Florianópolis como uma Cidade Inteligente
Cidade de Florianópolis cria laboratório a céu aberto para soluções que visam tornar a cidade mais inteligente. Programa reúne empresas de diversos segmentos para implantar, testar e validar soluções tecnológicas que proporcionem melhor qualidade de vida para os cidadãos e visitantes da cidade e que tornem os serviços urbanos mais eficientes
Por Fernanda Ferreira
Cidade Inteligente (Smart City) é um assunto que tem sido bastante debatido em fóruns e convenções, e tem despertado cada vez mais o interesse do governo, das empresas privadas e da população. Esse conceito apresenta uma cidade conectada, tecnológica, 100% sustentável e funcional, que garante aos cidadãos qualidade de vida, crescimento econômico, melhoria da sustentabilidade e dos serviços urbanos através da tecnologia, levando em consideração principalmente os setores de mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, inovação, economia, educação, saúde e segurança.
O assunto começou a ser discutido em meados de 1990 com o protocolo de Kyoto – em um momento em que municípios de diversas nações se comprometeram em reduzir a emissão de gases do efeito estufa e passaram a se apoiar em soluções de Cidades Inteligentes para concretizar suas metas ligadas à sustentabilidade e aos desafios da mudança climática –, mas só ganhou destaque efetivo no ano de 2010, quando diversas empresas de TI, como IBM, Cisco, Siemens e Ericsson, voltaram seus interesses a esse nicho, criando soluções personalizadas para o mercado de Smart Cities.
O aumento das taxas de urbanização também tem contribuído para a implantação de projetos de Cidades Inteligentes em diversas regiões do mundo. Segundo a ONU, estima-se que até o ano de 2050, mais de 70% da população mundial estará vivendo em cidades. Também é estimado que em menos de 15 anos, 40% das cidades sejam inteligentes. São municípios onde a tecnologia vai ajudar a melhorar a saúde, a economia, a segurança e o transporte dos cidadãos.
“As Cidades Inteligentes podem ser verdadeiros laboratórios para desenvolver, testar e aperfeiçoar nosso novo estilo de vida”, explicou (em uma palestra para o TEDx) Renato de Castro, idealizador e CEO do projeto City SmartUp, que tem como objetivo promover promoção, negócios e investimentos entre Cidades Inteligentes.
Seguindo essa tendência, Florianópolis deu um importante passo para tornar-se uma Cidade Inteligente. A Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE), a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF) e a Prefeitura firmaram um convênio em 2017 para desenvolver um Laboratório de Inovação Urbana. A primeira etapa do projeto foi aplicada na Rua Vidal Ramos, localizada no Centro da cidade, onde foram instalados roteadores Wi-Fi e câmeras inteligentes da Intelbras, que podem ser acessadas de qualquer dispositivo pelos comerciantes e órgãos de segurança pública através do D-Cloud da Seventh, solução para armazenamento e gerenciamento de imagens em nuvem, que além de gravar, proporciona segurança em caso de falha, roubo ou sabotagem dos equipamentos, e acesso simultâneo e compartilhamento das imagens.
“Inovação faz parte do DNA da Intelbras. Investimos 6% do nosso faturamento em inovação e pesquisa, resultando em produtos e soluções inovadoras e de alta qualidade como os utilizados na Rua Vidal Ramos”, afirmou Renan Antoniolli, executivo comercial de Soluções & Projetos da Intelbras. “Por sermos uma empresa catarinense, é muito gratificante trabalhar neste projeto tão importante para a capital em parceria com a ACATE, a ACIF e a Prefeitura de Florianópolis. Temos certeza que o programa continuará trazendo muitos benefícios para a cidade e os cidadãos”, complementou o executivo. Equipamentos e soluções de alta tecnologia desenvolvidos pela Intelbras e ligados à Inteligência Artificial, como câmeras que realizam reconhecimento facial e de placas de veículos e motocicletas, serão utilizados nas próximas etapas do projeto.
O município de Florianópolis deve alcançar 800 mil habitantes até 2035 e hoje, com 469 mil, já enfrenta vários desafios. De acordo com o Índice de Cidades Empreendedoras 2016, da Endeavor, alguns dos principais gargalos estão relacionados a desenvolvimento urbano sustentável, mobilidade, gestão de resíduos, crise fiscal e financeira, digitalização dos serviços públicos e tempo para abertura de empresas. Sendo um dos principais polos tecnológicos do Brasil, o município tem capacidade de solucionar essas dores e ser reconhecido como uma Cidade Inteligente.
“Nós escolhemos a Rua Vidal Ramos para o projeto piloto porque seus lojistas e moradores já são muito organizados. Eles conseguiram que a rua fosse revitalizada e hoje ela é um modelo de urbanismo para a cidade”, explicou Thaís Nahas, diretora de Negócios Inovadores na Prefeitura de Florianópolis e coordenadora do Programa Living Lab Florianópolis. O objetivo foi tornar a rua mais inteligente e lançá-la como um modelo para o Brasil ao implantar no local as tecnologias de ponta de empresas da região, fortalecendo também a economia local.
“Foi um projeto que, além de levar os benefícios da tecnologia para os comerciantes e moradores, deu mais visibilidade para a rua, aumentando a circulação de pessoas. A iniciativa ainda visou difundir a cultura de inovação – muito forte dentro das empresas – entre os cidadãos de Florianópolis, tornando a cidade cada vez mais competitiva e com uma economia mais forte”, ressaltou Diego Ramos, diretor da Vertical Conectividade da ACATE.
A primeira etapa do Laboratório de Inovação Urbana foi viabilizada pelas empresas do setor tecnológico, que cederam suas soluções ao projeto: a Unifique Telecom forneceu toda a conectividade; a Intelbras as câmeras; a Seventh concedeu as licenças do software de Gestão e Análise de videomonitoramento, além do aplicativo para que os lojistas possam se automonitorar; a Khronos prestou o serviço de instalação e a Teltec Solutions os equipamentos Access Point para o Wifi.
“Utilizamos o Laboratório de Inovação Urbana, que é um projeto de Smart City de Florianópolis, para desenvolver e testar as nossas soluções, mais especificamente o D-Cloud. Para nós foi uma oportunidade de adicionar novos recursos e adaptar o sistema para a tecnologia de Smart Cities, enquanto podemos ajudar a melhorar a qualidade de vida da nossa própria cidade, onde moramos e onde fica a matriz da Seventh. Florianópolis atualmente é um importante polo tecnológico, conhecido como a “Sillicon Valley” brasileira, chamada também de “Ilha do Silício”. Para a Seventh, contribuir para que a cidade de Florianópolis seja cada vez mais uma Smart City significa estar na vanguarda da tecnologia mundial, da inovação com tecnologias recentes, que atendam à demanda desse mercado”, falou Carlos Schwochow, diretor Seventh.
Para Marcus Rocha, superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação de Florianópolis, o projeto é muito positivo para a Prefeitura, pois conseguiram diversas câmeras ligadas a custo quase zero, proporcionando monitoramento local onde não havia acesso. “A intenção foi transformar Florianópolis em um laboratório a céu aberto para a inovação. A ação na Vidal Ramos foi o projeto piloto do atual Living Lab Florianópolis. Nosso objetivo é viabilizar mais projetos de inovação que impactem em questões urbanas da cidade”, afirmou Rocha.
Rosângela Macedo Coelho, diretora da Regional Centro da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF), tem uma loja na Vidal Ramos há mais 20 anos e acompanhou todo o processo de revitalização e reforço na segurança da rua. “Para nós, que já vivemos momentos de muita insegurança, medo da violência e sofremos com os prejuízos de furtos frequentes, iniciativas como essa trazem esperança e confiança de impulsionarmos os negócios”, contou.
A caminho da inovação
A segunda etapa do programa, chamada de Living Lab Florianópolis, foi desenvolvida em conjunto com a Universidade Federal de Santa Catarina, sendo uma das ações estratégicas da Rede de Inovação Florianópolis, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF) e a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE). No segundo semestre de 2018 foi aberto um edital público chamando soluções tecnológicas e inovadoras para serem testadas na cidade. “Aproveitamos a vocação que a cidade tem para tecnologia para darmos oportunidade para as empresas virem para cá e testar os seus produtos em um cenário real. Muitas vezes testar a solução em um ambiente muito controlado não gera indicadores e um resultado preciso”, explicou Thaís Nahas.
Especialistas em diversas áreas, acadêmicos e representantes da Prefeitura, como Guarda Municipal e Secretaria de Segurança, avaliaram e selecionaram ao longo de dois meses as soluções inscritas que fariam parte do projeto, levando em consideração o perfil do empreendedor, afinidade da solução com as temáticas do Living Lab, a viabilidade de implementação da solução para testes, capacidade de produção do piloto, entre outras características.
Ao final, foram escolhidas dez empresas que introduziram suas soluções por toda a cidade e até julho deste ano, esses equipamentos serão testados e acompanhados por uma equipe de consultores e a Prefeitura.
Entre as selecionadas, há empresas de segurança com ênfase em monitoramento e controle de acesso; sensoriamento para o monitoramento do tráfego de veículos e gestão de vagas de estacionamento; automação residencial e predial para monitorar incêndios e notificar autoridades responsáveis; automação para medição, corte e religamento da energia elétrica e iluminação pública inteligente; hotspot de internet com plataforma de mídia para ambientes públicos com fluxo de pessoas; veículos elétricos para aluguel e compartilhamento, entre outros.
“Tentamos conectar o máximo possível de pontos, pois cada um pode colaborar de alguma maneira. Isso é muito bom, pois traz um viés de inovação. No futuro queremos colocar mais serviços, como um sistema de reconhecimento facial, para qualificar a questão da segurança, por exemplo. Há uma demanda para criarmos, por meio da ACATE e envolvendo outras entidades, um cluster de Smart City na cidade”, disse Diego Ramos.
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