Demanda por câmeras corporais para seguranças cresce na rede privada

Os aparelhos têm ajudado empresas a solucionar conflitos entre clientes e funcionários e contribuem para a investigação de crimes. Uma empresa de segurança registra aumento de 20% ao ano nos pedidos

Quatro criminosos entraram em uma loja de celulares dentro de um shopping em São Paulo. Ao verem dois seguranças se aproximando, eles fugiram levando os aparelhos. Os vigilantes, cada um em um veículo de duas rodas, passaram a perseguir os quatro pelos corredores e pelo estacionamento do centro comercial.

Toda a ação foi filmada e transmitida em tempo real para a central de monitoramento pelas câmeras acopladas no uniforme dos seguranças.

“Cada um foi para um lado, nós conseguimos abordar um deles. Por uma estratégia de inteligência interna, conseguiram descobrir os outros três, e eles também foram detidos”.

Quem conta é o porta-voz da empresa de segurança Verzani & Sandrini, que presta serviço para o shopping center, Renato Rosseto:

“Como tinha toda a sequência das imagens gravadas, serviram inclusive de prova para autoridade policial realizar o indiciamento, para não dizer que não eram as pessoas que estavam roubando a loja”, afirma.

Enquanto são motivo de amplo debate na esfera da segurança pública, as câmeras corporais também vêm ganhando adesão na iniciativa privada.

A empresa de segurança Verzani & Sandrini diz que a procura tem crescido 20% ao ano. Atualmente, 30% a 40% dos clientes usam os equipamentos:

“Nós temos bodycams em grandes centros comerciais, em shopping centers, indústrias, ali no trabalho de abordagem nas portarias, revista de veículos, quando é necessário. Hospitais principalmente em áreas de eventuais tensões, tipo pronto-socorro, pronto-atendimento. Centros logísticos também numa eventual revista de carga, de porta-mala, então a gente usa isso como registro”, explica.

Dentro de supermercados

Em novembro do ano passado, o grupo Carrefour concluiu a implantação de 4 mil câmeras nos uniformes de 6 mil fiscais próprios e seguranças terceirizados. De julho a dezembro, os incidentes caíram 30% nas 150 lojas testadas.

O diretor-executivo de Transformação do Carrefour, Marcelo Tardin, diz que as imagens e áudios ajudam a solucionar principalmente discussões entre funcionários e clientes:

“Um cliente que reclamou com o diretor de loja que o colaborador foi rude ou o xingou, por exemplo. Esse é um dos casos comuns de discordância verbal. A gente consegue ouvir imagem e som e perceber quem começou a agressão, quem subiu o tom de voz, quem xingou quem primeiro”, explica.
A partir da análise das imagens, a empresa toma atitudes que podem passar pela reciclagem dos funcionários ou até a demissão, nos casos mais extremos.

O registro também pode proteger o trabalhador. Recentemente um grupo de jovens estacionou o carro em uma vaga reservada para idosos em uma loja do Carrefour em São Paulo.

Depois de serem orientados por um segurança, os clientes tiraram o veículo, mas durante toda a abordagem foram desrespeitosos e ainda registraram queixa com a gerência na tentativa de intimidá-lo.

Por meio das gravações, ficou evidente que o profissional agiu dentro das normas e foi vítima do grupo.

Prós e contras

A segurança Márcia de Brito Galvão, que trabalha como vigilante em um banco, concorda que as câmeras podem ajudar a proteger o próprio profissional:

“Algumas vezes somos questionados sobre a nossa forma de tratamento e muitas outras coisas. Falam que fomos mal-educados, que deixamos de ser profissionais. São várias situações que ocorrem, então seria um ponto positivo na área da segurança até para a nossa defesa”, afirma.
Já o segurança Márcio Santos, na área desde 2016, teme uma possível falta de privacidade:

“Tira muito a privacidade da gente, então eu acho desnecessária a câmera. Mas, se for, tem que usar, infelizmente”, lamenta.
As empresas realmente têm o direito de determinar o uso dos equipamentos pelos funcionários, como parte do uniforme.

O professor Fabiano Zavanella, membro da Comissão de Advocacia Trabalhista da OAB São Paulo, ressalta, no entanto, que o empregador deve garantir a privacidade e deixar claro na política interna o objetivo do monitoramento:

“Quando o empregado utiliza o banheiro, ou eventualmente o vestiário, ou quando ele vai sair para o seu almoço no refeitório. São espaços de maior privacidade e que, portanto, não devem ser filmados em nenhuma hipótese. Isso tem que ficar muito claro nessa comunicação que é feita pelo RH, que tem a sugestão do jurídico, cuidados de proteção de dados e algum tipo de supervisão para que esses empregados não se esqueçam de tomar todos esses cuidados”, diz.
A maior qualidade das imagens e do áudio em relação às câmeras de monitoramento comuns também demanda maior cuidado com a privacidade.

Nos shoppings

O Shopping Iguatemi Bosque, em Fortaleza, começou a adotar os equipamentos em julho do ano passado. As câmeras são usadas por 11 inspetores apenas quando há alguma ocorrência mais delicada, como discussões ou denúncias de furto.

O superintendente do shopping, Wellington Oliveira, explicou que as imagens ficam armazenadas em um servidor sem acesso à internet e que elas só são retiradas com autorização de acesso eletrônico:

“Imagem de cliente é preservada em servidores exclusivos que não têm acesso à internet para evitar desvio de imagem. Qualquer imagem só sai do shopping com ordem judicial ou policial. Não é qualquer imagem que sai, a gente não sai mostrando para todo mundo. A gente preza muito pela imagem do cliente e do colaborador que está usando esse tipo de equipamento”, afirma.
Assim como no monitoramento de ambiente, as empresas devem proteger as imagens produzidas pelas câmeras corporais, que, em geral, são descartadas depois de 30 dias.

O registro não depende de autorização dos consumidores. Em caso de vazamento, as empresas podem sofrer punição na esfera civil ou até criminal, dependendo das consequências.

Fonte: CBN Globo

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