deles é uma blindagem elétrica, que dá choque de 20 mil volts em quem tentar violar o baú do veículo.

O choque elétrico não é letal, mas repele a pessoa, causando desconforto físico por alguns minutos, explicou a empresa.

O sistema T4S é indicado para veículos que transportam cargas e mercadorias, como caminhões-baú, veículos utilitários e vans. Não tem utilidade para carro de passeio.

A blindagem em um caminhão-baú de oito metros, por exemplo, pesa 1.500 quilos. Segundo a T4S, não há aumento no consumo de combustível do veículo.

O objetivo do sistema é dificultar o trabalho dos criminosos, fazendo com que desistam do roubo do veículo ou da carga, ao encontrarem dois dispositivos que precisariam ser neutralizados: um bloqueador do veículo e uma blindagem elétrica, composta de materiais resistentes no revestimento do baú e uma manta energizada. Tudo acionado automaticamente.

“O baixo risco com prêmios altos é o fator que está atraindo cada vez mais criminosos para essa atividade. É impossível desassociar o vertiginoso aumento do roubo de cargas com a facilidade com que os criminosos agem. Roubar carga hoje em dia é fácil, muito rápido, fato que diminui muito o risco para o infrator. O grande objetivo aqui, portanto, é criar dificuldades que aumentem o risco para o bandido, forçando assim a sua desistência”, declarou Enrico Rebuzzi, um dos sócios da empresa. O outro sócio é Luiz Henrique Nascimento.

Antes da T4S Tecnologia, os dois eram donos da Direct Express, uma empresa de logística que foi vendida em 2013. “Como empresários de transporte, sofremos na pele os danos causados pelo roubo de cargas. Essa foi a nossa principal motivação na hora de escolher o novo segmento para investir”.

Dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística mostram que no ano passado foram registrados 25.970 roubos de cargas em rodovias do país, o que gerou um prejuízo de R$ 1,6 bilhão. A região Sudeste responde sozinha por 85,3% dos roubos, com Rio de Janeiro (40,81%) e São Paulo (40,75%) nas primeiras posições.

Manta energizada é acionada em caso de a tela ser violada

O sistema T4S é formado por um bloqueador de veículo e uma blindagem elétrica: uma tela resistente que reveste todas as faces internas do baú do caminhão, ao mesmo tempo em que isola a manta energizada. Esta se mantém desativada durante o percurso, sem nenhum risco ao motorista, à carga transportada ou às pessoas que passarem perto do caminhão e encostarem na carroceria.

A blindagem elétrica é como um sanduíche. A tela com materiais resistentes seriam os pães, e a manta energizada, o recheio.

No entanto, em caso de tentativa de violação ou perfuração da tela, fato que é detectado por sensores instalados no veículo, a manta energizada é automaticamente ativada e descarregará um choque de 20 mil volts,caso seja alcançada por algum equipamento perfurocortante. O choque irá repelir o criminoso.

Alexandre Piantini, 54, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), da USP, disse que, embora a tensão da tela energizada de 20 mil volts seja muito alta (superior à tensão que existe entre os condutores de uma rede de distribuição de energia, que é em geral de 13.800 volts), a corrente elétrica gerada é baixa.

“Além disso, essa corrente elétrica não é contínua, e sim pulsada, isto é, é aplicada na forma de pulsos, não fica passando continuamente pelo indivíduo que toca a manta energizada. Assim, apesar de provocar choques muito dolorosos, a ponto de deixar atordoada a pessoa atingida, o choque não deve, em princípio, ser letal”, afirmou.

O sistema também pode ser acionado remotamente pela central de monitoramento do cliente, quando o veículo sai da rota programada, fica parado em local não permitido ou o motorista aciona o botão de pânico.

O acionamento e a desativação do sistema são totalmente independentes da ação do motorista, que só no destino final tem acesso à carga transportada. Ou seja, ele não consegue abrir o baú do veículo durante o percurso.

Objetivo é “roubar o tempo do bandido”

A empresa não revela a composição da tela, mas disse que é formada por um mix de materiais para servir de isolante protetor da manta energizada e oferecer resistência física à quadrilha. A tela tem 3 cm de espessura.

“Pelos testes de resistência realizados (agindo exatamente como o ladrão faria), seria necessário quase uma hora de esforço de perfuração da tela antes de alcançar a manta energizada. Pense que o veículo nesta circunstância estaria imobilizado pelo bloqueador T4S. Os ladrões não terão tempo suficiente para violar essa tela, em função de sua resistência física. Mas mesmo que eles consigam, a manta será energizada, com descarga elétrica”, falou Rebuzzi.

Segundo ele, estatisticamente, os ladrões permanecem no local do crime por no máximo 15 minutos, tentando desativar as tecnologias e os mecanismos de proteção da carga.

Se a manta energizada ficar exposta, o sistema dispara um alerta sonoro, repetindo “Perigo, perigo, perigo. Mantenha-se afastado. Risco de choque. Forças policiais e de auxílio já estão a caminho. Mantenham-se afastados. Perigo, perigo”.

“Nada é intransponível. O princípio técnico do sistema é roubar o tempo do bandido. Mesmo que a quadrilha seja dotada de equipamentos antichoque, potentes ferramentas de cortes ou maçaricos, não terá tempo hábil para alcançar a carga em pouco tempo. O bloqueador do sistema faz o veículo parar em até quatro minutos, e a blindagem elétrica protege a carga no interior do baú até a chegada da polícia”, disse Rebuzzi.

Segundo ele, a blindagem elétrica é alimentada pela bateria do caminhão, mas possui uma bateria autônoma, dentro do baú, que tem duração de pelo menos três dias. Mesmo que os ladrões cortem os fios da bateria do caminhão, , por exemplo, a blindagem permanece energizada por três dias, no mínimo.

Se o cliente quiser manter a blindagem energizada por 30 dias, a opção é colocar mais baterias adicionais.

Blindagem elétrica está em fase final de testes

A blindagem elétrica encontra-se em fase final de testes, não estando, portanto, liberada para comercialização. O produto depende também de aprovação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). A meta da empresa é lançar o produto em outubro.

A empresa não divulga o valor da blindagem elétrica, alegando que o protótipo está “em fase de levantamento definitivo dos custos”. A T4S Tecnologia disse ter investido R$ 4,2 milhões para desenvolver a blindagem elétrica.

Bloqueador para o veículo em até quatro minutos

O bloqueador T4S, que vem instalado junto com a blindagem elétrica, imobiliza o veículo gradualmente e com segurança em um período de três a quatro minutos, em caso de tentativa de roubo. A paralisação ocorre por perda de potência e não afeta a dirigibilidade do veículo, segundo a empresa.

O bloqueador sem fio é constituído de dois módulos eletrônicos instalados no veículo, um ligado ao sistema de rastreamento e outro que fica oculto no motor.

“A grande diferença é que a imobilização T4S não é reversível em pouco tempo, como hoje conseguem fazer os ladrões. Seriam necessárias duas horas para a desativação do bloqueio, tempo para provocar a desistência dos criminosos”, declarou Rebuzzi.

Segundo ele, o bloqueador pode ser acionado remotamente em qualquer tentativa de invasão de cabine, parada do veículo em local não previsto ou desvio da rota predeterminada pelo gerenciamento de risco. Em casos de utilização de “jammer” (aparelho que neutraliza o sinal de GPS), violação do veículo ou retirada do sistema de rastreamento, o acionamento do bloqueador é automático.

Lançado em maio do ano passado, o bloqueador T4S teve investimento de R$ 1,8 milhão. Custa R$ 1.499 e pode ser implantado em qualquer veículo, até em carros de passeio. O faturamento e o lucro da empresa não foram revelados.

A empresa informou que deu entrada no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) com os pedidos de patentes dos dois produtos: bloqueador e blindagem elétrica. O bloqueador já foi homologado na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

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