Narcocidade maravilhosa: o Rio de Janeiro é um oásis de problemas ou um deserto de soluções?
Por Carlos Guimar
Tentar fazer uma associação de ideias e buscar entender além de uma narcocidade, e sim um narcoestado como o do Rio de Janeiro, não é tarefa simples e deixa muitas lacunas.
Como justificar mentalmente que onde existe praia, sol, Maracanã, futebol e inúmeras outras possibilidades para uma vida feliz, além de um Réveillon e uma folia carnavalesca que regista 1,4 milhão e 2,1 milhões de turistas, respectivamente, esteja nas manchetes apenas pelas chamadas policiais.
Infelizmente estamos falando de um Estado falido financeiramente pela má gestão e corrupção, que falha em suas políticas públicas por não promoverem segurança, saúde, educação, cultura, empregabilidade e habitação, que são pilares básicos. A ausência dessas iniciativas promove a desordem urbana e tornam o Rio de Janeiro uma terra sem lei e um terreno fértil para crimes.
O descontrole é tão grande que terrenos públicos são comercializados de forma aberta por marginais em redes sociais; áreas de preservação ambiental são destruídas para a construção de prédios residenciais irregulares; ruas e calçadas somem do mapa porque são ocupadas para a construção de moradias; e empresas de ônibus encerram e abrem seus serviços de acordo com suas vontades. São inúmeras as questões!
Agora, vemos um agravante real com os movimentos eleitorais que se iniciaram. Neste aspecto, se faz necessário o cuidado em virtude das permissividades na busca de votos, que criam mais riscos à vida de todos. Quem de fato irá fazer algo para a segurança pública, por exemplo, e o que fará? Lembro que as diferenças antes tiradas em palanques foram trocadas por assassinatos e garantias de ser eleito pelo voto da ameaça e do medo. O crime organizado, em todas as suas frentes, tem seus representantes. Estes eleitos é que irão garantir a nossa segurança? Vale para cada cidadão pesar este ponto no seu voto.
Nesta desordem, os indicadores de violência apresentados recentemente aparecem demonstrando queda, mas é preciso ter cuidado nesta análise, pois devido à pandemia há uma real subnotificação. Ainda nos números, temos os crimes contra à vida registrando 741 vítimas somente nos cinco primeiros meses de 2020, equivalendo a quase cinco pessoas mortas diariamente no RJ somente quando falamos em confronto com agentes do Estado. Confrontar com inteligência se faz necessário e urgente.
Pela complacência, o crime passa a valer a pena na cabeça de alguns e trago aqui a necessidade de análise sobre a falta de estrutura investigativa e o modelo de audiência de custódia que foi implementado. E, nesta discussão, o que antes se voltava ao combate apenas ao narcotráfico, passamos a somar as milícias e, agora, temos as narcomilicias, ou seja, milícia e tráfico se uniram para realizar suas práticas maléficas em conjunto a partir das “boas práticas criminosas”.
Em meio a toda essa realidade, ainda temos que ter cuidado de usar um simples aplicativo de localização, necessário em toda grande metrópole. Neste caso, é preciso adicionar conhecimento das zonas conflagradas (conhecidas como faixas de gaza) e como elemento fundamental saber se irá poder passar pelas diversas barricadas. O Rio de Janeiro não é para amadores…
Trata-se de um território em que cada um impõe a sua regra ditando desde horários a cores que podem ser utilizadas. Logo, se cada um dita sua regra, podemos entender que temos Estados dentro do Estado ou então que é uma terra sem lei.
Investimentos? Novos Negócios? Vale a pena? Talvez a resposta esperada seja não. Vemos muitas empresas indo embora, mas vale a pena refletir sobre permanecer, porque há potencial na cidade e quem se estabelece de forma estruturada cresce.
Estar estruturado é ter dentro dos seus processos a segurança como um pilar. Portanto, a dica é ter um parceiro que saiba caminhar e conduzir de forma segura o negócio para trazer lucro. Partindo desta premissa, podemos afirmar que os negócios baseados em projetos de segurança em toda a sua malha de produção se tornaram eficientes e rentáveis. O processo deve envolver todos os riscos controlados para as pessoas envolvidas, os ativos e a imagem do negócio. Os números comprovam que o retorno deste investimento existe.
Nesta lógica de partida de algumas empresas, quem aposta ficar ou vir tem mercado garantido. Ter segurança é ter produtividade e lucratividade certa. Lembre-se que no caos existem oportunidades interessantes. A cidade se bem cuidada é realmente maravilhosa e rentável.
Há solução? Alguns dizem que é preciso começar de novo, mas vamos entender alguns caminhos. É parar de tentar resolver tudo com polícia, assim como deixar de culpar a polícia por tudo é coerente. O próprio Estado erra quando deixa estabelecer o caos em diversas situações e sugere ação da segurança pública para equacionar. A segurança pública pede uma polícia cidadã, com o propósito de servir e que seja treinada e tolerante. Precisamos de um sistema de ciclo completo de polícia, que deve ser reconhecida, valorizada e com autonomia. Se separarmos a polícia da política teremos rapidamente um ambiente que se pode respirar sem aparelhos.
Tratar os problemas nos seus canais específicos também é inteligente. A falta de saúde e educação podem se tornar um caso de polícia, mas se forem fornecidos com qualidade ao povo, com certeza não o serão. É preciso uma inteligência trabalhando em conjunto com as políticas de Estado nos campos sociais e de segurança pública. Isso significa ter políticas de Estado, que atende ao povo e tem continuidade, e não de Governo, passível de atender apenas aos interesses.
Neste sentido, o social deve ser tão consistente a ponto de ter prazo para deixar de ser assistencialista. É preciso conhecimento, empreendedorismo e benefícios fiscais. Não podemos nos acostumar e aceitar o ilícito e a intolerância com a desordem deve ser regra, por isso precisamos nos atentar para a força do voto. E, enquanto isso, o Rio de Janeiro continua lindo, mas…
Carlos Guimar é especialista em segurança pública e privada e diretor associado de segurança empresarial na ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense.
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